Depois de vários anos afastados, os Excesso (Gonzo, Carlos, Melão, Duck e João Portugal) reuniram-se para trazer de volta o final dos anos 90, altura em que deixaram bem vincada a sua marca na música em Portugal.
O grupo de sucesso vai subir ao palco da Altice Arena esta sexta-feira, dia 19 de maio, e no próximo dia 17 de junho subirá ao palco da Super Bock Arena, no Porto, prometendo que será um espetáculo memorável que está a ser trabalhado desde o início do ano.
Logo a abrir a semana, e na reta final dos ensaios, a banda foi entrevistada pelo Fama ao Minuto e hoje, na véspera do primeiro concerto que vai fechar um ciclo, partilhamos a conversa que tivemos com aquela que foi a primeira boyband portuguesa.
Como correram e estão a correr os ensaios?
Duck: Têm corrido bem. Obviamente, naquela fase inicial tínhamos as coisas montadas e preparadas, mas há sempre ajustes a fazer. Aliás, acho que até à fase final vai sempre haver ajustes a fazer. Mas já chegámos ao ponto em que temos o espetáculo montado, já nos sentimos preparados para o dia 19, o que é importante.
Nunca deixei a chama apagar a 100% e é a razão pela qual estamos aqui também. Isto tinha de acontecer
E, pelo que percebi, foi mais fácil recordar as letras das músicas do que as coreografias...?
João Portugal: Da minha parte foi! As duas coisas… Foi difícil porque são muitos anos que não estamos juntos e depois, além das músicas que vamos cantar, vão existir algumas alterações musicais. Tivemos de estar bastante tempo com ensaios juntos para a coisa ficar limada… Agora estamos na reta final, ainda temos alguns ensaios até ao dia 19, mas são, sobretudo, ensaios gerais e estou contente com o resultado.
O Duck foi quem impulsionou este regresso… Tentou manter sempre o contacto com os restantes elementos da banda para que conseguisse o retorno?
Duck: Ao longo destes últimos 22/23 anos, mais com uns, menos com outros, mas sempre estive em contacto. Aliás, eles também. Um bocadinho uns para a esquerda, outros para a direita, mas sempre mantivemos contacto. Nunca deixei a chama apagar a 100% e é a razão pela qual estamos aqui também. Isto tinha de acontecer. Não os ia largar enquanto isto não acontecesse. Agora se eles quiserem fugir, já não fogem.
Como foi este reencontro? Reviveram muitas memórias…?
Duck: Estamos a reviver. Está aqui um misto de emoções e de recordações. Obviamente que nos puxa aqui a nostalgia e dá uma lágrima ou outra, o que é normal, mas é super bom estarmos a viver e reviver tudo isto.
Estar na casa dos 20 e poucos anos e teres "o mundo aos teus pés" é inevitável não deslumbrar um pouquinho
Sentem que na altura marcaram por terem sido a primeira boyband em Portugal?
Carlos: É com o coração cheio de alegria que digo que sim. Qualquer cantor, músico, pessoa que gosta de contribuir com o seu trabalho, gosta que o mesmo seja reconhecido. E esse reconhecimento por ter sido a primeira boyband, pela qualidade musical que ao longo dos anos, na verdade, tem vindo a melhorar - permite-me a falta de modéstia -, tenho a certeza que as pessoas que vierem à Altice Arena e à Super Bock Arena vão poder constatar que os Excesso melhoraram. Os anos têm sido benévolos para connosco e o facto de termos marca: contribuímos não só para aquelas gerações que sucederam a nível musical, como também ainda hoje. Ouvimos pessoas a falarem em nós e isso é a prova da forma como nós marcámos o panorama musical em Portugal.
Como foi gerir toda aquela fama na altura em que se lançaram como banda?
Melão: Como deves calcular, estar na casa dos 20 e poucos anos e teres "o mundo aos teus pés" é inevitável não deslumbrar um pouquinho. E houve esse deslumbre, mas não foi um deslumbre maluco. Foi uma coisa que foi tão controlada, até porque tínhamos um excesso de trabalho gigantesco. E, na realidade, acabámos por não desfrutar verdadeiramente. Foi como o Gonçalo [Gonzo] costuma dizer, nós estivemos dentro de um Ferrari a 300 quilómetros à hora numa estrada nacional e, de vez em quando, olhávamos para o lado e só víamos as árvores a esvoaçar, basicamente. Foi um pouco isso que aconteceu. Foram três anos com uma intensidade que muita gente não vive em 20 ou 30 [anos].
Na altura, quando estávamos para sair, muita gente disse que um projeto destes nunca ia resultar em Portugal
E o facto de serem um grupo grande ajudou porque estavam todos a viver a mesma experiência e podiam fazer essa partilha uns com os outros, ou também houve muita discórdia por haver personalidades distintas?
Melão: É um casamento a cinco. [risos]
Gonzo: Sim, principalmente porque temos personalidades muito diferentes. Aquilo que nos traz a magia é, se calhar, aquilo que às vezes nos traz os problemas. Mas é como o Melão disse, são coisas que são normais num relacionamento. As pessoas têm é de dar a volta por cima, serem sinceras com elas mesmas e com as pessoas que estão à volta, como num relacionamento. E quando tem lógica estarem, estão, se não tem lógica estarem, não estão.
Melão: Isto foi sempre tão genuíno que nós às vezes num olhar nos zangamos em palco e, no mesmo palco, fazíamos as pazes. E hoje em dia é tão genuíno, é tão verdadeiro o que sentimos, o que queremos entregar ao público é tão sentido e verdadeiro que não há palavras que descrevam o sentimento. É incrível.
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Hoje em dia, tendo em conta as plataformas que existem e as redes sociais, seria mais fácil ou menos conseguir uma banda de sucesso como foram os Excesso?
Duck: Na altura em que aparecemos não havia redes sociais, mas também no mercado da música em Portugal não havia nada do género. Surgiu esta oportunidade e nós agarrámos com unhas e dentes, e fizemos as coisas acontecer. Se hoje ia ser diferente? Acho que não porque na altura aquilo foi o que tinha de ser e aconteceu como tinha de acontecer. O facto de não haver redes sociais na altura, por um lado, se calhar ainda bem [risos], e por outro, se calhar, tinha impulsionado mais a banda e o projeto em si – porque as redes sociais têm a força que têm. Mas também as gerações eram outras, o pensar era diferente, as coisas não estavam tão evoluídas... Acho que nós na altura, aquilo que fizemos, fizemos muito bem e muito à frente da forma como as coisas existiam em 97. Saímos um bocadinho fora da caixa.
Gonzo: Em todas as fases as pessoas dizem sempre que não dá por isto ou por aquilo. Lembro-me na altura, quando estávamos para sair, muita gente disse que um projeto destes nunca ia resultar em Portugal.
E não tiveram logo um sim…?
Gonzo: Exatamente. Há sempre aquelas opiniões negativas a dizer que 'isto não funciona cá', como agora também - 'se calhar não porque já há muita coisa e então não funciona'. Quando o produto é bom, funciona sempre.
Estamos a preparar-nos com dignidade, muito esforço, consistência e respeito por aqueles que gostam dos Excesso
Acredito que viveram muitos insólitos e são muitas as recordações, mas conseguem partilhar um momento que viveram na altura?
Duck: O João esqueceu-se uma vez de um espetáculo. Os espetáculos eram especialmente todos à noite e andávamos tão cansados, que saímos de um espetáculo às tantas da noite e no dia a seguir tínhamos uma matiné – mas num pavilhão, uma coisa enorme. A maior parte das vezes andávamos numa carrinha, outras vezes com os nossos carros, e nessa altura coincidiu o João fazer a viagem no carro dele. Chegámos ao local do espetáculo, o João não atendia o telefone e fizemos o espetáculo os quatro, o João nem chegou a aparecer. Quando ele acordou, viu uma carrada de chamadas não atendidas e ligou para o nosso manager. O manager perguntou onde é que ele andava e o João disse que tinha acabado de acordar. O manager disse que tínhamos acabado o espetáculo. [risos]
Como vocês dizem, este espetáculo em Lisboa e no Porto é o fechar de um ciclo. O que gostavam que os vossos fãs dissessem no fim, como é que gostavam que este ciclo fechasse?
Melão: Queremos mais.
Carlos: Acho que essa frase reflete tudo. Reflete os nossos desejos porque o 'queremos mais' significa que não só gostaram, como cumprimos a nossa missão. É muito mais do que a nostalgia, muito mais do que o regresso, que o recordar das memórias. É o facto de que vamos permitir àquelas pessoas e às novas gerações assistirem àquele que vai ser o melhor espetáculo dos Excesso, e não temos dúvidas pelo esforço que temos vindo a fazer e pela dedicação que temos tido.
É um facto que desde janeiro estamos a trabalhar exclusivamente para estes dois espetáculos, e não estamos a dedicar uma carreira contínua como muitos outros artistas, mas isso não nos tira valor. Acho que isso, na verdade, adiciona-nos algum valor, que é o facto de não estarmos a fazê-lo, mas vamos fazê-lo e estamos a preparar-nos para tal com dignidade, muito esforço, consistência e respeito por aqueles que gostam dos Excesso.
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