Pedro Crispim tem 46 anos e é uma das caras incontornáveis da moda nacional. Este universo é a sua ocupação profissional principal onde o styling, a consultoria e a formação têm o protagonismo.
Pedro é também um homem da comunicação. Talvez por isso, o pequeno ecrã sempre foi para si outro fascínio desde que deu os 'primeiros passos', em 2005, no programa da SIC, 'Esquadrão G'.
Através deste projeto aliou duas paixões: a moda e a televisão. Depois desta rampa de lançamento, surgiram várias oportunidades dentro do papel de comentador. As suas opiniões, sempre incisivas, diretas e com um toque de humor tornaram-se na sua imagem de marca.
Neste momento está afastado - desde o fim de 2024, por opção própria - da caixinha mágica e garante que já não se ilude com nada. Sabe o seu valor e merece uma oportunidade para voos mais altos. O 'Rei da Bobagem' deu uma entrevista ao Fama ao Minuto, numa conversa onde se fala de passado, presente e futuro.
Estou, desde 2005, a fazer televisão e, de repente, estou ao lado de pessoas que saíram há 20 minutos do reality e estão ali sentados
Neste momento, encontra-se afastado da televisão, do espaço de comentador de reality shows onde deu cartas. O que é feito de Pedro Crispim?
A minha vida há 30 anos que é trabalhar em retalho têxtil e indústria da moda. A nível da consultoria criativa e também, de há uns anos para cá, a nível de fardamentos de unidades hoteleiras. Como a indústria está quase toda a Norte ando sempre de um lado para o outro. Como não fico muito tempo nos mesmos sítios, acabo por não me cansar e não entrar ali numa dinâmica de rotina e de saturação - porque todos os dias são diferentes.
É uma profissão que o faz feliz?
É, e, cima de tudo, porque sou um prestador de serviços. Não tenho contratos com marcas nem com canais de televisão. Isso tem um lado negativo que todos sabemos qual é, mas continuo a colocar na balança e o resultado é mais positivo, a liberdade.
Não dava para viver de fazer editoriais e moda e a vestir figuras públicas na passadeira vermelha, porque muitas das situações são de borla. Não é isso que me paga as contas
Sente-se completo em termos profissionais ou há mais sonhos, objetivos e desejos por concretizar?
Os meus objetivos vão sendo delineados sem romantizar. Já romantizo muito pouco o que me rodeia. Gosto é de ter os pés assentes no chão. Não me iludo e não vivo de expectativas e isso, de certa forma, protege-me. Foi algo que fui aprendendo. Percebi que, muitas das vezes, as coisas acontecem mas não têm a ver com o nosso trabalho, o nosso mérito, o nosso empenho. Tem a ver com outro tipo de nuances que nos passam ao lado.
Se eu deixo de comentar um reality, deixo de fazer televisão. Ou seja, não existem mais projetos em televisão para mim. Não sou chamado para fazer mais nada
Está a falar da sua carreira em televisão?
Estou a falar de alguns projetos até a nível de moda. Aos 46 anos de idade, como manequim, por exemplo, sei que não vou fazer nenhuma carreira internacional. Então a vida vai acontecendo, direcionando. Percebi também que é aqui que estou a arrumar as gavetas todas, não dava para viver de fazer editoriais e moda e a vestir figuras públicas na passadeira vermelha, porque muitas das situações são de borla, de parcerias.
Aos 46 anos não é isso que me paga as contas. Vais arrumando muito bem tudo... não quer dizer que seja um processo fácil, mas é o que faz mais sentido. A nível televisivo é exatamente a mesma coisa. Se eu deixo de comentar um reality, deixo de fazer televisão. Ou seja, não existem mais projetos em televisão para mim. Não sou chamado para fazer mais nada, o que quer dizer que, no minuto em que eu deixe de fazer um reality, por algum motivo, não tenho mais nada televisivamente.
Não é nenhuma indústria, nem da moda nem da televisão, que me vai fazer sentir o contrário daquilo que sei que valho, daquilo que sei que acrescento
Isso deixa-o triste, saber que não o chamam para outros projetos?
Acho que é uma coisa que fica arrumada. Quando nasces para trabalhar em determinadas áreas chama-se vocação. E tu podes dar as voltas que queiras mas depois vem 'o bichinho'. Não quer dizer que deixe de saber aquilo que valho. Nem por um milímetro me belisca. Sei perfeitamente o que valho. Não é nenhuma indústria, nem da moda nem da televisão, que me vai fazer sentir o contrário daquilo que sei que valho, daquilo que sei que acrescento.
Se queres marcar uma reunião com alguém, ninguém se senta contigo a falar. Queres falar com alguém que está à frente de projetos, ninguém tem tempo para te ouvir
No outro dia, fiz um post onde lamentava os profissionais que resistiam ao espaço dado à mediocridade em televisão. Surgiram pessoas que tiraram ilações daquilo e que até me disseram que devia ter feito isso no sítio certo. Mas qual é o sítio certo? Se queres marcar uma reunião com alguém, ninguém se senta contigo a falar. Queres falar com alguém que está à frente de projetos, ninguém tem tempo para te ouvir. Vais dar uma entrevista para uma revista? Para isso escreves tu na tua página, em primeira mão.
Estamos a viver uma altura no mundo e no país em que as pessoas estão muito menos exigentes e isso faz com que o produto que lhes é entregue cada vez é menos exigente. Estou desde 2005 a fazer televisão e, de repente, estou ao lado com pessoas que saíram há 20 minutos do reality e estão ali sentados. Não sou mais do que ninguém, estamos todos no mesmo patamar. Mas se eles têm a legitimidade de sonhar, eu também tenho.
Isso leva-o a esmorecer em relação ao meio televisivo?
Claro. Todos aqueles que agora coordenam e que têm uma palavra a dizer, todos aqueles que direcionam e estão à frente já estiveram noutras posições. E esses tiveram que ser potenciados, mostrados, apresentados. Eu não sou de complicar processos, sou de facilitar processos.
Outra coisa que tenho é que eu não sou de andar atrás, não sou de pedir. Os meus pais trabalharam, são funcionários públicos e os lugares deles eram atribuídos por mérito, porque faziam mais formações... E, neste momento, as coisas não são assim em nenhuma indústria. Então, isso faz com que tu não saibas que ferramentas utilizar porque é normal tu cresceres, tu ascenderes a outro tipo de desafios e de estímulos. Se tu andares ali em círculos, vai moendo e resolves parar.
Gostava muito de progredir no sentido de ter outros desafios para além de ser comentador
O que é que sonhava fazer em televisão?
Em 2025 faz vinte anos deste toca e foge televisivo. Mesmo de forma pontual, por vezes, ou mais assídua, mesmo de forma mais discreta, tenho muito orgulho de todos os projetos dos quais fiz parte. Gostava muito de continuar na base do entretenimento, gostava muito de progredir no sentido de ter outros desafios para além de ser comentador, o que não quer dizer que queira deixar de ser comentador, não. É algo que me dá prazer e com o qual me divirto. Levo sempre a diversão onde quer que vá, porque isso é a minha matriz de trabalho.
Mas acho que já existia aqui tempo e espaço e eu já tive aqui muitos estágios, por assim dizer, para me poder ser confiado um projeto de entretenimento, fosse onde fosse, na base da moda, do lifestyle, do entretenimento, dos realities. Acho que conseguia agarrar nas rédeas de qualquer um deles. As pessoas dizem: 'As oportunidades és tu quem as crias'. Não, eu só posso fazer o meu trabalho para dar o meu melhor, mais do que isso não posso fazer".
Gostava de fazer um projeto assim em grande?
Eu transformo em grande aquilo que é pequeno. Somos uns 300 comentadores, estou a exagerar, obviamente, e acabo por me distinguir, por criar uma 'persona' televisiva e por criar o meu espaço independentemente do projeto em que estou. Se for para o 'Passadeira Vermelha' tenho a minha impressão digital, não tenho nada a ver com os outros. Se for para um reality, também crio a minha personagem.
Às vezes somos todos arquivados, é-nos dado um rótulo e depois não podemos avançar para mais nenhum lado. Acho que existe uma insegurança em relação às pessoas que se destacam
Independentemente do projeto, acabo por me adaptar e criar essa versatilidade. Não tenho é que estar constantemente em frente a um 'charriot' a mostrar roupa. Já mostrei durante 15 anos, já passou muito tempo.
Sinto que, às vezes, somos todos arquivados: é-nos dado um rótulo e depois não podemos avançar para mais nenhum lado. Acho que existe uma insegurança em relação às pessoas que se destacam. Quando tu, como líder ou como responsável de projeto de empresa elogias alguém, acho que as pessoas sentem uma responsabilidade sobre aquela pessoa. Se me vais elogiar, as pessoas têm medo que, mais tarde ou mais cedo, vás cobrar isso.
Existem muitas pessoas não a trabalhar para o público mas a trabalhar para o próprio umbigo
Isso já lhe aconteceu?
Não, porque eu não sou elogiado. Não dependo dessa validação. O maior retorno - e aquilo que sinto - é que o meu trabalho não é para os diretores, é para o público. Sinto o público na rua, nas redes socais. O retorno que tenho mais direto não é de quem trabalha comigo mas sim do público. O meu trabalho é para chegar ao público.
Noto que existem muitas pessoas não a trabalhar para o público mas a trabalhar para o próprio umbigo. E isso deita por baixo aquilo que devia ser o motor desta indústria, que é chegar ao público que é o nosso cliente final.
Nunca tenho grande vontade de ter feedbacks de responsáveis, porque se não dão é porque não querem dar. Quando o retorno é real e genuíno, ele surge. Não vou andar numa batalha constante porque se andasse vivia a medo. 'Ai, será que me vão chamar'? Durante estes 20 anos ouvi colegas meus com receios, dúvidas e inseguranças... 'Será que vou ser chamado?'; 'Será que a direção sabe quem eu sou?'; 'Será que vou ser convidado para o evento da empresa?'; 'Será que vou ser convidado para o aniversário do canal?' Fico doente se viver assim.
O que é que ainda hoje o fascina no mundo da televisão?
Continuo a trabalhar com o mesmo motor que em 2005, com mais conhecimento e mais experiência. E continua a fascinar-me muito: a missão, os profissionais de televisão terem uma missão que vai além do seu próprio ego. A missão é chegar às pessoas e que elas se sintam as protagonistas. E se, para isso, tiver que virar a boneca e brincar, e pôr cores garridas e lantejoulas e pular para cima do sofá, eu vou fazer isso.
Tem algum projeto a caminho?
Tenho o meu atelier, que abri em 2010, e que se dedica à consultoria criativa de marcas, ao styling, e à consultoria de imagem. Também damos formação dentro dessas áreas. A ideia é ter mais profissionais e ir pelo país com essa missão, chegar às pessoas. Vamos levar formação, estamos a falar também de uma vertente solidária. Esta é a base. É um projeto que vive muito de pessoas, para pessoas e para melhorar a vida das pessoas.
Tive obesidade, já sofri muito bullying na escola, muito agressivo e, para mim, este ponto em que me encontro agora foi conquistado
Ultimamente publica fotografias mais ousadas nas rede sociais, a mostrar o corpo. Sente-se confiante na sua pele?
Sinto-me confiante como nunca me senti. Sinto-me muito mais sexy, hoje, aos 46 anos, mais bonito, do que me sentia. Isto não tem só a ver com o físico, tem a ver com a autoestima, tem a ver com amor-próprio, é muito mais profundo do que isso. Tive obesidade, já sofri muito bullying na escola, muito agressivo e, para mim, este ponto em que me encontro agora foi conquistado.
Sente que esse trauma (do bullying) está ultrapassado?
Ao contrário do que já foi até comentado sobre as minhas partilhas sobre esse assunto, volto a falar nesse tema porque é algo que me é constantemente abordado, em entrevistas, nas redes sociais, mães, miúdos, pessoas que passam pela mesma batalha. Como é algo que as pessoas abordam, também foi algo que ao falar me ajudou a espantar espíritos. Ajudou-me, é um processo.
Gostar daquilo que vejo, olhar com carinho para as minhas estrias é um projeto que não é finito. Existem mil e um gatilhos pelo caminho
Tenho estrias, da perda de peso e, enquanto andei a tentar fazer tatuagens, escolher roupa que camuflasse essas mesmas estrias... eu andei a camuflar-me. E quando andei a camuflar a minha dor e aquilo que me deixava inseguro e desconfortável, não me cuidava. Quando me exponho na praia e em situações diversas, foi um processo até chegar aqui.
É como o ser careca. Começar a ser calvo, para mim, foi também um processo até chegar aqui e sentir prazer em olhar para a minha imagem e não querer fazer implantes. E gostar daquilo que vejo, olhar com carinho para as minhas estrias. É um projeto que não é finito, não é fechado e que existem mil e um gatilhos pelo caminho e que temos que estar atentos a eles. Se este processo de alguma forma puder ajudar alguém e mostrar que aquela pessoa não está sozinho, maravilha. Quando tu te humanizas, permites que as pessoas cheguem a ti e isso é encantador.
Há oito anos que estou com uma pessoa que não tem nada a ver com o meio, temos uma vida juntos. Só não vê quem não quer
Numa entrevista passada, o Pedro assumiu que vivia uma relação há vários anos. A vida privada é algo que prefere resguardar?
Não é algo que explore muito, mas não é uma coisa que esconda. Há oito anos que estou com uma pessoa que não tem nada a ver com o meio, temos uma vida juntos e na realidade só não vê quem não quer. Vamos a todos os lados juntos, estamos sempre juntos. Não tem nenhuma atração pelo meio, não gosta nada de eventos. Não gosta da dinâmica, isto aborrece-o. Respeito muito isso, uma relação também é isto, as pessoas se adaptarem e se respeitarem. Se ele trabalhasse em futebol eu também não quereria ir aos jogos.
É alguém que me acrescenta e é alguém que dá uma estrutura, uma estabilidade e uma solidez e uma sensação de casa, que me faz todo o sentido de há uns anos para cá. A minha vida é tão a mil à hora. Chego a casa e tenho o equilíbrio.
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