São várias as iniciativas que têm sido desenvolvidas desde o fim de semana, o dia em que nasceu o trágico incêndio em Pedrogão Grande, do qual resultaram, até ao momento, 64 mortos e mais de uma centena de feridos.
Entre as muitas ações solidárias está a iniciativa de Mónica Sintra, que conseguiu juntar muitas pessoas, entre elas o ator Ruy de Carvalho e a sua filha, Paula de Carvalho, com quem o Fama ao Minuto entrou em contacto para saber mais sobre este momento de entreajuda.
“Foi a Mónica Sintra. Ela era bombeira, não deixa de o ser no seu espírito, e decidiu fazer um apelo, apelo esse a que eu me juntei, o meu pai se quis juntar, mais atores também, o Paulo Lage e o Miguel Taborda, depois alguns amigos da Mónica, o Marco, o Pedro, a Paula, assim um grupo. O apelo foi tão grande que depois Sintra mandou três camiões de coisas. Foram coisas da Parede, de Lisboa, Alverca, Santarém e acabamos por levar mais de 50 toneladas que nos pediram para enviar para Ansião porque era a zona menos perigosa para nós passarmos até porque íamos chegar muito tarde”, começou por contar Paula de Carvalho.
Mónica Sintra fez o primeiro apelo no domingo e entre domingo e segunda-feira foram vários os bens essenciais que conseguiram reunir em diferentes pontos de recolha: Sintra “essencialmente”, Parede, Alverca, Santarém e Lisboa.
A Ansião, uma vila no distrito de Leiria, chegaram durante a madrugada desta terça-feira três carrinhas, três automóveis e três camiões carregados de bens, sendo que um quarto camião foi enviado mais tarde.
“Ainda foi um camião de Lisboa com os bombeiros lisbonenses carregados de coisas pelo apelo que foi feito pela Filomena Leite Castro, esse foi mais tarde mas eles também entram em sítios que nós não entramos”, explicou.
Quando chegaram ao local estava uma “equipa extraordinária de bombeiros que estavam de serviço mas não estavam no incêndio” que ajudou a descarregar tudo, assim como as pessoas que transportavam os camiões. Aliás, foi partilhado um vídeo nas redes sociais que mostra o momento da chegada desta equipa solidária ao local. “Foi muito bom e uma sensação de pelo menos ter ajudado um bocadinho porque isto ainda não acabou e acho que ainda não conseguimos ajudar tudo”, afirmou.
“Ficaram lá muitas toneladas de água, brinquedos, roupa, medicamentos, de tudo o que é necessário e está a ser pedido”, continuou, contando ainda que eram 4 horas da manhã quando já estava tudo descarregado.
“Mas parece que isto não está bem. Isto já está a ficar pior outra vez, agora na região de Góis”, afirmou Paula de Carvalho, referindo-se ao facto de neste momento ainda haverem várias frentes ativas.
Além dos alimentos para as pessoas que, de uma forma ou de outra, estão a ser afetadas com esta tragédia, levaram ainda “muita comida para os animais”.
Apesar da idade avançada, uma vez que completou 90 anos em março, Ruy de Carvalho fez questão de participar nesta iniciativa, “dando o seu sorriso e apoio”, e esteve presente na entrega dos bens essenciais em Ansião.
“[Ruy de Carvalho] apoiou os novos que estavam ali, apoiou-nos a todos. Com a idade dele provou-nos que é possível ser solidário e acho que é isso que ele pretende, que as pessoas vejam que é possível ser solidário. Foi um estímulo e estivemos ali numa união muito grande de pessoas. Foi uma sensação muito boa, o cansaço é grande porque foram muitas horas. Eram 8 e meia da manhã quando eu cheguei a casa e ainda não tinha dormido. Foi extraordinária o sentimento de solidariedade de todas as pessoas que estavam ali. Foi muito importante”, relatou a filha do ator.
Muitas pessoas não queriam que Ruy de Carvalho fosse nesta longa viagem entregar todos os bens por causa do calor e da idade avançada, mas este insistiu em ir porque "achou que era um estímulo aos mais novos a serem solidários”. “É um estímulo para nós próprios porque só nos sentimos com força quando o vemos, então se ele tem a idade que tem e está aqui, nós temos esta idade e podemos estar aqui e devemos estar aqui”.
Foram muitas as pessoas que se juntaram à iniciativa de Mónica Sintra e Paula de Carvalho. A elas, a filha do artista português deixa uma mensagem de agradecimento.
Já em casa, Paula de Carvalho diz sentir-se “muito impotente”. “Sinto que ainda não consigo fazer mais nada. Não sei o que posso fazer mais. Aliás, temos um grupo no messenger onde falamos e seguimos o que está a acontecer, porque temos bombeiros incluídos neste grupo e estamos muito preocupados com o que ainda pode vir a acontecer. Alguns estão aqui a dizer que se os incêndios se juntam é muito complicado. Isto é em vários sítios. Lousã também já está. Estão a pedir para as pessoas saírem da Aldeia do Xisto. Foram evacuadas já 27 aldeias em Góis. Estamos muito preocupados. O vento acho que não para e estamos muito preocupados”, acrescentou.
Para terminar, a filha de Ruy de Carvalho deixou ainda uma mensagem a todos os portugueses:
“Não se esqueçam neste momento daquilo que está a acontecer, mas não se esqueçam também, durante o ano todo, daqueles muitos que precisam não por causa dos incêndios, mas por outras razões. Os portugueses são solidários e sabem ser solidários, mas também podem muitas vezes levantar-se da cadeira e ir ajudar muitas situações e, às vezes, como diz o meu pai, basta um sorriso. Como ele diz: 'Eu não já tenho fisicamente capacidade, mas posso ajudar de outras maneiras e até financeiramente quando é preciso’. Não se esqueçam que não é só nesta altura. Esta altura é essencial porque há gente que está a precisar muito, mas isto prova que nós conseguimos ajudar sempre. E isso é que é importante”, rematou.