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"Tenho zero expectativas. Quero chegar e ver o que acontece"

A nova aventura de Iva Domingues começa hoje e, dias antes de partir, a apresentadora esteve à conversa com Vozes ao Minuto sobre os novos desafios que a esperam.

"Tenho zero expectativas. Quero chegar e ver o que acontece"

Chegou o grande dia. É esta terça-feira, dia 8, que Iva Domingues parte para uma nova aventura profissional e pessoal. A apresentadora e a filha, Carolina, de 14 anos, mudam-se hoje para Los Angeles, nos Estados Unidos.

Atrás do sonho da filha, que vai estudar cinema na esperança de um dia ser guionista e contar uma história no grande ecrã, Iva Domingues prepara-se para mudar completamente a sua vida aos 40 anos.

A mãe não deixou a filha ir sozinha neste desafio e fez questão de acompanhá-la, propondo à TVI um trabalho diferente do que fez até aqui, a partir da 'cidade dos anjos'.

Poucos dias antes de seguir viagem, Iva Domingues esteve à conversa com o Fama ao Minuto, mostrando-se muito entusiasmada com a nova fase da vida que se aproxima e explicando detalhadamente o que vai fazer nos próximos tempos.

Começamos pelo tema do momento... A nova vida de Iva Domingues que está prestes a chegar. Como está a ser esta fase de despedidas?

É sempre uma mistura de emoções. Aquela excitação natural e motivação de fazer algo novo e desafiante que toda a gente gosta, mas também aquele realizar que vou ter de me despedir dos amigos, da família. Um aperto no coração, mas é balanceado entre uma coisa e a outra.

Estou estranhamente bastante serena. Estive um ano a digerir tudo isto e a preparar-meAgora que está a chegar a hora de partir, sente algum receio, algum medo?

De todo. Estou estranhamente bastante serena. Estou a surpreender-me, mas eu acho que sei por que razão estarei assim. Estive um ano a digerir tudo isto e a preparar-me. A partir do momento em que apresentei o projeto, estava preparada para ter uma resposta positiva, que era o que eu queria. A partir daí fui-me preparando.

Já revelou que a principal razão para se mudar para Los Angeles é o facto de a sua filha querer ir para lá estudar cinema. Sente que ela ainda vai brilhar neste meio?

Quero sobretudo que ela seja muito feliz e se cumpra enquanto mulher, ser humano, profissional. Se isso passar pelo cinema, que para já é o que ela quer...

Qual é o maior sonho dela?

Realização. Ela quer um dia poder escrever uma história e contá-la. Quer fazer guião e realização.

E já lhe mostrou algum trabalho nesse sentido?

Ela não mostra. Só consigo ver o que ela escreve nos testes da escola e, de facto, sempre teve um ótimo feedback dos professores. Agora, orgulhosamente, tirou 30 valores em 30 possíveis no exame nacional. Ela escreve mesmo bem, portanto, acredito que está num bom caminho. Tem algum talento e espero que lhe corra bem.

Trabalhar a partir de Los Angeles para a TVI foi uma proposta sua. Qual foi a reação da estação?

Ficaram todos muito agradavelmente surpreendidos. Deram-me a maior força e acharam incrível. Não é habitual aos 40. Aos 30 talvez, aos 20 bastante possível, mas aos 40 não é tão habitual uma mudança tão radical. Mas só acharam que podia ser uma coisa muito boa e deram-me a maior força.

Qual será o seu trabalho a partir de agora? Com o que é que as pessoas podem contar?

Vou trabalhar nas três áeras: no entretenimento, na informação e no digital. No entretenimento estarei semanalmente no ‘Câmara Exclusiva’, como repórter e apresentadora. Estarei na informação no ‘Cinebox’ semanalmente com todas as estreias que houver e entrevistas de elenco nas promoções. Sempre que houver para além de estreias, aí será ou informação ou ‘Câmara Exclusiva’ e, pontualmente, até já tenho um trabalho agendado para a informação TVI24 ou TVI com entrevistas e reportagens para o jornal.

Já começou a preparar algum trabalho?

Já tenho uma encomenda que ainda não posso revelar. Daqui o trabalho que levo já é para a informação.

Tenho zero expectativas. Nem boas, nem más. Quero chegar e ver o que acontece

Mas já pensou como é que vai ser viver esta nova vida?

Tenho zero expectativas. Nem boas, nem más. Quero chegar e ver o que é que acontece. Vou trabalhar. Eu formei-me no jornalismo, já não faço informação há 17 anos. Não faço mas vejo e leio, nunca perdi, espero, o ritmo e o jeito. Acho que todos estes anos de horas de voo me vão ajudar. Apesar de não conhecer ninguém e de ter de começar um bocadinho do zero, tenho um background de experiência de televisão e de contar histórias. Acho que é isso que eu vou ter de fazer. Seja na informação ou no entretenimento, no fundo, o que se espera de nós é que contemos a história.

Do que vai sentir mais falta?

Da minha mãe e dos meus amigos, por esta ordem.

Sente que esta nova experiência vai enriquecer a sua carreira?

Só pode. Quando mudamos, alargamos horizontes, aprendemos, ganhamos experiência, ganhamos mundo e só por isto já enriquecemos. Vou sair um bocadinho do meu registo. Cinema é uma coisa de que eu gosto muito, sempre gostei. Quem me conhece de perto sabe que acompanho, vejo, sempre gostei muito. E a informação nasceu comigo. Achei que ia ser sempre e para sempre jornalista porque tenho aquele espírito de missão, mas acho que é um bocadinho regressar às minhas origens, o que me moveu um dia para ir para comunicação social.

Nós sempre chegamos aonde nos esperam, como dizia o [José] Saramago. Portanto, se calhar é aqui que eu deveria chegar e é para aqui que eu vou. Um dia vai fazer sentidoAlguma vez sentiu que o seu talento não era aproveitado da melhor maneira e que era 'ofuscado' por quem tinha 'melhores' oportunidades?

Ofuscado nunca senti. Se disser um pouco subaproveitada, na medida em que sinto que posso sempre dar mais e vou tentar fazê-lo agora... mas na verdade não sinto nenhuma espécie de ingratidão a esse nível porque sempre trabalhei numa estação líder. Isto é mesmo genuíno, eu tenho uma vantagem, acho que é uma vantagem em tudo na vida, pessoal e profissional, e faço sempre este exercício que é colocar-me no papel do outro. É uma coisa que o ser humano tem alguma dificuldade em fazer e eu aprendi desde muito cedo. Sinceramente, eu, no lugar de um diretor da TVI, também não tinha mudado muito do que aconteceu. Quando se ganha só temos 24 horas, a pressão que há é muito grande. Agora, sinto que ao longo deste tempo podia ter estado mais, podia. Mas também percebo que não há espaço para tudo. Eu dei e contribui e o que fiz, fiz bem. Acho que foi um caminho muito sólido e, na verdade, tudo leva a algum lado. Nós sempre chegamos aonde nos esperam, como dizia o [José] Saramago. Portanto, se calhar é aqui que eu deveria chegar e é para aqui que eu vou. Um dia vai fazer sentido.

Não quis fazer de outras propostas nenhuma bandeira, nem para subir o meu cachet, nem para subir o meu pedigree. Não é isso que me moveJá está há alguns anos na TVI. Alguma vez pensou em mudar de estação ou essa hipóteses nunca esteve em cima da mesa?

Houve ao longo destes quase 18 anos duas abordagens, em alturas distintas, mas nunca chegou a passar de uma possibilidade. Não quis fazer disso nenhuma bandeira, nem para subir o meu cachet, nem para subir o meu pedigree. Não é isso que me move.

Além da televisão, construiu a associação feminista 'As Capazes', que nasceu há mais de dois anos. Sente que esta iniciativa já semeou, de certa forma, alguma mudança entre as pessoas. Algumas mulheres já foram capazes de mudar a sua vida?

Tenho a certeza até porque tivemos mensagens, cartas e textos nesse sentido. É como digo, basta conseguir mudar a vida de uma que já valeu a pena. Tenho dois ou três exemplos. Um foi pessoalmente, uma rapariga que vive no interior do país veio ter comigo e disse que depois de conhecer ‘As Capazes’ e de ter acompanhado alguns meses ganhou coragem para contar aos pais que era lésbica e correu tudo bem. Veio dar-me um abraço, isto aconteceu no ‘Somos Portugal’, ela estava visivelmente emocionada e comoveu-me também. Há muitas cartas que nós recebemos de pessoas que saíram de casamentos de violência verbal e física e ganharam coragem e fugiram, porque infelizmente ainda é assim que tem de ser. Temos a certeza de que tocamos muitas vidas a esse nível. Esse empoderamento aconteceu e já valeu a pena. Temos relatos muito comoventes.

Falta fazer quase tudo na defesa dos direitos das mulheres. As pessoas gostam de dizer que já está melhor, mas não, está horrívelHá ainda muito para fazer na defesa dos direitos das mulheres?

Falta quase tudo. As pessoas gostam de dizer que já está melhor, mas não, está horrível. Nós somos um bocadinho privilegiadas na Europa, mas em Portugal a violência contra as mulheres é muito elevada. Em Portugal ainda há mutilação genital feminina. Ninguém fala disto, mas existe no nosso país. Em Portugal há, em algumas culturas, casamentos infantis. A nível salarial estamos muito longe ainda. Está melhor, mas muito longe. A nível do resto do mundo é horrível, os números são horríveis. Há mulheres que não podem ir para a escola... O tráfico de mulheres é muito mais elevado em relação ao tráfico humano. Há escravas sexuais meninas... Há muita coisa a acontecer no mundo inteiro, às vezes a duas horas de avião. O caminho é tão longo...

Acredito que só não é feminista quem é profundamente ignoranteQual acha que seria o ponto de partida para tentar mudar esta realidade?

Informação é poder. O foco das ‘Capazes’ é também chegar mais longe e mais cedo. Se as gerações mais novas tiverem conhecimento dos direitos, do que está a acontecer e do que não pode prolongar-se no tempo da forma como está a acontecer, acho que no futuro, quando puderem agir, já vão crescer de outra forma, pensar de outra forma. É um trabalho que demora muito, mas acho que começando cedo é um bocadinho em cadeia. Vão crescer outras mulheres e homens com outro tipo de pensamento, porque este caminho tem de ser de todos. Só quando as fileiras forem bem grossas com homens e mulheres feministas, ou seja, que querem igualdade de todos os géneros, é que isto vai dar a volta. Acredito que só não é feminista quem é profundamente ignorante.

Em Hollywood têm surgido vários depoimentos que falam da diferença salarial entre homens e mulheres. Na televisão portuguesa também existe essa realidade?

Existirá mais a nível de cargos de direção e administração. Na minha realidade, que é a de apresentadores, não sinto que haja. A nível de redação acho que as médias estão próximas, a nível de cargos de administração quase todos continuam a ser homens. E mesmo as mulheres que lá chegam duvido que ganhem o mesmo do que o colega ao mesmo nível num conselho de administração, por exemplo, isso não tenho a menor dúvida.

Como é que vai ficar a sua ligação com este projeto com a ida para Los Angeles?

Menos ativa. Não tenho tempo físico porque a TVI vai ocupar-me muito tempo. O próprio ‘La La Lander’ vai ocupar-me também muito. Agora na génese de tudo aquilo que eu fizer digitalmente ou a nível de posicionamento e de ocupação de espaço público será sempre uma postura feminista. Mas ‘As Capazes’ estão sempre comigo e eu estou sempre com elas. De forma ativa, escrever texto, já devem ter percebido que estive este último ano [ausente]. As pessoas não percebiam muito bem onde é que eu estava e o que é que estava a fazer, e eu estava a fazer isto.

A internet tem muitas coisas boas e eu quero ver esse lado, mas também há uma lixeira a céu abertoNeste 'novo mundo', as redes sociais podem ser muito boas para a divulgação da boa informação, mas também rapidamente podem ser a nossa pior inimiga. Como lida com as desavenças virtuais?

Estou sempre a referir as palavras do Sam The Kid porque ainda não encontrei nada que descreva melhor aquilo que sinto em relação aos 'haters'. Em relação a essas pessoas, lido muito bem. É-me rigorosamente indiferente aquilo que elas dizem, mas completamente indiferente. Podem falar o que quiserem que é para o lado que eu durmo melhor, mesmo. Em relação ao ódio gratuito que existe, ao apedrejamento virtual, hoje é isto e no dia seguinte… A internet tem muitas coisas boas e eu quero ver esse lado, mas também há uma lixeira a céu aberto. Não há nada a fazer, é lidar com isso e eu lido muito bem.

Alguma vez colocou o seu trabalho em causa por causa dos comentários negativos dos internautas? Pegando no exemplo recente do mal entendido em relação à cidade de Guimarães.

A internet descontextualizou. Se alguém se deu ao trabalho de ver toda a entrevista percebia que eu estava do lado da população e não contra. A partir daí, cada um tira a sua conclusão. Nunca questionei o meu trabalho, nunca. Não por comentários da internet. Chego a casa e faço uma avaliação do meu trabalho, sou muito perfecionista, sou a minha maior crítica. Gosto de saber a opinião do meu público porque é para ele que eu trabalho. Aceito todas as críticas construtivas, mas nesse caso então, de Guimarães, de todo. Estou de consciência absolutamente tranquila.

*Pode ler a segunda parte desta entrevista aqui.

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