O estudo incluiu três grupos de animais: os que sofreram HI; os que, após sofrer HI, foram tratados com UC-MSC; e animais saudáveis. Os resultados demonstraram que o tratamento com UC-MSC previne a perda de neurónios após HI, nomeadamente no hipocampo, uma região do cérebro crucial no processamento de memórias. Para além disso, evidenciou que esta ação neuroprotetora foi provavelmente mediada por um efeito anti-inflamatório, observado quer a nível cerebral quer pelo aumento de uma molécula anti-inflamatória no sangue.
Apesar dos bons resultados, os autores revelaram que o efeito neuroprotetor observado foi parcial e não preveniu totalmente a progressão da lesão cerebral após HI, sugerindo que, em estudos futuros, se avalie o benefício de múltiplas administrações de UC-MSC, bem como da combinação deste tratamento com a hipotermia, o procedimento a que atualmente se recorre nestes casos.
Comparativamente com estudos anteriores e tendo em vista a potencial aplicação futura deste método em humanos, estes investigadores tentaram otimizar a dose e a via de administração destas células, de modo a que o tratamento fosse eficaz e exequível na prática clínica. A aplicação intranasal não apresenta riscos para o doente e é uma forma ainda mais simples de dirigir as células para o local da lesão, comparativamente à via intravenosa, uma das formas de administração mais comummente utilizadas em estudos anteriores.
Segundo Bruna Moreira, Investigadora do Departamento de I&D da Crioestaminal, “o potencial destas células para o tratamento de lesões cerebrais baseia-se nas suas propriedades imunomoduladoras e na sua capacidade para libertar moléculas que promovem a sobrevivência e o crescimento dos neurónios”. E acrescenta ainda: “os resultados desta investigação apoiam futuros estudos com vista à utilização de UC-MSC no tratamento de lesões cerebrais”.
O tratamento atualmente utilizado para limitar a extensão dos danos cerebrais provocados por HI é a hipotermia induzida, que consiste em baixar a temperatura corporal para valores entre 33 e 34°C durante 72 horas, seguida de um reaquecimento progressivo. Embora seja eficaz em alguns casos, muitos recém-nascidos que sofrem episódios de HI acabam por sofrer danos neurológicos irreparáveis. Existe, portanto, urgência em desenvolver novas terapias que possam ser usadas em alternativa ou como complemento à hipotermia.
Nos países desenvolvidos, um em cada 400 recém-nascidos desenvolve paralisia cerebral como resultado de lesões neurológicas ocorridas durante o desenvolvimento intrauterino ou no período neonatal. Os episódios de HI cerebral, ou seja, de falta de irrigação sanguínea e oxigénio no cérebro, são a principal causa de lesão cerebral em recém-nascidos, podendo resultar em défices motores e cognitivos.