Por que os homens sofrem e morrem mais de cancro do que as mulheres?

A resposta para esta questão pode ajudar os cientistas e a comunidade médica a descobrir e elaborar novos tratamentos.

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Liliana Lopes Monteiro
23/09/2019 15:33 ‧ 23/09/2019 por Liliana Lopes Monteiro

Lifestyle

Cancro nos homens

Metade dos homens sofrerão de cancro na vida, contra um terço das mulheres. Há muito, que este surpreendente facto foi detetado por médicos e epidemiologistas, mas era atribuída exclusivamente a fatores ambientais ou a hábitos de vida. Afinal, os homens fumam mais, consomem mais álcool e estão expostos a trabalhos com substâncias cancerígenas, como mineração, indústria naval ou de telhas de amianto.

Nas últimas décadas, em diversos países do mundo, certos tipos de cancro diminuíram mais em mulheres que em homens, como é o caso do cancro do colo do útero, graças à vacinação contra o HPV

O neuro-oncologista Josh Rubin, da Washington University, nos Estados Unidos, contou que na sua experiência de 25 anos a maioria dos casos com tumores cerebrais na infância era em meninos. E nesse caso os fatores ambientais eram automaticamente descartados.

O médico analisou com maior afinco essa informação a respeito de subtipos diferentes de tumor que podem ocorrer em homens e mulheres (ou seja, deixou de lado tumores de mama, ovário, útero ou próstata, por exemplo) e descobriu que por décadas, a incidência de diagnóstico de cancro, em quase todos os subtipos, é mais comum em homens, a despeito de mudança de fatores ambientais, alimentares ou culturais.

O cancro nos homens também era mais agressivo e com pior prognóstico. Para avaliar os motivos, Rubin realizou uma experiência em 2014, recorrendo a camundongos machos e fêmeas: e detetou que as células do sistema nervoso normal expostas a um tipo de hormona com potencial cancerígeno, transformavam-se mais rápido e eram mais agressivas nos camundongos machos.

Quem sabe a diferença não pode estar nos genes? 

A Escola Médica de Harvard, juntamente com o Instituto Broad e o Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, juntaram esforços e analisaram genes localizados no cromossoma X. As mulheres nascem com duas cópias do cromossoma X e os homens com uma cópia do cromossoma X e outra de um cromossoma menor e diferente no seu conteúdo genético (o cromossoma Y). Para evitar que os genes do cromossoma X sejam ativados de forma duplicada em mulheres, logo após a fecundação, um dos cromossomas é inativado por um processo químico que não é irreversível. 

O que os cientistas dessas instituições descobriram é que no cromossoma X há genes com capacidade de controlar diversas atividades celulares (genes supressores de tumores). Esses genes são chamados coletivamente de EXITS. 

Um dos genes EXITS estudado, o KDM6A, quando sofre alguma mutação permite que células se tornem mais invasivas e se dividam mais rapidamente (algo que é extremamente apelativo para a propagação das células cancerosas). Por outras palavras, imagine que um homem, que possui apenas uma cópia do gene KDM6A, sofre uma mutação nesse gene. Bem, irá dessa forma perder um mecanismo de proteção valioso para as suas células. Um mecanismo anti-cancro.

Já, se esse dano ocorrer numa mulher, no entanto, e aí está a novidade do artigo publicado no periódico científico Nature Genetics, ela é capaz de ativar aquela cópia que está silenciosa desde que era um embrião. A vantagem de ter os genes EXITS em dose dupla poderá ser uma explicação elegantíssima para a questão da maior frequência e gravidade de cancro em homens do que em mulheres.

Ainda, assim os cientistas insistem que é necessário continuar a investigar que outros possíveis fatores ‘escondidos’ possam estar por trás desta desvantagem masculina e se é possível alterá-los.

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