Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão aflige 10% da população mundial e infelizmente os números tendem a aumentar exponencialmente nos próximos anos.
Números reais apontam que Portugal é o país da Europa com a taxa de depressão mais elevada e o segundo no mundo, sendo ultrapassado apenas pelos EUA. Ou seja, vinte e três por cento da população portuguesa sofre de um problema de saúde mental; por ano, 400 mil portugueses são diagnosticados com depressão. No ano de 2017 foram prescritos 20 milhões de embalagens de psicofármacos em Portugal, sendo gastos diariamente 600 mil euros neste tipo de medicação.
E a taxa de mortes relacionada a episódios depressivos aumentou 705%.
A depressão caracteriza-se como uma doença em que ocorrem desequilíbrios químicos dos chamados neurotransmissores. Essas substâncias são responsáveis por transportar as informações pela rede de neurónios do nosso cérebro - incluindo as sensações de prazer, serenidade, disposição e bem estar.
"A depressão irá afetar neurotransmissores como serotonina, dopamina, noradrenalina e melatonina, que interferem justamente nesses sentimentos", afirma o psiquiatra Luis Gustavo Brasil, da Clínica Maia, no Brasil. Esse desequilíbrio químico pode desencadear uma série de respostas e em diversas funções do organismo, e as consequências são os sintomas que já conhecemos: tristeza, apatia, falta de motivação, dificuldade de concentração, pessimismo, insegurança e muitos outros.
Além dos sintomas psicológicos tão conhecidos existe um grupo de sintomas de depressão que interferem na nossa saúde física. Se não for tratada, a condição de saúde agrava-se, causando sinais que nem sempre estão relacionados com a patologia.
Eis algumas sensações físicas que podem acompanhar o quadro depressivo, segundo Luis Gustavo Brasil:
Problemas digestivos
A dor na parte gastrointestinal é muito comum em depressivos. Segundo o especialista, ocorre muitas vezes a síndrome do intestino irritável, que causa dores abdominais, flatulência e mudanças nos hábitos intestinais. "Pacientes podem chegar ao gastroenterologista com esses sintomas e, após vários exames clínicos, são diagnosticados como de fundo emocional".
Dor de cabeça
A depressão também pode motivar dores do tipo cefaleia. "Há o cenário que chamamos de somatização, no qual o indivíduo com depressão acumula sintomas emocionais, frustrações, medos e inseguranças e descarrega no corpo", afirma o psiquiatra.
Distúrbios do sono
Distúrbios são extremamente comuns: ou o paciente dorme demais, procurando no sono uma fuga da realidade, ou não consegue dormir, por não conseguir desligar-se dos problemas que o levaram à depressão. Em ambos os casos, o resultado é um sono de má qualidade. "O paciente não se recupera o suficiente para as atividades que deve exercer, o que explica a piora do rendimento e da produtividade", lembra o psiquiatra Luis Gustavo Brasil.
Cansaço ou fadiga
"A falta da produção adequada dos neurotransmissores serotonina, noradrenalina e dopamina gera uma prostração muito grande nos pacientes", conta o profissional. O resultado são sintomas como fraqueza, cansaço, falta de ânimo e falta de iniciativa para executar qualquer atividade.
Quando o individuo está em depressão, ocorre uma diminuição na produção dos neurotransmissores, como a serotonina e a noradrenalina. "Esses mediadores são responsáveis pela modulação da dor e também pelo equilíbrio emocional, portanto um paciente depressivo apresenta uma maior sensibilidade à dor".
Mudanças no apetite e no peso
A depressão é frequentemente associada a transtornos alimentares. Isso porque a doença leva a alterações no apetite, podendo ocorrer a falta ou o excesso deste, culminando em perda ou ganho de peso. "As reações são individuais, é necessário apenas observar que o comportamento não está normal para aquela pessoa e aconselhá-la a procurar ajuda", explica o psiquiatra.
Dores no corpo
Pacientes com depressão muitas vezes queixam-se de dores generalizadas e persistentes em todo o corpo, principalmente nas costas e peito. "Os sintomas de fadiga e cansaço próprios do quadro depressivo acabam por comprometer uma postura adequada quando o indivíduo tenta realizar as suas atividades diárias, piorando a sensação de tensão e dores musculares", explica Luis. Sedentarismo e a falta de atividade física podem tornar o quadro ainda mais intenso.
Sistema imunológico comprometido
A depressão leva o indivíduo à prostração - não se sente bem física e mentalmente. Isso pode, de maneira indireta, interferir na imunidade. "Ocorre uma libertação descontrolada de hormonas quando não estamos bem emocionalmente, afetando as células de defesa". Além disso, a tristeza e falta de iniciativa para realizar atividades podem fazer com que o paciente não tome os devidos cuidados com a saúde, adotando comportamentos de risco como ingestão excessiva de álcool, tabagismo, uso de drogas, má alimentação e sedentarismo - todos esses fatores interferem diretamente na imunidade, deixando o indivíduo mais vulnerável a infecções oportunistas, como por exemplo gripes e herpes.