Dia 1 de dezembro, comemorou-se mais um dia mundial de luta contra o VIH/SIDA. À escala global as mensagens de apoio ao combate à infeção assumem especial relevo, com líderes políticos a manifestarem o seu incontornável apoio às estratégias de redução e controlo da infeção. De uma forma geral, é internacionalmente aceite que as estratégias deverão assentar na promoção da realização do rastreio, para as pessoas serem conhecedoras do seu estatuto serológico; na ligação aos cuidados de saúde e com isto a disponibilização logo aquando do diagnóstico da terapêutica e; promoção da adesão terapêutica anti retrovírica, por forma a alcançar a supressão vírica e assim o vírus ser intransmissível.
Esta visão de saúde pública irá permitir reduzir a transmissibilidade da infeção e assim assistir a um declínio do número de novos casos. Porém, incidir somente sobre estratégias de contenção das infeções sexualmente transmissíveis, nos métodos barreira e na quebra da transmissão, numa abordagem patogénica assente na doença e nos seus sintomas, não só é redutora, como não estamos a criar pessoas resilientes.
É preciso uma aposta efetiva na prevenção. Não basta, colocar a infeção pelo VIH na agenda escolar e esperar que os professores ensinem tudo o que há a saber na esperança que isso conduza a jovens/adultos conscientes dos seus comportamentos de risco. Sabemos hoje que a infeção pelo VIH é transmitida primordialmente pela via sexual e com isto, não basta trabalhar as infeções sexualmente transmissíveis. Elas são transmitidas pelo contacto sexual, sendo o sexo o cerne da questão.
Assim, torna-se necessário, trabalhar aspetos como o desejo, a vivência da sexualidade e principalmente o aspeto emocional associado ao ato sexual e às relações afetivas íntimas. Desengane-se aquele que acha que o sexo é um ato racional e que somente através da disponibilização de informação teremos adultos que usarão de forma consistente e regular o preservativo ou outro método de prevenção. Abordar algo que é tão instintivo, impulsivo e emocional como o sexo de forma racional e incidente nas infeções sexualmente transmissíveis é tentar colocar um penso rápido num assunto, muito mais vasto e complexo.
Precisamos de adultos emocionalmente resilientes, cientes dos seus impulsos e desejos, que os respeitam e que assumem comportamentos saudáveis dentro das suas preferências e gostos. Promoção da saúde e prevenção não se coaduna com calendários políticos de uma legislatura, pois são inevitavelmente, políticas de longo prazo e que carecem de tempo para maturarem e trazerem frutos. Trabalhar a sexualidade é algo muito íntimo e individual que não é compatível com abordagens massificadas e transversais a toda a população. Está na altura de olharmos para além dos mecanismos de quebra de transmissão atualmente disponíveis, de consolidar os direitos sexuais e de colocar as pessoas no centro da intervenção.