No caso de oclusões graves dos maxilares, para além da correção da posição dos dentes - ortodontia -, poderá ser necessário uma correção cirúrgica das dimensões e das posições dos maxilares - cirurgia ortognática. Embora ainda possa haver algum desconhecimento sobre esta cirurgia e algum receio do que seja, os seus benefícios são enormes para a saúde dos jovens e futuros adultos. É neste sentido que Afonso Pinhão Ferreira, médico dentista da BQDC, explica em que consiste a cirurgia ortognática, quando se justifica e qual o momento certo para a fazer.
Apenas os casos mais graves que não se corrigem com ortodontia são elegíveis para esta cirurgia. “Falamos de casos que ocorrem quando os ossos dos maxilares têm dimensões e posições desproporcionadas, o que, para além de não permitir que os dentes ocluam corretamente na mastigação dos alimentos, implica que as faces desses pacientes se tornem inestéticas. Estas anomalias chamam-se de deformidades dento-faciais. E, para as tratar, é necessária uma equipa capaz de fazer uma terapêutica interdisciplinar denominada por tratamento ortodôntico-cirúrgico-ortognático (TOCO), com pelo menos um ortodontista e um cirurgião maxilofacial.”
Estes casos manifestam-se na fase da adolescência, porque “com o crescimento dos ossos do rosto na pré-adolescência pode-se dar a alteração na posição ou no tamanho do maxilar e/ou mandíbula em relação ao esqueleto do crânio. Existem sinais, como o queixo muito avançado ou recuado, ou até mesmo desviado para um dos lados, que desfeiam a face que devem ser motivo de preocupação. Outras situações passam por um sorriso demasiado gengival, ou uma oclusão em que os dentes anteriores não contactam uns com os outros, ou ainda, uma supraoclusão grave onde os incisivos superiores tapam completamente os inferiores. Muitas vezes, estas alterações, além de prejudicarem a estética do rosto, fazem-se acompanhar por problemas de mastigação, pelo aparecimento de ruídos ou dor nas articulações temporomandibulares, que podem piorar com a idade. Podem ainda surgir problemas a nível do selamento labial, com graves consequências para a fala e deglutição, para além do impacto na auto-estima e possíveis dificuldades a nível de integração social”
O TOCO é dos tratamentos disponíveis, a nível de cirurgia ortognática, mais compensadores do ponto de vista da reabilitação oclusal funcional e de melhoria da estética dentofacial. Afonso Pinhão Ferreira termina a explicação ao explicar que: “É hoje um procedimento rotineiro onde a tecnologia e a experiência clínica permitem, sem qualquer cicatriz, uma alteração fantástica ao nível da face, maxilares e dentes, extraordinariamente vantajosa para o paciente no que se refere à sua capacidade de influência relacional e ao aumento da sua autoestima. Há hoje equipas interdisciplinares bem preparadas que realizam um estudo aprofundado de quantificação dos desvios e de planificação do tratamento. O tratamento é complexo, garante resultados incríveis, e consta habitualmente de três fases:
- Uma preparação ortodôntica antes da cirurgia, onde se alinham os dentes de cada arcada dentária de forma independente, tendo em vista a convergência oclusal aquando da cirurgia corretiva.
- Uma cirurgia ortognática feita sob anestesia geral e por acesso intraoral que não deixa qualquer cicatriz. Tem como objetivo dimensionar e posicionar os maxilares proporcionalmente ao resto do crânio/face do paciente, restituindo-lhe a estética facial e dentária.
- Um acabamento e finalização ortodôntica".