O cancro do colo do útero está associado, na maior parte dos casos, a uma infeção persistente por um tipo de Papilomavírus Humano (HPV) de alto risco que não foi detetada e tratada precocemente. Este vírus, que se subdivide em mais de 120 tipos, é responsável pelo aparecimento de vários cancros e doenças genitais, como é o caso do cancro do colo do útero, cancro do ânus, cancro da vagina, cancro do pénis, cancro da vulva e das verrugas nos genitais, e afeta tanto as mulheres quanto os homens.
Em função das doenças que causam, os diferentes tipos de HPV dividem-se em tipos de alto e baixo risco, sendo os tipos16 e 18 responsáveis por 75% das lesões mais graves – os carcinomas. A infeção por HPV é facilmente transmitida através do contacto sexual, genital ou oral e estima-se que 75 a 80% das pessoas sexualmente ativas tenham contacto com o vírus em alguma altura das suas vidas. No entanto, a grande maioria das infeções regride sem necessidade de tratamento, mas, em 10% destes casos, a infeção torna-se persistente (ou seja, o nosso sistema não consegue eliminá-la), o que é uma das condições para o desenvolvimento do cancro do colo do útero.
Tanto a infeção por HPV como o cancro do colo do útero em fase inicial são assintomáticos. Neste sentido, a melhor estratégia de prevenção passa pelos programas de rastreio e pela vacinação contra o vírus. Portugal tem apostado em estar na vanguarda destas duas estratégias. No entanto, os programas de rastreio, que consistem na identificação das mulheres com risco aumentado de cancro, não abrangem toda a população, pelo que a sua cobertura ainda não é perfeita. Além disso, há muitas mulheres que ainda não percebem a importância do rastreio e, por isso, não arranjam tempo na sua agenda para ir ao médico. É preciso mudar esta mentalidade.
Por sua vez, no que diz respeito à vacinação, Portugal está de parabéns. Atualmente, mais de 90% das mulheres portuguesas até aos 27 anos, completados em 2019, estão vacinadas contra o Vírus do Papiloma Humano. Além disso, o programa de vacinação contra o HPV, até há pouco destinado apenas às meninas entre os 9 e os 17 anos, abrange agora os rapazes. Esta decisão constitui um grande avanço na prevenção da infeção por HPV e, por sua vez, no combate às patologias associadas.
Contudo, apesar dos esforços bastante positivos do país, ainda existe um longo caminho a percorrer até à erradicação do cancro do colo do útero, pelo que urge continuar a apostar na vacinação e no rastreio, uma vez que só será possível eliminar a doença através de uma combinação efetiva entre estas duas estratégias. No entanto, um futuro livre de cancro do colo do útero é agora muito mais do que um sonho, é uma realidade.