O Efeito de Werther é o nome dado ao fenómeno de contágio trágico – nomeadamente, quando ocorre um aumento no número de suicídios depois de um caso amplamente divulgado pelos meios de comunicação social.
De acordo com Karen Scavacini, psicóloga e diretora do Instituto Vita Alere, em São Paulo, no Brasil, em entrevista à revista Galileu, o ‘suicídio por imitação’ apenas ocorre quando o individuo que o perpetua já se encontra num estado intenso de vulnerabilidade emocional prévio.
A psicóloga refere ainda que há uma maior probabilidade do ‘suicídio por imitação’ suceder quando ocorre uma identificação com a pessoa que cometeu o ato, ou seja no caso de se tratar de um amigo, familiar ou personalidade pública. “Também depende de como é retratado na comunicação social, se for muito romantizado, trouxer informações simplistas ou dizer que a pessoa encontrou paz", alerta.
Para o psiquiatra Neury Botega um exemplo recente do Efeito de Werther adveio da série da Netflix ‘13 Reasons Why’, que conta a história de Hannah Baker uma estudante do secundário que acaba com a própria vida. Alguns estudos revelaram um aumento de suicídios entre indivíduos adolescentes logo nos meses após a a sua estreia.
13 Reasons Why© All Rights Reserved / Netflix
“O Efeito Werther realmente existe e essa série da Netflix cometeu muitos erros que os principais manuais orientam a não fazer”, explicou o psiquiatra Neury Botega, autor de diversos livros sobre suicídio, também em entrevista à revista Galileu.
O psiquiatra destaca, na sua opinião, vários problemas e erros que o programa cometeu, entre os quais: cada episódio culpabilizar uma pessoa ou um acontecimento, a glorificação de Hannah Baker e revelar detalhes sobre o método que usou para morrer. “Tudo isso é contrário às recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS)", sublinha Botega.
Um estudo publicado no periódico científico JAMA Psiquiatry, divulgou que se registou um crescimento de 13% no número de suicídios de norte-americanos entre os 10 a 19 anos entre abril e junho de 2017, nos três meses após a série começar a ser transmitida.
O mesmo fenómeno parece ter lugar quando famosos cometem suicídio. Uma pesquisa partilhada na publicação PLOS One, apurou que os casos de suicídio nos Estados Unidos aumentaram após a morte autoinflingida do ator Robin Williams em 2014.
Segundo o estudo, nos cinco meses seguintes à morte de Williams registaram-se 10% mais casos que o considerado normal.
Já quando se trata do suicídio de pessoas próximas, como amigos e familiares, Botega realça que o problema se torna ainda mais preponderante e preocupante. “Pessoas que estão a fazer o luto de alguém que cometeu suicídio merecem uma atenção especial porque sofrem de sentimentos muitas vezes contraditórios. É uma sensação de culpa muito grande, muitas vezes uma vergonha ou receio de falar sobre o assunto com outras pessoas”, alerta o psiquiatra à Galileu.
Serviços telefónicos de apoio emocional e prevenção ao suicídio em Portugal
- SOS Voz Amiga (entre as 16h e as 24h) - 800 209 899 (Número gratuito)
- Conversa Amiga (entre as 15h e as 22h) - 808 237 327 (Número gratuito) e 210 027 159
- SOS Estudante (entre as 20h e a 1h) - 239 484 020
- Telefone da Esperança (entre as 20h e as 23h) - 222 080 707
- Telefone da Amizade (entre as 16h e as 23h) – 228 323 535