Em declarações à agência Lusa, a bastonária da Ordem dos Nutricionistas (ON), Alexandra Bento, afirmou que as instituições onde os profissionais de saúde trabalham na linha da frente do combate à covid-19 devem assegurar-lhes um estado nutricional equilibrado, sobretudo nesta fase de maior pressão e cansaço.
"Têm de ser as próprias instituições de saúde ou as instituições onde eles trabalham, como as instituições dedicadas aos idosos, a providenciar uma alimentação que seja segura, equilibrada e também seja saborosa", defendeu.
Nas reuniões que tem mantido periodicamente com o Ministério da Saúde, a Ordem dos Nutricionistas tem defendido que "a primeira coisa que os estabelecimentos têm que fazer é adequar os seus circuitos de preparação e distribuição de alimentos".
No caso dos hospitais, por exemplo, os bares e os refeitórios têm de ter "um acesso exclusivo para os profissionais" e deve ser garantida "a correta higienização de todos esses espaços", nomeadamente as máquinas de venda automática.
Relativamente às refeições, a bastonária disse que devem ser fornecidas de preferência em lancheiras com todo o material descartável e devem ser asseguradas seis vezes ao dia.
Alexandra Bento disse não ver com "muito agrado" o que se está a verificar em alguns estabelecimentos de saúde, que estão "a ser bombardeados" com produtos oferecidos por empresas,
"Não pondo de parte a bondade das empresas que os oferecem, é preciso que sejam os serviços de saúde a acautelar estas refeições para os seus profissionais, para garantir segurança alimentar, equilíbrio nutricional e sabor", sublinhou.
Para os profissionais que estão em quarentena, as recomendações são as mesmas das outras pessoas que se encontram na mesma situação e que passam por "priorizar os produtos que são frescos, nomeadamente as frutas e hortícolas".
Também devem ser priorizadas as refeições feitas em casa e envolver a família na sua confeção, disse Alexandra Bento.
Sobre as entregas de comida ao domicílio, referiu que só devem ser pedidas em "situações muito excecionais" ou aproveitá-las para pedidos de alimentos não confecionadas.
Aconselhou ainda os portugueses a adaptarem as porções das refeições, uma vez que muito vão "ficar mais inativos", e terem "todos os cuidados de segurança na manipulação de alimentos".
"Se é certo que a evidência científica nos diz que até ao momento a contaminação não se dá por via de alimento, por outro lado, também sabemos que é preciso que as práticas alimentares de preparação, confeção e de tratar a comida sejam verdadeiramente rigorosas para que também não possa constituir um momento na transmissão", afirmou.
Há também que ter em conta as regras de alimentação saudável, limitando a ingestão de sal, gordura e açúcar, reforçar os alimentos ricos em fibra, como frutas e hortícolas, e beber muita água.
"Nós devemos lutar para vencer esta doença contagiosa, mas não devemos deixar crescer as doenças que são não transmissíveis como é o caso da diabetes, da obesidade, da hipertensão arterial", apelou Alexandra Bento.
A bastonária afirmou que os portugueses que têm de ficar em casa para evitar o contágio pelo novo coronavírus, devem aproveitar esta oportunidade para ter "uma vida mais saudável, porque claramente sair de casa é uma ameaça".
"É a velha máxima que costumamos dizer, vamos transformar uma ameaça numa oportunidade", concluiu Alexandra Bento.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 791 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 38 mil.
Dos casos de infeção, pelo menos 163 mil são considerados curados.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
Em Portugal, segundo o balanço feito hoje pela Direção-Geral da Saúde, registaram-se 160 mortes, mais 20 do que na véspera (+14,3%), e 7.443 casos de infeções confirmadas, o que representa um aumento de 1.035 em relação a segunda-feira (+16,1%).
Dos infetados, 627 estão internados, 188 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 43 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00h00 de 19 de março e até às 23h59 de 2 de abril.
Além disso, o Governo declarou no dia 17 o estado de calamidade pública para o concelho de Ovar.