Uma equipa de cientistas norte-americanos otimizou uma técnica de estimulação magnética do cérebro e detetou melhorias significativas nas habilidades cognitivas de doentes com depressão grave.
Os testes foram realizados em 21 voluntários e os resultados foram publicados nesta segunda-feira, dia 6 de abril, no periódico científico American Journal of Psychiatry.
Conforme explica uma artigo divulgado na revista Galileu, o tratamento foi batizado de Terapia de Neuromodulação Inteligente Acelerada de Stanford (SAINT) e consiste num método de estimulação magnética transcraniana. Tratamento este que gera correntes elétricas na área do cérebro associada à depressão. De modo a colocar a técnica em prática é instalada uma bobina magnética no couro cabeludo do paciente.
No passado e também atualmente já são utilizadas - por profissionais de saúde de vários países, incluindo Portugal - terapias semelhantes que recorrem à aplicação de eletrochoques no cérebro e que normalmente se caracterizam por ser sessões diárias do tratamento durante seis semanas. Todavia, estima-se que somente metade dos doentes regista melhorias e só um terço apresenta remissão da patologia do foro psiquiátrico.
"Nunca houve uma terapia para a depressão grave cuja taxa de remissão fosse maior do que 55% na fase de testes", afirmou o investigador Nolan Williams, num comunicado emitido à imprensa. “A terapia de eletrochoque é considerada o padrão-ouro, mas possui uma taxa média de remissão de somente 48% nos casos de depressão grave".
Uma metodologia que promete ser mais eficaz
A Galileu explica que os investigadores norte-americanos especularam inicialmente que implantar algumas alterações na estimulação magnética transcraniana poderia gerar resultados mais positivos. Estudos sugeriram que uma dose mais forte, de 1.800 pulsos por sessão, em vez dos 600 aplicados normalmente, seria de facto mais eficiente.
No SAINT foram utilizadas imagens de ressonância magnética para analisar a atividade cerebral dos pacientes. Surpreendentemente, os investigadores detetaram a existência de uma sub-região específica dentro do córtex pré-frontal dorsolateral que poderia ser estimulada e assim beneficiar os doentes. Os cientistas de Stanford referem no seu estudo que a sub-região está intrinsecamente associada ao cingulado subgenual, uma parte do cérebro que é hiperativa em indivíduos com a doença mental.
De acordo com um dos autores do estudo Keith Sudheimer, em pessoas deprimidas, a conexão entre essas duas regiões é fraca e o cingulado subgenual torna-se hiperativo. Portanto, a equipa considerou que ao estimular a sub-região do córtex pré-frontal dorsolateral diminuiria por sua vez a atividade no cíngulo subgenual. E a verdade é que a experiência funcionou.
O impacto do SAINT
Os voluntários foram submetidos a dez sessões diárias de tratamentos de 10 minutos, com intervalos de 50 minutos entre os mesmos. Segundo informações divulgadas no estudo, em média três dias de terapia foram suficientes para que os participantes sentissem um alívio dos sintomas associados à depressão. Entretanto um mês após o tratamento 90% dos participantes ainda estavam em remissão.
Adicionalmente, os cientistas apuraram que as capacidades cognitivas dos indivíduos haviam também melhorado, tais como a habilidade de revezar entre tarefas mentais ou de resolver problemas do quotidiano.