Laboratório anuncia "resultados positivos" em tratamento com Remdesivir
O laboratório norte-americano Gilead tratou doentes infetados com Covid-19 com recurso a este remédio e o mesmo mostrou-se eficaz.
© Reuters
Lifestyle Covid-19
Há dados positivos no que toca ao tratamento de pessoas infetadas com o novo coronavírus. O laboratório norte-americano Gilead Sciences anunciou, esta quarta-feira, que obteve "resultados positivos" no tratamento de doentes com Covid-19, utilizando para isso o seu medicamento experimental antiviral Remdesivir.
Este estudo, que foi feito em parceira com os institutos de saúde norte-americanos (NIH), deu conta de que o retroviral tem mais sucesso se for administrado nos estádios iniciais da infeção.
"A Gilead Sciences tem conhecimento dos dados positivos resultado do estudo conduzido pelo Instituto Nacional das Alergias e Doenças Infecciosas (NIAID) sobre o seu medicamento antiviral Remdesivir no tratamento da Covid-19", pode ler-se no comunicado do Gilead Sciences.
"Entendemos que o estudo alcançou o seu objetivo primário e que o NIAID fornecerá informações detalhadas num próximo briefing", acrescentou a empresa.
“Ao contrário do desenvolvimento tradicional de medicamentos, estamos a tentar avaliar um medicamento de investigação a par de uma pandemia global em constante evolução. Vários estudos em simultâneo estão a ajudar a perceber se o remdesivir é um tratamento seguro e eficaz para a COVID-19 e qual a melhor forma de o utiliza"” afirmou Merdad Parsey, Chief Medical Officer da Gilead Sciences.
"Os resultados deste estudo complementam os dados do estudo controlado por placebo de remdesivir conduzido pelo NIAID e ajudam a estabelecer a duração ótima do tratamento com remdesivir. O estudo demonstra o potencial de alguns doentes poderem ser tratados com um regime de 5 dias, o que poderá aumentar significativamente o número de doentes a ser tratados com o nosso atual stock de remdesivir. Isto é particularmente importante no contexto de uma pandemia, para ajudar os hospitais e os profissionais de saúde a tratar mais doentes que necessitam de cuidados urgentes", acrescentou.
Segundo a Bloomberg, o teste clínico, realizado nos Estados Unidos, mostrou que pacientes com Covid-19 que receberam este medicamento recuperaram mais rapidamente do que os que tiveram apenas um placebo - além de tratamento comum contra a doença.
Ainda não há mais detalhes revelados sobre o estudo, que está a ser realizado desde 21 de fevereiro que procura avaliar pelo menos 800 pacientes com o novo coronavírus e compara os efeitos de um placebo com os do Remdesivir.
O remdesivir, que ainda não foi aprovado para uso, foi apontado como uma das curas mais promissoras para o vírus da covid-19.
Gilead announces results from Phase 3 trial of investigational antiviral in patients with severe COVID-19: https://t.co/lZFC5Yee8T. pic.twitter.com/oDyYCI7JDX
— Gilead Sciences (@GileadSciences) April 29, 2020
Prestigiada revista médica contraria resultados
No entanto, também esta quarta-feira, a revista médica 'The Lancet' publicou resultados dececionantes de um estudo chinês mais pequeno, feito igualmente em comparação com um placebo, que demonstrou que os doentes tratados com o remdesivir, um antiviral desenvolvido contra o ébola, mas nunca aprovado para outras doenças, não ficaram melhores do que os tratados com o placebo.
Não é raro os ensaios divergirem, mas o estudo dos institutos de saúde americanos estava entre os maiores e mais aguardados, como o estudo europeu Discovery, do qual se esperam resultados.
O diretor do Instituto de Doenças Infecciosas, Anthony Fauci, falando na Casa Branca ao lado do Presidente dos Estados Unidos, mostrou-se apenas um pouco otimista, afirmando que não era uma vitória por "KO". Segundo o responsável a mortalidade no grupo de controlo seria de 11%, contra 08% no grupo remdesivir.
Muitos ensaios clínicos estão a decorrer na Europa, na Ásia e nos Estados Unidos para encontrar um tratamento eficaz contra a covid-19.
Até agora apenas o estudo chinês, feito entre 06 de fevereiro e 12 de março em dez hospitais de Wuhan, cidade onde teve origem a pandemia, foi devidamente avaliado e publicado. Os seus resultados estiveram por pouco tempo, a 23 de abril, na página da Organização Mundial da Saúde mas foram depois retirados.
Neste estudo participaram 237 doentes, dois terços dos quais tratados com remdesivir. Os médicos queriam mais de 450 doentes mas a pandemia parou na cidade antes que chegassem a esse valor.
"O tratamento com remdesivir não acelera a cicatrização nem reduz a mortalidade da covid-19, em comparação com o placebo", segundo um resumo do estudo publicado na "The Lancet".
"Infelizmente o nosso ensaio mostrou que embora seguro e bem tolerado o remdesivir não mostrou nenhum benefício significativo por comparação com o placebo", comentou o autor principal do estudo, o professor Bin Cao, citado num comunicado da "The Lancet".
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