Investigadores da Universidade de Bordéus, em França, apontam que a insuficiência renal aguda (IRA) afeta cerca de 80% dos indivíduos com quadros severos de Covid-19, avança um artigo publicado pela revista Galileu.
De acordo com o estudo, publicado no Clinical Kidney Journal, o coronavírus infeta as células do sistema tubular renal, isto porque estas têm na sua estrutura o receptor ACE2, usado pelo SARS-CoV-2 para invadir o corpo humano e fixar-se nas restantes células.
As células do sistema tubular são responsáveis pela reabsorção de substâncias essenciais para o ótimo funcionamento do organismo, tais como potássio, glicose, fosfato, proteínas e bicarbonato. Ora, quando são afetadas pelo novo coronavírus o indivíduo doente pode desenvolver a chamada síndrome de Fanconi. Doença esta em que as substâncias e nutrientes fundamentais para o corpo se perdem na urina.
A síndrome de Fanconi resulta no desenvolvimento de distúrbios relacionados com o equilíbrio mineral do organismo, na diminuição da densidade óssea resultante do défice de fosfato, na hiperacidez do sangue, desidratação, aumento da sede e fraqueza.
Entretanto, o outro estudo, conforme divulga a revista Galileu, foi realizado por investigadores da Universidade de Lorraine, igualmente em França, e teve como foco a relação entre a síndrome de Fanconi e a Covid-19.
Num artigo científico, também publicado no Clinical Kidney Journal, os investigadores descrevem a sua análise de 42 doentes sem condições renais prévias. Surpreendentemente, os académicos detetaram que mais de 75% dos pacientes desenvolveram síndrome de Fanconi.
Relativamente, a pacientes com casos mais severos de Covid-19 o número subiu para uns impressionantes 96%.
Alberto Ortiz, editor-chefe do periódico Clinical Kidney Journal, salienta que indivíduos infetados pelo novo coronavírus têm de prestar especial atenção à possibilidade de desenvolverem condições renais permanentes.
"Deve-se supor que há um risco aumentado de doença renal subsequente após a síndrome de Fanconi associada ao Sars-CoV-2, como também ocorre após lesão renal aguda", disse.
"Por esse motivo, os doentes devem sempre ser acompanhados nefrologicamente, para que as condições associadas sejam detectadas a tempo", concluiu Alberto Ortiz.