Uma avaliação clínica completa, complementada pelos exames apropriados a cada situação, é uma ferramenta essencial para a abordagem atempada e mais eficaz das várias classes de doenças. Os exames regulares, de acordo com esta avaliação, são indispensáveis para quem quer garantir uma vida saudável e alguns devem ser feitos de forma periódica de modo a diagnosticar precocemente certas doenças.
Num ano atípico como o de 2020, fruto da pandemia de Covid-19, é ainda mais importante o planeamento adequado a nível de cuidados de saúde. É preocupante o facto de as pessoas estarem a adiar a procura de cuidados de saúde, tão importantes para o acompanhamento de doenças crónicas e patologias que tardiamente diagnosticadas podem ser irreversíveis. Significa que estão a adiar os cuidados necessários para preparar o inverno desafiante que se aproxima. De pouco vale o esforço contra a pandemia se não se mantiverem os cuidados essenciais com as outras doenças, e procurar otimizar o estado de saúde nesta altura é a melhor forma de preparar um inverno que se prevê difícil pela possibilidade da segunda vaga de Covid-19 juntamente com a chegada da gripe sazonal.
Neste momento de enormes incertezas e receios, cada Instituição procura dar a melhor resposta possível em simultâneo à Covid-19 e a todas as outras doenças que não deixaram de existir. Através de uma rigorosa e completa reestruturação dos serviços de saúde, foram implementadas medidas para que se possa recorrer às unidades de saúde com toda a segurança.
Nunca como agora foi tão importante manter rotinas de vigilância e prevenção. Esta atuação precoce permite reduzir a mortalidade, bem como aumentar a qualidade de vida, pois leva à redução das complicações e sequelas decorrentes das próprias doenças ou de tratamentos que têm de ser mais agressivos caso o diagnóstico seja realizado mais tarde. Nenhuma caminhada pode começar sem se dar o primeiro passo, que neste caso corresponde a uma avaliação médica global e individualizada. Com base nesta avaliação, define-se o trajeto a seguir, aferindo os exames complementares necessários e adoptando as estratégias terapêuticas mais adequadas. Sabendo que os homens “evitam” ir ao médico, mas sabendo também que em geral os homens morrem mais jovens do que as mulheres, este alerta torna-se essencial.
As principais causas de morte no nosso país, segundo o Instituto Nacional de Estatística, são as doenças oncológicas e as doenças cardiovasculares (enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, entre outras), correspondendo juntas a mais de metade dos óbitos em Portugal. Nas idades mais jovens, nomeadamente abaixo dos 65 anos, a maior parte das mortes e/ou sequelas destas doenças ocorrem nos homens, levando ao dobro dos anos potenciais de vida perdidos por parte do sexo masculino quando comparado com o sexo feminino. O diagnóstico e a intervenção precoces neste tipo de doenças, quer oncológicas quer cardiovasculares, têm um grande impacto não só no aumento significativo do número de anos de vida mas também, e principalmente, na qualidade dos mesmos. Sabemos que, tradicionalmente, os homens recorrem menos a cuidados de saúde do que as mulheres, o que pode contribuir para esta discrepância na mortalidade entre sexos em idades mais jovens.
Os rastreios oncológicos implementados a nível populacional em Portugal são direcionados para cancro da mama, cancro do colo do útero e cancro colo-rectal com pesquisa de sangue oculto nas fezes. Contudo, o facto de não existirem outros programas de rastreio a nível populacional não nos pode fazer baixar o nível de investimento no conhecimento e prevenção em relação a outras doenças, devendo cada pessoa ser avaliada de forma individual.
As doenças cardiovasculares são também uma importante causa de mortalidade precoce e de perda de qualidade de vida. As primeiras medidas para evitar estas doenças são a adopção de um estilo de vida saudável, com alimentação equilibrada, prática regular de exercício físico e abandono de hábitos prejudiciais como por exemplo o tabaco. Existem também várias doenças, tais como a hipertensão arterial, a diabetes mellitus e a dislipidémia (níveis elevados de colesterol), que são fatores de risco importantes para o aparecimento de doença cardiovascular grave. O diagnóstico atempado e o tratamento adequado destes fatores de risco são essenciais para se conseguir evitar ou adiar ao máximo a evolução para doença cardiovascular. Estas são situações que, habitualmente, só apresentam sintomas numa fase muito avançada, onde muito do dano causado pode já ser irreversível, o que reforça a importância de avaliações clínicas regulares para que seja possível fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento em tempo útil.
Cada pessoa tem a sua própria história individual (profissão, hábitos alimentares, prática de exercício físico, consumo de álcool, tabaco ou outras drogas, hobbies) e familiar. O médico, através de uma avaliação clínica completa, traça um plano de promoção de saúde e prevenção de doença para cada um dos seus doentes, com recurso a variados exames complementares de diagnóstico e a estratégias terapêuticas farmacológicas (medicamentos) ou não farmacológicas (correção de hábitos do dia a dia para adoção de um estilo de vida mais saudável).
Existe uma obrigação individual de preocupação com a própria saúde, e uma consequente necessidade de avaliação médica individualizada no sentido de perceber que exames e que medidas são “obrigatórios” para cada pessoa. Comece agora a preparar o seu inverno!