O peru é um dos alimentos mais consumidos nesta altura do ano. Estima-se que anualmente sejam criados para consumo cerca de 250 milhões de perus, sendo que o principal produtor dos mesmos são os Estados Unidos da América. Esta situação deve-se sobretudo à tradição Americana de consumir peru assado recheado no dia de Ação de Graças, que é uma data muito importante nesse país, na qual ocorrem reunião familiares e de amigos em quase todas as casas.
Tal como acontece com todos os tipos de carne, há vários fatores que podem influenciar de forma muito significativa a sua composição nutricional, tais como o método de produção e a alimentação do animal. Por exemplo, sabe-se que os perus criados ao ar livre, e com uma alimentação mais natural, e menos à base de ração, tendem a ser mais ricos em gordura insaturada ómega-3, cujo consumo tem vindo a ser associado a vários potenciais benefícios, bem como de vitamina A. Adicionalmente, é de destacar que a composição nutricional da carne depende muito da parte do animal que se está a considerar.
O peito ou a perna?
A carne de peru é globalmente considerada uma boa opção para quem procura ter uma alimentação muito nutritiva, mas com menos calorias. De facto, juntamente com outras carnes (tais como frango e coelho), é considerada uma carne magra e por isso faz parte da rotina alimentar de muitas pessoas. Mas será que os diferentes tipos de carne de peru são equivalentes? O que acontece quando se coloca frente-a-frente o peito de peru e a perna de peru?
O peito de peru apresenta menos calorias, mais proteína, menos gordura, colesterol e gordura saturada. Em relação às vitaminas, a perna de peru possui uma maior quantidade de vitamina B2, ácido fólico, B12 e D, enquanto que o peito de peru contém mais vitamina B3 e B6. Quanto aos minerais, há mais potássio, fósforo e magnésio no peito de peru, mas mais sódio, cálcio, ferro e zinco na perna de peru.
Formas de consumo
A primeira preocupação relacionada com o consumo do peru prende-se com a escolha. Sempre que possível deve-se escolher perus que tenham sido criados ao ar livre, não só por causa do bem-estar animal que nesse método de produção é bem mais significativo, mas também porque existem vantagens do ponto de vista nutricional.
São muitas as formas de cozinhar peru. Talvez a mais tradicional seja assado, sendo que neste caso é muitas vezes recheado antes de ir para o forno. Nesses casos, é frequente marinar o peru antes de o assar. Além de poder ser assado, o peru, e em particular o peito de peru, também é frequentemente grelhado. Como se trata de uma carne muito magra, o peito de peru faz parte das preferências alimentares de muita gente, nomeadamente de quem quer perder peso ou manter um peso baixo. Outra forma de consumir peru é em estufados, sendo que neste caso o mesmo pode ser combinado com muitos alimentos diferentes, nomeadamente hortícolas, ervas aromáticas e especiarias.
Uma das formas de consumo que tem vindo a ganhar mais destaque nos últimos anos é o fiambre de peru. Neste caso, apresenta a clara vantagem de ser menos gordo do que os tradicionais fiambres de porco. Consequentemente, apresenta um potencial calórico inferior. No entanto, isso não significa que se trate de um alimento “saudável”, pois continua a ser carne processada, que tradicionalmente contém muito sal e vários aditivos, e cujo consumo deve ser efetuado com muita moderação. Esta ideia estende-se também a outras formas processadas de peru, tais como salsichas, hambúrgueres pré-preparados, bacon ou chouriço.
Potenciais benefícios
A carne de peru apresenta tendencialmente um teor de gordura inferior ao da maior parte das outras carnes. Como a maior parte da gordura de origem animal é gordura saturada, cujo consumo está relacionado com um aumento do risco de aparecimento de vários tipos de doenças, nomeadamente doenças cardiovasculares, o facto de ser uma carne magra torna a carne de peru uma opção alimentar mais interessante. Adicionalmente, mais de metade da gordura existente no peru tende a ser insaturada, o que representa uma vantagem adicional do ponto de vista nutricional. Além disso, o seu potencial calórico é também baixo, principalmente se for cozinhado e consumido sem pele.
A carne de peru apresenta um elevado teor de proteína (em média cerca de 20%). Esta proteína é de elevado valor biológico, ou seja, contém todos os aminoácidos (blocos de construção de proteínas) em proporções adequadas. Contém ainda níveis elevados de várias vitaminas que pertencem ao complexo B, em especial vitamina B12, mas também B3, B6 e B2. O teor mineral da carne de peru é igualmente interessante. Neste contexto, é de destacar os níveis elevados de ferro, fósforo e zinco.
Sendo a carne de peru rica em proteína, o seu consumo está associado a uma maior sensação de saciedade. Esta situação deve-se ao facto de a proteína atrasar o processo digestivo, e, consequentemente, uma diminuição da sensação de fome, que se prolonga no tempo enquanto a digestão estiver a ocorrer.
Além de ser muito rica em ferro, a carne de peru contém também uma quantidade muito elevada de vitamina B12. Estes dois micronutrientes são muito importantes para a formação dos glóbulos vermelhos, pelo que o consumo de peru pode contribuir para diminuir o risco de anemia.
João Rodrigues é autor do blogue 'Mundo da Nutrição' e do livro 'Duelos de Alimentos'. Para ficar a conhecer outras análises nutricionais, visite a página de Facebook ou de Instagram - @mundo.da.nutricao.