Covid-19: Vacinas para jovens ou idosos primeiro? Entenda o dilema
Com um número limitado de vacinas contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, causador da Covid-19, e milhões de casos de infeção em todo o mundo, debate-se quem deve afinal ser imunizado primeiro.
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Enquanto a grande maioria dos países têm optado por vacinar antes os idosos e os profissionais de saúde que estão na linha de frente, a Indonésia fugiu à regra e decidiu imunizar primeiro os trabalhadores entre os 18 e 59 anos, reporta um artigo publicado na BBC News.
Estamos perante duas estratégias com objetivos bastante diferentes e tanto uma como outra têm prós e contras.
'Efeito dominó': começar pelos que circulam mais?
Se existissem doses em abundância, um programa de imunização universal poderia teoricamente atingir esses objetivos ao mesmo tempo, porém não é o caso. As doses de vacinas existentes são limitadas e como tal é imperativo estabelecer prioridades.
Destacam-se assim duas metas possíveis de vacinação, nomeadamente: diminuir o número de casos graves e de mortes ou travar a transmissão do novo coronavírus de modo a acabar com a pandemia.
Se o objetivo for barrar a propagação do SARS-CoV-2, então em tese é melhor começar a vacinar os adultos em idade produtiva, tal como fez a Indonésia. Visto que são os jovens quem circulam mais.
"O nosso alvo é aqueles que provavelmente espalharão o vírus", afirmou à BBC o professor Amin Soebandrio, que integra um conselho científico que aconselhou o governo indonésio.
Para Márcio Sommer Bittencourt, do centro de pesquisa clínica e epidemiológica do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP), no Brasil, de relance, parece tratar-se de uma estratégia eficaz, visto que potencialmente causaria um 'efeito dominó'. Por outros palavras, uma redução no índice de transmissão levaria a um menor número de infetados, internamentos e consequentemente de mortes.
"Mas na prática não é tão simples", refere Bittencourt.
Isto porque, explica a BBC News, primeiro levaria algum tempo para esse efeito positivo se refletir em menos óbitos entre os idosos, que entretanto continuariam a morrer. O que se torna no mínimo eticamente questionável, ao permitir deliberadamente que um grupo mais frágil da população permaneça vulnerável a contrair o vírus, dando prioridade de vacinação a pessoas saudáveis.
Quem é vacinado ainda podem transmitir o vírus?
A verdade é que, até ao momento, os estudos realizados ainda não descobriram o potencial das vacinas de impedir a transmissão da Covid-19. Sendo que os testes indicaram somente a sua eficácia na prevenção de formas ligeiras e graves da patologia.
Ou seja, se um indivíduo for vacinado e continuar a transmitir o novo coronavírus, a escolha de começar pelos mais jovens poderá ser catastrófica, visto que a pandemia não irá acabar, e os mais idosos continuarão vulneráveis e suscetíveis à letalidade do vírus.
"Com as informações que temos hoje, parece-me arriscado escolher vacinar as pessoas economicamente ativas", partilha o epidemiologista da USP.
Teoria que partilha por exemplo o comité que aconselhou o governo do Reino Unido na decisão de dar prioridade aqueles que podem ter formas mais severas de Covid-19.
Os especialistas britânicos explicaram que, perante a falta de dados científicos acerca do efeito da vacinação sobre a transmissão e da situação epidemiológica do país, esta seria a melhor opção com o intuito de prevenir mais mortes.
De acordo com Renato Kfouri, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIM), o "objetivo primordial" consiste em diminuir drasticamente a hospitalização e a mortalidade.
"Além de evitar mortes, que é o desfecho mais importante de qualquer doença, evita-se a sobrecarga do sistema de saúde, o que afeta também pessoas que têm outras doenças e que não podem ser atendidas adequadamente", menciona.
O que requer que a imunização comece imperativamente pela população idosa, já que a idade avançada e a consequente fragilidade do sistema imunitário são os principais fatores de risco para o desenvolvimento de Covid-19 grave e inclusive fatal.
Para o médico a Indonésia "vai na contramão da ciência" ao começar a vacinar pelos adultos.
"Vacinar os que mais transmitem pode ser uma estratégia complementar, após já terem sido vacinados os mais vulneráveis. Fazer algo diferente disso é contraproducente porque seria preciso vacinar 90% dos adultos para ter um impacto, o que seria mais tardio", conclui Kfouri.
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