Uma equipa de investigadores da Universidade Vita-Salute San Raffaele, em Milão, em Itália, acompanhou 122 doentes que sofriam de Covid-19 e apurou que grande parte deles teve sequelas na boca, possivelmente devido à patologia ou a fatores relacionados ao internamento e tratamento, como a toma de fármacos específicos, reporta um artigo publicado na revista Galileu.
Os cientistas traçaram o perfil dos pacientes entre julho e setembro de 2020, sendo que alguns haviam estado hospitalizados e outros somente foram acompanhados numa única consulta.
Todos os voluntários foram também avaliados por um dentista, que realizou exames bucais em busca de possíveis anormalidades nos lábios, bochechas, glândulas salivares, membranas mucosas e outras estruturas da cavidade oral.
Posteriormente, explica a Galileu, os académicos concluíram que manifestações orais variadas eram comuns em 83,9% dos participantes envolvidos na pesquisa. Entre os quais, 43% apresentavam um quadro de ectasia da glândula salivar, caracterizado por glândulas inchadas, porém sem pus.
Mais ainda, os especialistas detetaram que os problemas bucais podem ser uma reação hiperinflamatória ao SARS-CoV-2.
Contudo, uma análise revelou que o risco de desenvolver ectasia da glândula salivar estava igualmente associado à presença de duas substâncias. Compostos esses que apresentavam elevadas quantidades no organismo dos doentes no momento de internamento hospitalar, nomeadamente a proteína c-reactiva, produzida pelo fígado; e a enzima lactato desidrogenase, que contribui para transformar a glicose em energia.
Os cientistas destacam ainda que o surgimento de anormalidades na cavidade oral pode dever-se em parte à toma de antibióticos durante a hospitalização dos pacientes com Covid-19.
"Elevadas doses de corticosteroides podem precipitar infeções fúngicas, como candidíase oral, enquanto medicamentos antivirais podem causar estomatite, úlceras aftosas e boca seca em uma fração consistente de pacientes", disseram os investigadores.
Muitas pessoas reportaram ainda terem experienciado dor facial e fraqueza da musculatura mastigatória.
"Isso [o estudo] sugere que a cavidade oral representa um alvo preferencial para a infeção por SARS-CoV-2", referiu, num comunicado à imprensa, o editor-chefe do JDR, Nicholas Jakubovics, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido.
"Mais estudos são necessários para esclarecer a conexão entre a infeção por SARS-CoV-2 e distúrbios orais", concluiu.
O estudo foi publicado no Journal of Dental Research (JDR).