Sonambulismo. O que é este distúrbio que o faz andar pela casa a dormir?

Conhece os sintomas e as causas do sonambulismo? Sabe a quem acontece? E os mitos? Falámos com Célia Lavaredas, médica especialista em Medicina Geral e Familiar, e esclarecemos algumas questões.

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© Shutterstock/Lifestyle ao Minuto

Mariana Moniz
22/04/2025 08:45 ‧ há 4 horas por Mariana Moniz

Lifestyle

O Médico Explica

O sonambulismo é uma doença incompreendida por muitos, podendo, inclusivamente, assustar quem assiste a um episódio. 

 

Tal como pode ler-se no 'website' da rede de saúde CUF, "o sonambulismo pertence à categoria das doenças do sono. Pensa-se que caminhar enquanto se dorme é sinónimo de sonambulismo, o que é um erro, uma vez que essa situação pode ter diversas causas, com tratamentos igualmente diferentes".

O distúrbio é mais frequente nas crianças, porém, existem adultos que também apresentam episódios de sonambulismo. Segundo a CUF, "estima-se que cerca de 10% a 20% das crianças têm pelo menos um episódio de sonambulismo, mas a prevalência da perturbação é muito menor. Nos adultos, a sua incidência é de 1% a 7%". 

Para entender melhor esta condição, o Lifestyle ao Minuto, no âmbito da rubrica O Médico Explica, falou com Célia Lavaredas, médica especialista em Medicina Geral e Familiar nos Serviços de Saúde da Universidade de Coimbra.

Notícias ao Minuto © Célia Lavaredas  

O que é o sonambulismo?

É uma parassónia ou distúrbio do sono em que, numa fase inicial de sono profundo, o doente levanta-se, caminha e fica ativo, sem acordar e sem ter consciência do que está a fazer.

Com que idade pode surgir este distúrbio do sono?

O mais comum é surgir durante a infância, entre os 4 e os 8 anos, e desaparecer na adolescência, após os 14-15 anos. O surgimento na fase adulta é mais raro e está habitualmente relacionado com fatores desencadeantes.

Quais são as principais causas?

Não se sabe exatamente a causa, embora possa estar relacionado com a maturação cerebral nas crianças e, seguramente, tem um forte componente genético (mais frequente em gémeos idênticos e em pessoas com histórico familiar).

Contudo, podemos elencar vários fatores desencadeantes, tais como a fadiga e a ansiedade; a privação de sono; outras patologias do sono como Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono; alterações hormonais da adolescência e da gravidez; febre; pesadelos/terrores noturnos; consumo de álcool e outras substâncias.

E quais são os principais sintomas?

Alguns sinais e sintomas que podem identificar um sonâmbulo são: surgir nas primeiras 2-3 horas após adormecer; falar e caminhar durante o sono; manter os olhos abertos, mas inexpressivos; ter alguns comportamentos bizarros; ter algumas competências limitadas, como a coordenação motora; dificuldade em acordar; não se lembrar do sucedido; normalmente não há agressividade, exceto se houver uma tentativa de acordar o sonâmbulo de forma brusca.

É possível prevenir?

A prevenção relaciona-se com o controlo dos fatores predisponentes, como o tratamento de doenças subjacentes, a regularização dos padrões de sono, o controlo da febre em situações agudas e a evicção do consumo de substâncias. Os fatores que são inatos e que não dependem do próprio ou de terapêutica, como é a genética, não se conseguem controlar.

Existe algum grupo de pessoas que esteja mais suscetível a sofrer com esta condição?

Como anteriormente indicado, são as pessoas com determinadas caraterísticas e/ou com fatores predisponentes: crianças, sexo masculino, pessoas com antecedentes familiares e com perturbações anteriores do sono, e ainda consumidores de certos medicamentos ou substâncias.

Os episódios de sonambulismo acontecem com que regularidade? Difere de pessoa para pessoa? 

A frequência dos episódios varia com a idade, com a genética e com a qualidade prévia do sono, porém, são mais comuns nas crianças. São episódios habitualmente esporádicos e tendem a diminuir com a idade. Nos adultos, são mais raros, mas, quando ocorrem, tendem a ser mais persistentes. 

Pessoas com sonambulismo podem ter comportamentos de risco? Se sim, que cuidados devem ter para minimizar os mesmos?

Uma vez que os episódios ocorrem durante o sono e a pessoa não tem consciência dos seus atos, pode incorrer em situações perigosas, que têm que ver, sobretudo, com os espaços por onde deambula.

Que mitos existem relativamente a este distúrbio?

Existem vários mitos que podem ser associados, como o de que 'só acontece com as crianças'. Como já foi explicado, os adultos também podem sofrer com este distúrbio do sono. Outro exemplo: 'sonambulismo é sinal de doença mental'. Não é verdade. É um distúrbio do sono, associado a vários fatores.

Outro mito muito comum é o de que 'não se pode acordar um sonâmbulo'. Podemos acordá-lo com cuidado e calmamente. Pode surgir um período de confusão, porque a pessoa habitualmente acorda desorientada. Acredita-se também que 'o sonâmbulo normalmente está a sonhar', mas, na verdade, o sonambulismo ocorre na fase de sono profundo, antes do período REM, dos sonhos. 

'O sonâmbulo caminha sempre de braços esticados', é outro mito. É um estereótipo associado a este distúrbio. A pessoa pode caminhar normalmente, sentar-se na cama, falar ou até fazer coisas mais complexas, como comer.

O sonambulismo desaparece em alguma fase da vida?

Normalmente, durante a adolescência. Apenas 1% das crianças sonâmbulas mantêm a perturbação na idade adulta.

Quais as principais diferenças entre uma criança sonâmbula e um adulto sonâmbulo?

É importante entender que o sonambulismo em crianças é, geralmente, benigno e tende a desaparecer à medida que elas crescem. No entanto, é determinante garantir que o ambiente de sono da criança seja seguro e tomar medidas para reduzir o stress e a ansiedade que podem contribuir para o sonambulismo. Nas crianças, o sonambulismo costuma ser transitório e benigno. Nos adultos, é mais frequentemente crónico e ligado a fatores externos ou clínicos e pode exigir investigação médica.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é essencialmente clínico, de acordo com as caraterísticas e os comportamentos apresentados. De uma forma geral, é importante perceber a história clínica (antecedentes, patologias) e o diário do sono. Também podem ser pedidos exames como a polissonografia (estudo do sono), eletromiografia ou eletroencefalografia para descartar outras possíveis condições.

O que não se deve fazer a uma pessoa sonâmbula?

Deve evitar acordá-la de forma brusca. Não deixe a pessoa em locais perigosos. Tente, sim, guiá-la para a cama. Não confronte nem force se a pessoa oferecer resistência, tenha noção de que a pessoa não está consciente do que se passa. Mantenha a vigilância e não 'dramatize' o sucedido, pois isso pode aumentar os receios relacionados com o sono. Por fim, não ignore episódios muito frequentes e procure ajuda profissional.

Quem vive com pessoas sonâmbulas pode ajudar de que forma?

É essencial ter alguns cuidados com o ambiente que rodeia a pessoa, de forma a salvaguardar condições de segurança. Deve-se fechar a porta e retirar as chaves, para que a pessoa não saia de casa inadvertidamente. Retire objetos perigosos do seu alcance, remova obstáculos para evitar quedas, bloqueie o acesso a escadas, pode também usar luzes com sensor, que alertam a família em caso de movimentos.

Existe cura para o sonambulismo? Quais os tratamentos possíveis?

Embora não haja uma cura definitiva para o sonambulismo, existem várias opções de tratamento que podem ajudar a reduzir a frequência e a gravidade dos episódios.

Uma opção comum é a terapia cognitiva comportamental, que envolve a identificação e a modificação de comportamentos e hábitos que possam estar a contribuir para o sonambulismo.

Os medicamentos também podem ser prescritos em casos mais graves, mas, geralmente, são reservados para situações em que o sonambulismo causa um impacto significativo na qualidade de vida do paciente.

Leia Também: Especialistas revelam como os peluches podem melhorar o sono dos adultos

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