A bola doce mirandesa de raiz conventual deixou de ser um fenómeno sazonal e assumiu o papel de produto regional que já é vendido durante todo o ano, em Lisboa, no Porto e outros pontos do país, devido à qualidade que é imposta pelos produtores locais.
Apesar desta mudança, os produtores deste doce que remonta ao tempo dos descobrimentos dizem que a pandemia de covid-19 traz quebras à produção, mas fruto de novas tecnologias os produtos "ainda vão saindo", contudo, em menores quantidades que num ano tido como normal.
"Estamos a aguardar que o processo de certificação da bola doce mirandesa seja concluído. São processos longos e burocráticos. Mas acreditamos no potencial deste produto que é apreciado em todo o país e estrangeiro", disse à Lusa a vereadora do município de Miranda do Douro, Anabela Torrão.
Segundo a autarca, a Bola Doce Mirandesa é "um doce genuíno e um dos ícones gastronómicos do Planalto Mirandês", no distrito de Bragança, "tradicionalmente associado à Páscoa, sendo presença obrigatória à mesa dos apreciadores devido ao seu sabor único e textura diferenciada".
A bola doce é feita com canela e açúcar às camadas, sendo amassada à mão e cozida em forno tradicional a lenha.
Contrariamente à maioria dos folares de Páscoa, a bola mirandesa "é um doce húmido e intenso". A massa, igual à do pão, mas mais fina, é intercalada com camadas de açúcar e canela e o recheio também é feito em camadas.
O seu aspeto "tosco" esconde uma massa "fofa e húmida", graças ao recheio de açúcar e canela que desperta ao olhar dos apreciadores.
Este doce de tempo de Páscoa tem mesmo um certame que lhe é dedicado, entretanto suspenso devido à pandemia, tendo a autarquia de Miranda do Douro apostado na promoção do produto através do Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses, com portes grátis para compras superiores a 15 euros.
Para visitar o Merc@do de Sabores e Saberes Mirandeses basta aceder a www.mercadosaboresesaberesmirandeses.pt.
O envio é válido para Portugal continental, Ilhas (Açores e Madeira) e Espanha, após compras superiores a 15 euros.
Paula Domingues, uma das principais produtoras de bola doce na Terra de Miranda, disse que há quebras acentuadas na comercialização do produto e que o impacto se tenta minimizar através do recurso às novas tecnologias.
"Fazemos bola doce quase todos os dias, mas em tempo de Páscoa é bem diferente. Na Páscoa de 2020 fomos aguentando, este ano as quebras nas vendas são maiores e com mais impacto. Com o confinamento não há circulação de pessoas e as quebras caíram muito", disse.
"Resta esperar que na semana que antecede a Páscoa, as vendas aumentem através da plataforma digital, mas não será a mesma coisa. Não havendo feira e mercados as quebras são muito grandes", vincou a produtora.
O historiador António Rodrigues Mourinho fez um levantamento deste produto e concluiu que se trata de uma peça de pastelaria com origem, pelo menos, em tempos dos descobrimentos portugueses.
"Há registos pelo menos desde 1510, que indicam [esta como] a data mais provável da introdução da bola doce nas mesas dos habitantes do Planalto Mirandês. A tradição foi herdada dos conventos ou de famílias do clero e de gente rica. O povo foi modificando a bola à maneira regional, dando-lhe uma forma e sabor próprio que a distingue da doçaria de outras regiões", referiu o investigador.
Atualmente, há mais de uma dúzia de unidades que fabricam durante todo ano a bola doce mirandesa e que mantêm "fé no futuro", já que acreditam que a situação pandémica será ultrapassada e tudo volte a uma nova realidade, mas na qual as vendas 'online' serão para manter.
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