Cancro da tiroide: Esclareça as dúvidas mais frequentes
Um artigo escrito por Tiago Pimenta, Cirurgião Endócrino no Hospital CUF Porto.
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A 24 de setembro assinala-se o Dia da Sensibilização para o Cancro da Tiroide, uma data importante para lembrar que o diagnóstico precoce é essencial e que existe tratamento na maioria dos casos! Conheça algumas das dúvidas mais comuns sobre esta doença.
Todas as doenças da tiroide são malignas?
Não. Existem doenças da tiroide que são benignas e malignas.
As doenças da tiroide são bastante frequentes e afetam sobretudo as mulheres (cerca de 80% dos casos). Podem surgir em qualquer idade mas é a partir dos 35 anos que se verificam a maioria dos casos.
Sabe-se que há vários fatores de risco relacionados com a patologia tiroideia como por exemplo a deficiência de iodo, fatores familiares, origem de zonas endémicas de bócio, exposição a radiações, etc. No entanto, na maioria das situações, não é possível identificar a causa exata que desencadeou cada caso particular.
A que sintomas se deve estar atento?
As alterações da função tiroideia podem causar sintomas típicos que nos alertam para essas doenças. No entanto, os nódulos normalmente só apresentam sintomas quando as lesões são grandes ou são superficiais. A sua avaliação exige a caracterização por ecografia e, em casos selecionados, realização de biópsia.
Sendo a maioria destes de origem benigna, para além de vigilância, não são necessários outros cuidados. Contudo, a incidência de cancro da tiroide tem vindo a aumentar em Portugal, onde são diagnosticados mais de 500 casos por ano. O diagnóstico precoce é o maior aliado no sucesso do tratamento pois permite tratar de uma forma eficaz esta doença.
Assim, perante a identificação de um nódulo na tiroide torna-se fundamental a sua caracterização a fim de avaliar a necessidade de tratamento. Caso detete alguma alteração, procure o seu médico de imediato.
Que tipos de cancro da tiroide existem?
Existem vários tipos de tumores malignos da tiroide, no entanto o carcinoma papilar e o carcinoma folicular são responsáveis por mais de 90% deles. Sendo os mais frequentes, felizmente são os que têm melhor prognóstico e são curáveis na grande maioria dos casos.
Outro tipo de tumor é o carcinoma medular que representa cerca de 5% das neoplasias malignas tiroideias. Embora o seu prognóstico seja geralmente bom, pode ter um comportamento mais agressivo.
Há outras formas de cancros da tiroide com comportamento biológico muito heterogéneo que são, no entanto, extremamente raros.
E como se trata o cancro da tiroide?
A cirurgia é a principal arma no tratamento desta patologia. Geralmente é um procedimento que embora complexo é pouco agressivo e muito bem tolerado pelos doentes.
O objetivo da cirurgia é a eliminação de toda a doença com a remoção da glândula e por vezes de gânglios linfáticos cervicais quando atingidos.
Na maioria dos casos procede-se a uma remoção total da tiroide (tireoidectomia total)embora possa haver casos em que apenas é necessário remover metade da glândula.
O procedimento habitualmente é feito através de uma incisão arqueada horizontal com cerca de 4 cm, realizada na porção inferior do pescoço.
Em casos selecionados, para além da cirurgia, está indicada a realização de terapia com iodo radioativo. Este tratamento consiste na administração de uma cápsula de iodo radioativo que vai ser absorvido quase em exclusivo pelas células da tiróide levando à sua própria destruição, sem haver lesão apreciável de outras células.
Após a cirurgia é necessário tomar medicação para o resto da vida para repor a hormona tiroideia.
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E depois da cirurgia? Pode haver complicações?
As complicações mais comuns a qualquer cirurgia são praticamente inexistentes neste caso. No entanto, dadas as particularidades anatómicas da região tiroideia, nomeadamente a íntima relação dos nervos laríngeos e das glândulas paratireoides, há duas complicações que embora muito raras (<1%) são mais preocupantes: rouquidão (por lesão do nervo laríngeo recorrente) e hipoparatireoidismo.
O nervo laríngeo recorrente é responsável pela enervação dos músculos dos movimentos da corda vocal e a sua lesão paralisa-a, causando rouquidão.
As paratireoides produzem a hormona PTH que é importante na regulação do metabolismo do cálcio e fósforo. São geralmente quatro e de pequenas dimensões (cerca de 3 mm). É fundamental a sua identificação durante a cirurgia de modo a serem preservadas com a sua irrigação e assim manterem a sua função. Se houver défice de PTH poderá ser necessário suplementação com cálcio e vitamina D no pós-operatório.
Como em todas as cirurgias, mas particularmente nesta, a experiência e diferenciação da equipa cirúrgica são fatores determinantes para a redução da taxa de complicações.
É preciso uma vigilância regular?
Sim. Após o tratamento os doentes continuam a ser seguidos em consulta, por um especialista com diferenciação nesta doença, onde é feita uma realização periódica de análises, ecografias e eventualmente ajustes de medicação.
A avaliação, tratamento e seguimento destas doenças é complexo e envolve a intervenção de várias especialidades. A criação de grupos multidisciplinares que congreguem profissionais das diversas especialidades diferenciados nesta patologia é fundamental para a prestação de cuidados de excelência.
Por isso, torna-se fundamental que o doente seja acompanhado num centro especializado, com uma equipa experiente no diagnóstico e tratamento destas doenças.
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