Tudo o que deve saber sobre cancro da tiroide, segundo uma especialista
Uma boa notícia é que 85 a 90% dos nódulos da tiroide são benignos, sendo que a cirurgia é curativa em grande parte dos cancros diferenciados da tiroide. No Dia da Sensibilização, Inês Sapinho, coordenadora de endocrinologia e da unidade da tiroide do Hospital CUF Descobertas - CUF Oncologia para o Cancro da Tiroide, chama a atenção para a importância do diagnóstico precoce.
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À semelhança de muitos dos doentes que vão à minha consulta, talvez nunca tenha ouvido falar da tão importante glândula tiroideia - ou, pelo contrário, conheça bastantes pessoas com problemas nesta glândula. De facto, a tiroide é uma glândula única, situada na região anterior do pescoço, cuja atividade afeta todo o nosso organismo.
A glândula tiroideia produz as hormonas, vulgarmente conhecidas por T3 e T4, que atuam em quase todas as células do nosso corpo, sendo essenciais à vida. Podemos afirmar, de uma forma simplificada, que regulam a velocidade de funcionamento das células, garantindo o equilíbrio do organismo.
Quando a sua produção está alterada, podemos ter um hipotiroidismo (falta de hormonas) ou um hipertiroidismo (excesso de hormonas). Apesar de muitos dos sintomas associados a estas doenças não serem específicos, podemos simplificar, dizendo que no hipotiroidismo o organismo está mais lento e no hipertiroidismo fica mais acelerado. Estima-se que as doenças da tiroide afetem mais de 10% da nossa população.
Para além, das disfunções na produção das hormonas, a tiroide pode ter alterações na sua estrutura e organização, os chamados nódulos. A identificação destes nódulos - único ou múltiplos - desencadeia, muitas vezes, uma cadeia de reações e emoções pelo facto de se associarem à existência de um cancro na tiroide, o que não é verdade em cerca de 90 a 95% dos casos.
Terem-lhe diagnosticado um nódulo da tiroide não significa ter um cancro na tiroide. Mas deverá ser excluído. Não há uma causa exata para o desenvolvimento do cancro da tiroide. No entanto, já são bem conhecidos alguns fatores que aumentam o risco de o desenvolver, como a história de exposição a radiação ionizante na cabeça e no pescoço, assim como a história familiar.
Na maioria dos casos, os carcinomas da tiroide são assintomáticos. Por vezes, são detetados pelos próprios doentes ou pelo médico, ao fazer a palpação cervical. Com frequência, ao realizarem-se exames à região cervical, também se descobrem nódulos na tiroide. O exame físico e as análises não permitem determinar se um nódulo é ou não maligno. Assim, a ecografia é fundamental para determinar as dimensões e as características.
De acordo com as características ecográficas estes nódulos podem ter indicação para a realização de uma citologia aspirativa com agulha fina, que recolhe células para estudo microscópico, e assim conseguimos identificar os que são malignos ou suspeitos. Todos os doentes com patologia nodular devem fazer a avaliação da função tiroideia.
Algo que penso ser extremamente importante destacar é que por se ter umas análises de função tiroideia normais, não significa que não se tem um carcinoma. Um outro mito que deve ser esclarecido é que o facto de as análises da tiroide estarem normais não significa que não se tem problemas da tiroide. . Sugiro que esclareça com o seu endocrinologista as suas dúvidas e receios, bem como aos tratamentos ou complicações.
Uma boa notícia que deve ser realçada é que entre 85 a 90% dos nódulos da tiroide são benignos.Perante um nódulo maligno, a cirurgia é a primeira opção terapêutica, sendo que irá depender da extensão da doença, da idade do doente, da presença de nódulos bilaterais e das doenças associadas. Não posso deixar de reforçar que a experiência do cirurgião é essencial para o sucesso do tratamento.
Em relação às cirurgias é preciso esclarecer que é fundamental um cirurgião dedicado a esta patologia e inserido numa equipa multidisciplinar. Todos os avanços tecnológicos nesta área têm contribuído para a diminuição das complicações cirúrgicas, no entanto a experiência do cirurgião é crucial no sucesso desta cirurgia.
Nos últimos anos, perante cancros milimétricos, e em situações pontuais já se começa a optar por fazer apenas a vigilância do nódulo, isto por sabermos que a probabilidade de o cancro aumentar e agravar, é muito baixa. Esta opção só deverá ser realizada em centros especializados com equipas multidisciplinares.
Outra boa notícia é que a cirurgia é curativa em grande parte dos carcinomas diferenciados da tiroide. No entanto, em determinados casos, é necessário efetuar tratamento com iodo radioativo, para destruir o tecido tiroideu (benigno ou maligno) que não tenha sido removido com a cirurgia. Após a cirurgia é necessário repor a hormona tiroideia, com medicação para o resto da vida. Esta medicação tem dois benefícios: por um lado, a substituição da hormona que a tiroide produziria; por outro suprimir qualquer estímulo para o crescimento de células da tiroide. Saliento que com a reposição da hormona tiroideia, o doente mantém o seu bem-estar.
Sublinho a importância de se manter o acompanhamento em consulta especializada de endocrinologia, idealmente, integrada numa equipa multidisciplinar ao longo da vida. O seguimento com a realização de análises e exames de imagem vai permitir assegurar a ausência de doença - e, em situações menos frequentes, ao identificar uma recidiva, poderemos agir atempadamente.
Termino alertando para que se notar - ou lhe for detetado - um nódulo cervical, procure imediatamente um endocrinologista, de preferência integrado numa equipa multidisciplinar, já que o diagnóstico precoce é o maior aliado no sucesso do tratamento.
*Artigo assinado por Inês Sapinho, coordenadora de endocrinologia e da unidade da tiroide do Hospital CUF Descobertas - CUF Oncologia para o Cancro da Tiroide e autora do livro 'Os segredos da sua tiroide'
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