O número de novos casos de cancro do pulmão tem vindo a aumentar de forma progressiva. A doença desenvolve-se de forma silenciosa durante muitos anos, sem que existam sintomas.
Quando estes surgem, são muitas vezes desvalorizados e, na sua maioria, manifestam-se numa fase já avançada de doença. É este o motivo pelo qual as taxas de cura no cancro do pulmão são baixas e este seja a principal causa de morte por doença oncológica no mundo inteiro.
Não há sintomas específicos do cancro do pulmão, eles apenas refletem a localização e extensão das lesões. Quando presentes, normalmente são indicadores de doença que não é passível de cura.
Nelson Serrano Marçal© DR
Podem condicionar sintomas constitucionais como a perda de peso exagerada e não explicada pela dieta, a fadiga e a perda de apetite ou sintomas respiratórios:
- Tosse (ou a mudança das características da tosse);
- Falta de ar;
- Hemoptise (saída de sangue com a tosse);
- Rouquidão;
- Dor torácica.
No fundo, a lista de sintomas é muito mais extensa e variável dado o imprevisível envolvimento do tumor em todo o nosso corpo. Na suspeita de um tumor do pulmão é fundamental a avaliação em consulta de pneumologia não só para validar essa suspeita como para iniciar uma investigação clínica.
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O seu médico irá começar com uma avaliação imagiológica com TAC de tórax e avaliação funcional respiratória com espirometria. Em função dos resultados, na confirmação da suspeita, será necessária a obtenção de material histológico que poderá passar pela realização de uma broncofibroscopia, biópsia guiada por TAC ou mesmo uma intervenção cirúrgica.
Em todos estes procedimentos a utilização de anestesia torna-os menos desconfortáveis. Nos últimos anos a utilização da PET (exame da medicina nuclear) tem vindo a assumir uma maior importância no mapeamento da doença (estadiamento), na escolha dos locais a biopsar e também na monitorização/progressão da doença ao longo do tempo.
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A fase inicial do diagnóstico de um cancro do pulmão reveste-se de uma carga emocional importante não só para os doentes mas também para as suas famílias. É importante que o doente se sinta acarinhado pela equipa que o está a seguir e que sinta empatia pela mesma. O doente deve perceber que esta é uma fase de incertezas, por vezes morosa na sua ânsia de iniciar um tratamento mas cujos passos são encadeados com o propósito de obter a melhor caracterização possível do tumor e seu estadiamento de forma a definir a terapêutica mais eficaz a oferecer.
O tratamento do cancro do pulmão conheceu nas duas últimas décadas um conjunto de novos fármacos que vieram revolucionar a sobrevida dos doentes bem como a sua qualidade de vida. É importante perceber que numa primeira consulta de oncologia é normal sair da mesma sem um plano terapêutico definido. Isto acontece pois as decisões terapêuticas são tomadas posteriormente em conjunto em reuniões multidisciplinares onde fazem parte oncologistas, pneumologistas, radiologistas, anatomo-patologistas, cirurgiões torácicos e radiooncologistas.
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A confiança nesta equipa tem de estar sempre presente, vai-se consolidando com o passar do tempo, assente no facto de se ir conhecendo melhor os médicos, enfermeiros, administrativos e assistentes operacionais que compõem as equipas dos hospitais de dia. Será com estes profissionais que o irão acompanhar, que irá partilhar as suas angústias, receios, frustrações mas também as suas vitórias.
A estratégia terapêutica pode passar pelo uso de várias modalidades quer isoladamente quer de forma combinada:
- Cirurgia (a ideal em fases mais precoces);
- Radioterapia;
- Tratamentos sistémicos;
- Quimioterapia;
- Terapêutica dirigida;
- Imunoterapia;
- Cuidados paliativos.
Em todas estas modalidades é fundamental o envolvimento dos doentes e famílias na definição do plano que irá ser proposto. Mas os planos podem ser feitos não apenas para tratar mas também para prevenir.
Sabemos que quanto mais cedo se diagnostica um tumor do pulmão melhor é o seu prognóstico e por isso é relevante que pessoas assintomáticas (em fase potencialmente curável) procurem compreender o seu risco de desenvolver cancro do pulmão e atuar de forma a reduzir o risco de mortalidade por essa mesma doença.
Em resposta a este desafio a CUF implementou um programa de detecção precoce do cancro do pulmão onde é feito um plano, ajustado a cada pessoa, que pode passar pela realização periódica de TAC de baixa dose e pelo acompanhamento em consulta de cessação tabágica.
Se está preocupado com o risco de vir a desenvolver um cancro do pulmão converse com o seu médico de forma a perceber se é uma pessoa elegível a entrar num programa de deteção precoce e para conseguir ajuda para suspender hábitos tabágicos.
*Artigo assinado por Nelson Serrano Marçal, pneumologista nos hospitais CUF Tejo e CUF Descobertas - CUF Oncologia
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