Dietas. "As pessoas confundem muito ser saudável com magreza"

Quem o diz é a nutricionista Sophie Deram, autora do livro 'Os 7 Pilares da Sabedoria Alimentar', em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.

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Ana Rita Rebelo
12/10/2022 08:43 ‧ 12/10/2022 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Alimentação

Desengane-se se julga que a melhor dieta é 'fechar a boca'. Ativista contra as dietas restritivas e defensora do prazer de comer, Sophie Deram defende que uma relação saudável com a comida não está relacionada com a perda de peso e é isso que pretende transmitir no livro 'Os 7 pilares de sabedoria alimentar'.

Nesta obra, a nutricionista apresenta a Roda dos 7 pilares da sabedoria alimentar, um recurso de autoavaliação. "É algo que uso com os meus pacientes e que apresento aos alunos do curso Método Sophie, que tem como público-alvo profissionais de saúde", resume em entrevista ao Lifestyle ao Minuto.

Porque decidiu escrever este livro?

Para mostrar que as dietas não são o caminho. Hoje em dia, existem evidências científicas que confirmam que a mudança de hábitos é a resposta. Não é fácil, mas a solução está dentro de cada um de nós. 

Notícias ao Minuto Os 7 Pilares da Sabedoria Alimentar© DR

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O que é a 'roda dos 7 pilares da sabedoria alimentar'? Quais são e o que propõe?

É uma ferramenta de autoconhecimento, autoavaliação e autogestão das mudanças de hábitos. É algo que uso com os meus pacientes e que apresento aos alunos do curso Método Sophie, que tem como público-alvo profissionais de saúde. Essa roda é, na realidade, uma adaptação da Roda da Vida, utilizada no 'coaching'.

Os sete pilares são:

1- Praticar o ritual da refeição;
2- Alimentar-se de outras energias;
3- Comer melhor, não menos;
4- Ter consciência da fome/saciedade e da nutrição;
5- Pensar sustentável;
6- Cuidar da mente;
7- Fazer as pazes com o corpo.

Existem pessoas saudáveis de todos os tamanhos e formasNão é adepta de dietas restritivas e, a certa altura, escreve que "fechar a boca e fazer exercício" pode não ser a estratégia mais eficiente. Porquê?

Somos levados a acreditar que o caminho para a saúde e para a perda de peso é comer menos do que a energia que gastamos. Isso só seria verdade se fôssemos máquinas. Mas não é o caso. Restringir a alimentação e gastar muita energia com exercícios físicos pode até levar à perda de peso a curto prazo, mas a longo prazo o corpo entende que estamos a passar por um momento de privação, entra no modo 'economia de bateria', reduz o metabolismo, aumenta a fome e assim, a longo prazo, voltamos a engordar. 

Como tal, qual o melhor conselho para quem quer fazer uma alimentação saudável?

Nestes mais de 25 anos de estudo, elaborei três dicas simples para uma alimentação saudável: dizer não às dietas restritivas, comer mais comida fresca e caseira e cozinhar mais. 

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O que é ser saudável?

As pessoas confundem muito ser saudável com magreza. Existem pessoas saudáveis de todos os tamanhos e formas. A ciência mostra que ser saudável é estar em paz com a comida e com a saúde física e mental em equilíbrio. Hábitos saudáveis são aqueles que contribuem para o bem-estar. Comer de tudo, ter uma boa relação com a comida e com o corpo, dormir bem, lidar com o stress, praticar por prazer, sem exagerar, nem simplesmente focando-se na perda de peso, são hábitos que contribuem para a saúde e que considero saudáveis.

Não existem alimentos proibidosConsidera que vivemos numa sociedade obcecada com as calorias?

Com certeza. Os alimentos contêm nutrientes, compostos bioativos, informações genéticas, simbolismos e memórias afetivas, mas a maioria das pessoas tende a reduzi-los a calorias. Isso cria uma obsessão e uma preocupação que não deveriam existir.

Temos de escolher entre saúde e o prazer de comer?

Não. Muitas pessoas acreditam que é preciso tirar o prazer do cardápio para ter saúde, mas a verdade é que esses dois elementos deveriam andar de mãos dadas. Não acredito na saúde sem o prazer. Inclusive, existem estudos que mostram que comer com prazer ajuda a comer menos. Por outro lado, comer com sentimento de culpa faz-nos comer mais. Por isso, é importante que se permita a comer de tudo, desde que com algum critério. Não existem alimentos proibidos.

O peso é apenas um número que vemos na balança

O que fazer quando comer de forma saudável se torna uma obsessão e nos preocupa o tempo todo? Como construir uma relação saudável com a comida?

A comida não deveria ser uma obsessão. Se ela está a tomar muito espaço na vida de alguém e a criar demasiadas preocupações, é importante procurar ajuda, pois pode ser um indicador de transtorno alimentar. Construir essa relação saudável com a comida pode demorar muito tempo. Em casos mais graves é importante procurar ajuda de profissionais de saúde especializados e competentes. De modo geral, é essencial a autoaceitação do corpo, confiar em si mesmo e procurar outras formas de lidar com as emoções, que não seja sempre a comida.

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O peso é um indicador de saúde?

O peso é apenas um número que vemos na balança. Usamos muito o Índice de Massa Corporal (IMC) como medida para avaliar se alguém está com o peso adequado, se precisa de emagrecer ou engordar. Mas trata-se de algo errado. Um atleta com muita massa muscular pode ser diagnosticado com obesidade pelo IMC quando na verdade tem pouca gordura no corpo. 

95% das pessoas que fazem dieta voltam a engordar

É normal falhar nas dietas e voltar a engordar?

Sim, 95% das pessoas que fazem dieta voltam a engordar. É totalmente normal fracassar na dieta. 

O que fazer para contrariar esse círculo vicioso e aceitar essas recaídas como algo natural?

1.º Faça as pazes com o seu corpo: entenda que o valor do seu corpo não está em quanto ele pesa, aceite-o como é e foque-se no que ele lhe permite fazer;

2.º Cuide do seu cérebro: aprenda a desenvolver habilidades para lidar com suas emoções e o stress;

3.º- Pense de forma sustentável mudanças drásticas e perda de peso rápida não costumam criar resultados sustentáveis. Defina metas realistas e entenda que altos e baixos são comuns.

4.º- Respeite a sua fome e viva no presente: reconecte-se com o seu corpo e tenha consciência das suas sensações de fome e saciedade.

5.º- Coma melhor, não menos! Faça as pazes com os alimentos: pare de contar calorias ou de cortar grupos alimentares e certos alimentos. Inclua mais comida fresca e caseira, mas lembre-se que é possível comer de tudo.

6.º- Alimente-se de outras energias: não se concentre apenas no que come. Coloque o corpo em movimento, procure formas de lazer que não envolvam comida e tenha uma rotina prazerosa;

7.º- Cozinhe e celebre a comida: vá às compras e faça as pazes com a cozinha. Além de todos os benefícios para a saúde, pode ser uma atividade relaxante. Depois, é só aproveitar a refeição e compartilhar o momento com familiares e amigos para deixar tudo ainda mais prazeroso.

Como fazer as pazes com o corpo?

Acredito que a primeira coisa a fazer é aceitá-lo como ele é e tratá-lo com respeito e carinho. Não há problema em querer mudar, mas quando nos focamos nessa insatisfação torna-se mais difícil atingir mudanças de hábitos realmente efetivas. Além disso, é importante escutar o corpo, perceber quando ele está cansado, agitado, a precisar de 'combustível'... 

A ansiedade pode ser inimiga?

Sem dúvida. A ansiedade é algo inerente ao ser humano. Todos nós ficamos ansiosos, mas também pode ser um problema de saúde mental. Quando estamos ansiosos, a comida pode ser um elemento de conforto, ou seja, descontamos essa ansiedade na comida.

Propõe "um diário da gratidão". Em que pode ajudar?

Existem evidências de que quando reconhecemos e somos gratos 
pelas coisas que temos e acontecem nas nossas vidas, vivemos melhor. Isso acontece porque a gratidão ativa o sistema de recompensa, aumentando a sensação de prazer e bem-estar. E também pode contribuir para que paremos de nos comparar aos outros. Por isso, sugiro que à noite as pessoas anotem todos acontecimentos positivos que viveram durante o dia. 

Uma mensagem para os nossos leitores.

Procure fazer as pazes com a comida e com o corpo e saia do ciclo vicioso das dietas. Lembre-se que é o único dono do seu corpo. Reconecte-se e procure ajuda. 

Leia Também: E depois das férias? O que fazer para sentir-se melhor do que nunca

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