Se acha que um candeeiro é apenas e só um mero candeeiro, está na altura de deixar que se faça luz. A imprevisível coleção VARMBLIXT, desenhada por Sabine Marcelis para a Ikea, é uma ode ao poder entre a forma e a luz. Chega às lojas da famosa empresa sueca de móveis em fevereiro e, entre 20 artigos, salta à vista aquela que é a assinatura da premiada designer neerlandesa-neozelandesa: o donut.
Esta coleção surge na sequência da sua participação no IKEA Art Event de 2021. De quem partiu o convite?
Sabine Marcelis (SM) - Em ambas as ocasiões, o Henrik [Most] desafiou-me a aplicar a minha linguagem na criação de algo que fosse ao encontro dos princípios de design da Ikea e acessível a um público muito mais abrangente.
A coleção não segue tendências. (...) É algo que pretendemos que seja apreciado agora e daqui a vários anos
A Sabine foi uma escolha óbvia?
Henrik Most (HM) - Sem dúvida. Pelo conhecimento, paixão e criatividade em torno da luz, materiais, cores e a importância da iluminação na vida das pessoas. A Sabine tem uma linguagem artística muito forte. Fez um casamento perfeito com a Ikea.
Sabine Marcelis© Ikea
Como surgiu o nome da coleção? No geral, como é que a Ikea escolhe os nomes das suas coleções?
HM - A Ikea tem a tradição de atribuir sempre nomes suecos às suas gamas. Temos um departamento inteiro dedicado a isso.
O que significa VARMBLIXT?
HM - 'Ondas de calor'.
A Sabine está habituada a trabalhar com prestigiadas galerias de arte em todo o mundo e também com marcas muito conhecidas como a Fendi ou a Burberry. Como tal, neste trabalho com a Ikea, deverão ter existido diferenças no processo criativo.
SM - Absolutamente! Mas também acho que é aí que reside a beleza do meu trabalho. O principal desafio foi tentar criar algo que se adeque e sobreviva na casa de várias pessoas sem perder a minha linguagem e assinatura. Esta foi uma das razões pelas quais também aceitei este convite. Por outro lado, também foi interessante tornar estas peças em algo 'mágico' sem depender tanto de materiais como o vidro, que habitualmente tenho à minha disposição para expressar as minhas ideias.
Na prática, como traduziu a sua forma de trabalhar?
SM - No fundo, o meu objetivo foi apresentar produtos muito fiéis à sua essência e simplificá-los. Ou seja, quis concentrar-me realmente naquilo que faz algo funcionar da forma que deve. É o caso do abre garrafas que apresentamos nesta coleção.
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Qual o principal conceito desta coleção? E, no seu entender, como é que a luz pode mudar um espaço?
SM - A luz é transformadora. Tem um impacto direto na forma como vivemos os espaços. Não há nada pior do que entrar numa sala escura e 'fria'. Sobretudo agora que passamos muito mais tempo nas nossas casas, é muito importante torná-las em lugares mais agradáveis. Essa é realmente a ideia central por detrás da coleção. Além de funcional, a luz ajuda a transformar o estilo, o ambiente e a sensação que a nossa casa transmite.
Tento criar peças intemporais. Não faço coisas que se compram e deitam fora
Como é que trabalha um espaço para tirar o melhor partido dele?
SM - Depende. Para esta coleção tive de considerar todos os espaços do mundo, porque os clientes da Ikea estão em todo o lado. Isso é definitivamente uma forma diferente de trabalhar.
HM - A linguagem da Sabine é bastante simples. E não digo isto num sentido pejorativo. É isso que torna as peças adaptáveis a diferentes formas de vida e a inúmeras casas. Há uma intemporalidade no seu trabalho. A coleção não segue tendências. Queremos que as pessoas levem estas peças consigo para onde quer que vão. É algo que pretendemos que seja apreciado agora e daqui a vários anos.
O donut é emblemático no seu trabalho. Porquê?
SM - Sou fã da forma do donut. Acho-a perfeita por não ter início nem fim. É completa e, dependendo dos materiais, muito versátil. Nesta coleção, surge de duas formas: como uma taça de vidro, que pode ser utilizada para guardar fruta ou aperitivos, aberta ou fechada. O seu formato curvo translúcido é realçado quando a luz incide. Além disso, e dependendo do estado de espírito, o candeeiro pode ser montado na parede ou colocado em cima de uma mesa ou prateleira.
De toda a coleção, qual a peça que lhe deu mais trabalho?
SM - Uma das mais complicadas foi justamente o candeeiro em forma de donut, sobretudo ao nível da cor. Mas, no geral, o maior desafio foi fazer com que parecesse fácil.
Nós tentamos sempre que os nossos produtos sejam acessíveis
A sustentabilidade é um aspecto importante no seu trabalho?
SM - Penso que tem de ser importante para todos nós.
De que forma? Como é que tenta criar de forma mais consciente?
SM - Tento criar peças intemporais. Não faço coisas que se compram e deitam fora. São peças de design feitas para durar e para serem passadas de geração em geração. Com esta coleção da Ikea, fiz exatamente o mesmo. Há uma utilização mínima de materiais, mas o objetivo é gerar o máximo efeito.
Henrik Most© Ikea
HM - Importa também dizer que a sustentabilidade não se trata apenas de materiais. Há que olhar para as diferentes etapas da cadeia de valor. Uma empresa como a Ikea, que trabalha com grandes volumes, tem o dever de proteger o planeta e de incentivar as pessoas a cuidarem dele. Por vezes, isto é esquecido na discussão. Espero que esta coleção faça com que passemos a comprar de modo mais consciente, especialmente as gerações mais jovens. Não devemos comprar só porque é barato.
Em termos de preços, esta será uma coleção acessível?
HM - Nós tentamos sempre que os nossos produtos sejam acessíveis. Nesta coleção, tanto temos um abre garrafas a 2,50 euros como um candeeiro suspenso LED de 169 euros.
Percorra a galeria acima e espreite as novidades da Ikea. Na coleção VARMBLIXT há desde um candeeiro suspenso LED, que usa tubos curvilíneos feitos de vidro branco fosco, a um espelho de parede LED, desenhado com um painel de vidro semitransparente com uma faixa de luz, bem como dois tapetes inspirados nos raios do pôr do sol. O maior é feito 100% de lã tecida à mão e o seu tom vai desvanecendo, tal como o pôr do sol, passando de um laranja acentuado a um amarelo âmbar.
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