"Os resultados alcançados permitem uma abordagem individualizada e muito mais eficiente do que tem sido feito até aos nossos dias, em que dependemos do autorrelato do doente para podermos introduzir as terapêuticas necessárias ao controlo da dor", acrescentou o especialista.
O estudo realizado por uma equipa de investigadores das faculdades de Medicina do Porto e de Coimbra, abrangeu 53 doentes com demência e identificou seis biomarcadores nas plaquetas e três nos monócitos, disse.
Para além de Hugo Ribeiro participaram o professor catedrático da FMUP, José Paulo Andrade e seis investigadores da faculdade em Coimbra, Marília Dourado, Ana Bela Sarmento Ribeiro, Manuel Teixeira Veríssimo, Ana Cristina Gonçalves, Joana Jorge e Raquel Alves.
Na informação enviada à Lusa lê-se que "cerca de 40% da população portuguesa sofre de dor crónica, sendo que nos idosos esta proporção será de 70% a 80%, e num terço a metade dos casos a dor estará mal controlada, prejudicando a vida destes vários milhões de doentes e das suas famílias".
"São números com significado estatístico, que nos dão uma grande evidência e que conjugado com o número grande de biomarcadores aumenta a probabilidade de, no cruzamento de dados, conseguimos ter um padrão associado a diferentes tipos de dor e da própria intensidade de dor", acrescentou.
Este estudo foi realizado com doentes seguidos pela Equipa Comunitária de Suporte em Cuidados Paliativos do Agrupamento de Centros de Saúde de Gaia nos quais a identificação e caracterização da dor é muitas vezes difícil, prejudicando a abordagem farmacológica mais adequada, assinalou Hugo Ribeiro.
"Não existem estudos desta natureza a nível mundial. É o maior estudo jamais feito com pessoas que não podem caracterizar a sua própria dor e o único que aborda este tipo de biomarcadores periféricos", assinalou o investigador.
E prosseguiu: "há outros dois ou três estudos, publicados entretanto, que têm entre 10 e 20 doentes como amostra e que abordam dois ou três biomarcadores específicos, enquanto nós abordámos dezenas de biomarcadores relacionados com as plaquetas e com os monócitos".
A investigação feita em Gaia contou com "53 doentes finais de um grupo de 95 selecionados", disse o médico, ciente de que "caso se confirmem os biomarcadores identificados, trata-se de um enorme passo na medicina da dor e nos cuidados geriátricos e paliativos, permitindo uma abordagem farmacológica dirigida e mais eficiente.
Do estudo foram produzidos dois artigos, sendo o primeiro publicado em janeiro (https://doi.org/10.3390/biomedicines11020380) onde "foram identificados biomarcadores plaquetares para a identificação da presença de dor (CD36, CD49f, CD61 e CD62p), assim como para a dor moderada-severa (CD40)", lê-se na informação enviada à Lusa.
O segundo, publicado no final de junho (https://doi.org/10.3390/ijms241310723), explica que "os monócitos foram identificados como potenciais biomarcadores periféricos da presença de dor, e algumas das suas proteínas membranares foram identificadas como potenciais biomarcadores da caracterização da dor (CD11c para dor mista; CD163 e CD206 para dor nociceptiva)", continua o documento.
O professor catedrático José Paulo Andrade, explicou que "os doentes com demência, seja Alzheimer ou semelhantes têm dor, não a conseguem nem identificar nem caracterizar e a caracterização é muito importante para a sua terapêutica".
"Este foi o primeiro passo até conseguimos fazer a caracterização da dor através das proteínas que encontrámos em componentes do sangue periférico", assinalou o docente da FMUP e que também participou no estudo.
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