Estima-se que cerca de 15% dos adolescentes em Portugal tenham dores lombares e que 60% das crianças e jovens já tenham sofrido deste mal em algum período das suas vidas. Muitas vezes, atribuímos a culpa à má postura em frente aos dispositivos eletrónicos. Mas e o transporte de mochilas? Demasiado grandes e pesadas, provocam "um aumento da carga sobre uma coluna vertebral em desenvolvimento, levando a desequilíbrio postural e subsequente dor lombar e cervical", alerta ao Lifestyle ao Minuto o ortopedista Rui Duarte, coordenador nacional da campanha 'Olhe pelas Suas Costas'.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de metade das crianças em idade escolar (dos seis aos 18 anos) transportam mochilas com excesso de peso. A recomendação da OMS é clara: devem ter menos de 10% do peso do corpo de quem a transporta. Ou seja, se uma criança pesar 30 quilos, a mochila não deve ultrapassar os três quilos.
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"Ter esporadicamente dor nas costas é comum nas crianças e adolescentes e não deve ser encarado com excessiva preocupação", considera Rui Duarte. Porém, "queixas de dor muito frequentes" ou "alguma deformidade/curvatura, que pareça fora do comum," devem "ser avaliadas por um médico", aconselha o médico ortopedista, lembrando que "a dor pode estar apenas relacionada com as alterações posturais, mas pode também estar relacionada com doenças do desenvolvimento da coluna".
Existem muitas crianças em Portugal com problemas de coluna?
Em Portugal, cerca de 15% dos adolescentes sofrem de dores lombares e estima-se que 60% das crianças e jovens já tenham sofrido deste tipo de dores em algum período da sua vida. São números que nos deixam preocupados e nos obrigam a pensar em estratégias de alerta e prevenção.
Pode o excesso de peso das mochilas ser um dos fatores?
As causas para dor lombar nestas idades são multifatoriais. Salientamos, no entanto, o sedentarismo das crianças e adolescentes como fator central num ciclo vicioso, que leva a excesso de peso, baixa mobilidade, fragilidade muscular e alterações posturais. O excesso de peso nas mochilas pode contribuir para este processo. Uma mochila com excesso de peso irá provocar um aumento da carga sobre uma coluna vertebral em desenvolvimento, levando a desequilíbrio postural e subsequente dor lombar e cervical.
Crianças com dor de costas serão, com maior probabilidade, adultos com dor de costas
Sente que as escolas e os encarregados de educação estão atentos? Já chegaram a ser criadas petições para diminuir o peso das mochilas…
As famílias têm estado atentas e procuram cada vez mais informação. É muito comum nas nossas consultas de patologia da coluna vertebral manifestarem preocupação com este tema. Para isso, muito têm contribuído as campanhas de sensibilização, das quais se destaca a campanha 'Olhe pelas Suas Costas', que desde há cerca de 15 anos procura alertar, explicar e aconselhar a população sobre este tema. As recomendações internacionais são claras, nomeadamente as da American Academy of Pediatrics, ao recomendar para um peso que não deve exceder os 10/15% do peso da criança.
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As malas com rodinhas são a melhor solução?
Quer o uso de mochila tradicional, como o uso de malas com rodinhas, devem obedecer a algumas regras. No caso das mochilas, ter em atenção ao peso. Por outro lado, deve ser do tamanho das costas da criança, as alças da mala devem estar ajustadas e ambas devem ser colocadas nos ombros. A criança deve evitar também usá-la num único ombro, uma vez que o peso deve estar distribuído de forma uniforme, sendo que os materiais mais pesados devem ser colocados junto ao corpo, de forma a evitar alterações de postura. Relativamente às malas com rodinhas, devemos procurar também o equilíbrio. Podem ser úteis e ajudar a aliviar o peso nas costas, mas é preciso ter atenção, por exemplo, à altura da pega. A criança não deve ficar curvada enquanto puxa a mala com rodinhas.
Que outras agravantes existem? Em tempos, chegou a falar-se da altura das mesas.
Nestas idades com toda a estrutura muscular e esquelética em desenvolvimento, devemos ter em atenção alguns princípios de ergonomia. Permanecer sentado durante longos períodos acaba por provocar sintomas na região lombar ou agravar a sintomatologia quando já existe uma patologia prévia. É fundamental que a altura da mesa, mas também a altura da cadeira sejam adequadas à idade e tamanho da criança.
O que devem os alunos fazer para manterem uma boa postura nas salas de aula? Que conselhos deixa?
É crucial que o tronco da criança esteja alinhado, sendo que as costas devem estar direitas. Por outro lado, a cadeira deve ter uma altura que permita que os joelhos estejam dobrados num ângulo de 90 graus e com os pés apoiados. Para que este apoio dos pés aconteça, por vezes é necessário proceder a ajustes na altura da mesa e da cadeira. Além disso, é fundamental que o ecrã esteja colocado ao nível dos olhos.
A dor pode estar apenas relacionada com as alterações posturais, mas pode também estar relacionada com doenças do desenvolvimento da coluna
Uma má postura nesta idade pode criar problemas na fase adulta?
Os dados da literatura científica dizem-nos que crianças com dor de costas serão, com maior probabilidade, adultos com dor de costas. Quando sentados por longos períodos, a tendência natural para a maioria das crianças (e também dos adultos) é curvar-se ou reclinar-se na cadeira e essa postura acaba por provocar algum estiramento dos músculos e ligamentos para-espinhais e aumenta a pressão sobre os discos e as estruturas vizinhas da coluna. Com o tempo, a postura sentada incorreta pode danificar as estruturas da coluna e contribuir para a dor nas costas.
A que devem os pais estar atentos?
Ter esporadicamente dor nas costas é comum nas crianças e adolescentes e não deve ser encarado com excessiva preocupação. No entanto, se manifestarem queixas de dor muito frequentes ou então se apresentarem alguma deformidade/curvatura, que pareça fora do comum, devem ser avaliadas pelo seu médico. A dor pode estar apenas relacionada com as alterações posturais, mas pode também estar relacionada com doenças do desenvolvimento da coluna.
E o que podem fazer para aliviar as dores das crianças?
Os pais têm um papel fundamental no acompanhamento e melhoria dos sintomas. É fundamental inverter a tendência para o sedentarismo. As recomendações da Direção-Geral da Saúde sugerem que crianças e adolescentes realizem, pelo menos, uma média de 60 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada a vigorosa, e sugerem também que seja limitado o tempo em comportamento sedentário, particularmente o tempo de ecrã.
Estimular a prática de exercício é muito importante para prevenir a obesidade, fortalecer ossos e músculos, incentivar a adoção de uma boa postura e até fomentar a disciplina. É também uma forma divertida e pedagógica de garantir que os mais novos tenham um estilo de vida mais ativo e saudável.
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