Dê uma boa gargalhada sempre que possível, caro leitor. A sabedoria popular diz que 'rir é o melhor remédio' e a verdade é que, além de ser grátis, está provado cientificamente que uma gargalhada - mesmo que seja forçada - traz muitos benefícios à nossa saúde física e mental, independentemente da fase da vida.
"Quando rimos libertam-se endorfinas, que são substâncias químicas conhecidas como 'hormonas da felicidade' e têm impacto ao nível dos sintomas depressivos, por exemplo, proporcionando uma sensação de bem-estar", começa por explicar ao Lifestyle ao Minuto a psicóloga Catarina Lucas, a propósito do Dia Internacional do Riso, que se celebra esta quinta-feira, 18 de janeiro. O riso pode ainda "diminuir os níveis de cortisol, associados ao stress e ansiedade, e aumentar temporariamente a frequência cardíaca e a circulação sanguínea, melhorando o fluxo de oxigénio no corpo", acrescenta. No fundo, é rir para não chorar.
© Catarina Lucas
Qual a importância do riso?
O riso desempenha um papel significativo e multifacetado em várias domínios. É importante para a saúde física, mental, comunicação e socialização, a adaptação perante desafios, na quebra da monotonia e, no fundo, promoção de uma perspectiva positiva em diversas situações da vida.
Sendo assim, o humor pode melhorar a nossa vida.
Sem dúvida.
As pessoas talvez não saibam, mas rir intencionalmente, mesmo sem que ocorra uma situação geradora do riso, tem o mesmo potencial de ação no nosso cérebro
De que forma?
Além de ajudar a diminuir a ansiedade e stress, fortalece as relações sociais, potencia a criatividade, produz melhorias nos contextos familiares e profissionais, a promover a integração em múltiplos contextos, entre muitos outros e, lá está, ajuda a encarar algumas situações com mais leveza.
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Porque é que há coisas que nos fazem rir e outras coisas não?
A resposta ao humor varia significativamente de pessoa para pessoa devido a uma combinação de fatores individuais, experiências de vida, personalidade e contexto cultural. Rir de uma situação depende da cultura, experiências pessoais, personalidade, estilo de humor, estado emocional, idade e diferenças cognitivas.
O que acontece exatamente no nosso corpo quando rimos?
Quando rimos libertam-se endorfinas, que são substâncias químicas conhecidas como 'hormonas da felicidade' e têm impacto ao nível dos sintomas depressivos, por exemplo, proporcionando uma sensação de bem-estar. O riso pode ainda diminuir os níveis de cortisol, associados ao stress e ansiedade, e aumentar temporariamente a frequência cardíaca e a circulação sanguínea, melhorando o fluxo de oxigénio no corpo.
Isso tudo também acontece quando forçamos o riso?
As pessoas talvez não saibam, mas rir intencionalmente, mesmo sem que ocorra uma situação geradora do riso, tem o mesmo potencial de ação no nosso cérebro, que vai interpretar e reagir ao riso, libertando as hormonas da felicidade. Ou seja, mesmo forçando o riso, podemos beneficiar do efeito positivo que as tais hormonas têm sobre o corpo e o bem-estar.
Existem vários tipos de riso?
Podemos falar em diferentes tipos de riso, sim. Há o contagiante, a gargalhada, o riso por nervosismo, o riso de imitação, o irónico, o riso mais histérico ou o mais tímido e contido.
O riso em funerais ou situações de tensão pode parecer paradoxal, mas há várias explicações psicológicas para esse comportamento que não representam desrespeito
Dizia que o riso é contagiante. Há razões para que isso aconteça?
O riso é contagiante devido a uma combinação de fatores psicológicos e sociais, como o instinto social de imitar os comportamentos dos outros como uma forma de fortalecer os laços sociais e de nos integrar ao grupo. É também contagiante por forma a criar empatia e compreensão partilhada, uma vez que rindo estamos a partilhar emoções e sentir as dos outros. Ao rirmos com outras pessoas estamos a criar um contexto e interações mais desinibidas, damos feedback e ainda promovemos a libertação de endorfinas responsáveis pela felicidade. Rir ao ver os outros rir é uma resposta automática e inconsciente, tendo em vista a concretização destes mecanismos.
E porque é que temos ataques de riso?
Esses 'ataques' devem-se a um efeito de contágio, a situações verdadeiramente cómicas, ao alívio da tensão, à sensação de descontração ou, em alguns casos, a fatores neurobiológicos.
Esses fatores explicam o facto de algumas pessoas desatarem a rir em contextos de maior tensão, como funerais, por exemplo? Há alguma razão para isso acontecer?
Os ataques de riso podem, em alguns casos, ser constrangedores ou difíceis de controlar. O riso em funerais ou situações de tensão pode parecer paradoxal, mas há várias explicações psicológicas para esse comportamento que não representam desrespeito, mas sim uma reação paradoxal. O riso surge muitas vezes como forma de alívio de pressão e stress. Funciona como um mecanismo de defesa perante situações adversas ou dolorosas. Depois, também há quem use o humor e o riso para não encarar as perdas, os problemas ou a dor. Em casos de ansiedade e desconforto, algumas pessoas reagem com riso sem que isso expresse ausência de sofrimento e é importante respeitar as diferentes formas de lidar com o luto e as emoções em situações de tensão. O riso nessas circunstâncias não deve ser automaticamente interpretado como falta de respeito, mas sim como uma expressão complexa das emoções humanas perante eventos desafiantes.
É possível controlar a vontade de rir?
Sim, é possível fazê-lo em determinadas situações, embora a capacidade de fazê-lo varie de pessoa para pessoa e dependa do contexto. Podemos usar técnicas como a respiração, a distração mental, a visualização de cenas que não estejam relacionadas, a contração muscular, distanciamento emocional ou até pequenas mordidas na língua.
O riso também pode ter um lado 'negro'?
Sim, quando é utilizado de maneira inadequada ou insensível em relação a temas tabu ou situações dolorosas. Esse tipo de humor e riso desafia muitas vezes as normas sociais e pode ser controverso. Em algumas pessoas, pode causar ofensa ou angústia, especialmente para quem tem uma ligação mais pessoal com os temas em questão. Temos, por exemplo, o humor e riso em situações de tragédias, ironia a assuntos sensíveis, às características do outro, à humilhação do outro, etc.
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