Comichão, ardor e inchaço no ato? Pode ser alérgico a sexo (é verdade!)

A alergia ao sexo acontece por diversas razões, algumas até aparentemente inofensivas. Ao Lifestyle ao Minuto, Irina Ramilo, ginecologista-obstetra do Hospital Lusíadas em Lisboa, explica quais são e o que fazer para contornar esta situação.

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Ana Rita Rebelo
19/01/2024 10:30 ‧ 19/01/2024 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

Não, não nos enganámos no título. Há mesmo coisas simples que podem provocar uma alergia ao sexo. As mulheres são as mais afetadas, mas os homens não estão imunes.

O que acontece é que há quem durante o ato sexual possa "não reconhecer os sintomas como uma reação alérgica", porque "são semelhantes às mudanças físicas que ocorrem durante o sexo, incluindo batimentos cardíacos acelerados, sudorese, inchaço e vermelhidão ou comichão na pele", como explica ao Lifestyle ao Minuto Irina Ramilo, ginecologista-obstetra do Hospital Lusíadas em Lisboa e membro da direção da Sociedade Portuguesa da Ginecologia.

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É possível ter alergia ao sexo?

Sim! Ainda que não seja propriamente uma alergia às relações sexuais… Alguns diagnósticos são feitos em mulheres com mais de 50 anos, mas quase dois terços dos casos ocorrem entre os 20 e os 30 anos.

Notícias ao Minuto © Irina Ramilo

Mas são exatamente alergias a quê? Quais as causas?

Pode ser ao látex, a ingredientes de produtos utilizados durante a relação ou até alergia ao próprio sémen. A alergia ao látex não é assim tão incomum e pode ser desencadeada com o uso de preservativo, pelo que afeta ambos os sexos. Geralmente, os sintomas ocorrem segundos a minutos após a exposição ao látex, mas, em alguns casos, os sinais só se manifestam muito depois. Os lubrificantes e espermicidas também causam reação alérgica com comichão, uma vez que podem conter aromas, corantes, conservantes ou outros ingredientes que podem causar uma reação alérgica com comichão. Até as roupas íntimas ou produtos de higiene usados após o sexo podem causar hipersensibilidade ou reações alérgicas.

Por outro lado, As reações alérgicas ou hipersensibilidade ao sémen são extremamente raras. As proteínas do fluido, e não os espermatozóides, causam a maioria dessas reações. O fluido seminal, ou sémen, é o líquido produzido pelas gónadas masculinas, que contêm os espermatozoides e é ejaculado durante o orgasmo. Se tirarmos os espermatozoides do sémen, o que nos sobra é o plasma seminal, um líquido rico em proteínas, enzimas, substâncias alcalinas, açúcares e muco. O que chamamos de alergia ao sémen é, na verdade, uma alergia às proteínas que existem no plasma seminal.

Algumas pessoas podem ficar gradualmente insensíveis a um alergénio. Isso envolve a exposição ao alergénio em quantidades crescentes ao longo do tempo

E é uma alergia a um sémen específico?

Pode existir alergia ao sémen especifico de uma pessoa, pode ser uma alergia mais generalizada a mais do que um sémen ou até mesmo existir uma reação súbita a um sémen que anteriormente não causava qualquer reação. Há testes cutâneos e de alergia ao sangue que podem determinar esse tipo de alergia.

São conhecidas as causas destas reações alérgicas?

Mais de 80% das mulheres com hipersensibilidade ao plasma seminal têm história de alergias mais comuns, como asma, dermatite atópica, urticária ou rinite alérgica. Além disso, estão descritos fatores que parecem aumentar esse risco, como ficar muito tempo sem ter relações sexuais, menopausa ou esperma de homens que fizeram uma prostatectomia. No entanto, muitas mulheres não têm fatores de risco óbvios. As reações alérgicas ao sémen, também podem surgir na mulher que possui alergia a certos tipos de medicamentos, como penicilinas, ou alimentos, como nozes, por exemplo, que podem estar presentes no líquido do sémen, se ingeridos ou utilizados pelo homem, pouco antes do contato íntimo.

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Quais as queixas mais recorrentes?

Podem não se reconhecer os sintomas como uma reação alérgica, porque alguns são semelhantes às mudanças físicas que ocorrem durante o sexo, incluindo batimentos cardíacos acelerados, sudorese, inchaço e vermelhidão ou comichão na pele. A reação ao esperma pode ser generalizada ou localizada à região da vagina/vulva. Já as reações graves podem causar urticária, problemas respiratórios e anafilaxia.

Há tratamento?

O tratamento em relação à alergia ao látex é evitar de todo o látex, optando por preservativos sem látex. Algumas pessoas podem ficar gradualmente insensíveis a um alergénio. Isso envolve a exposição ao alergénio em quantidades crescentes ao longo do tempo, podendo ser uma abordagem se pretendem engravidar no caso de alergia ao sémen. Já os casos leves podem ser prevenidos com a toma de um comprimido anti-histamínico (antialérgico) alguns minutos antes do início da relação e, naturalmente, com o uso de preservativo.

Na alergia ao sémen, o tratamento pode ser feito com dessensibilização ao esperma. Esse tratamento consiste numa repetida aplicação intravaginal ou subcutânea de pequenas e diluídas amostras do plasma seminal, de forma a que o sistema imunológico seja sujeito ao antígeno. A via subcutânea tem resultados melhores. Esse procedimento deve ser feito com um imunoalergologista e em ambiente hospitalar apropriado no caso de acontecer uma reação anafilática.

O processo de dessensibilização ao sémen é semelhante aos processos de dessensibilização a outros alergénios. Para que o organismo se mantenha dessensibilizado, o casal precisa manter uma frequência de duas a três relações sexuais desprotegidas por semana. Se não houver contato frequente com o sémen, a dessensibilização desaparece com o tempo e os sintomas alérgicos retornam. Existe ainda a possibilidade de lavagem do esperma durante os procedimentos de fertilidade para que os alergénios sejam removidos.

Apesar de ser muito incómoda, a alergia ao esperma não provoca infertilidade. As mulheres com este tipo de alergia conseguem engravidar

Sem diagnóstico e tratamento, há riscos? A alergia pode evoluir para algo mais grave?

Os riscos decorrem dos sintomas da reação alérgica verificados e da gravidade dos mesmos. As alergias ao sémen geralmente ocorrem de forma localizada e sistémica. A alergia localizada ao sémen ocorre apenas em partes do corpo que entram em contato direto com o sémen. Os sintomas são restritos à zona pélvica. A alergia sistémica ao sémen acontece quando todo o corpo da mulher apresenta sintomas, como urticária, edema da pele, aperto no peito, diarreia, tonturas, falta de ar e, muito raramente, choque anafilático. 

As mulheres com alergia ao esperma conseguem engravidar?

Apesar de ser muito incómoda, a alergia ao esperma não provoca infertilidade. As mulheres com este tipo de alergia conseguem engravidar, principalmente se a reação for leve e localizada. O problema maior ocorre nas mulheres que já desenvolveram reação grave ao sémen e, compreensivelmente, não estão dispostas a arriscar uma nova exposição ao sémen, nem estão aptas a fazer o tratamento de dessensibilização. Nestes casos, a gravidez é possível por vias artificiais, como a fertilização in vitro ou a inseminação artificial.

Leia Também: Sexo na gravidez: Pode ou não? Especialista responde

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