Com quase 200 mil 'plantmanas' (como carinhosamente apelida os seus seguidores), Sofia Manuel é uma força do Instagram. Agora, a Tripeirinha chega à 'caixinha mágica' para assumir a condução do novo programa do canal Casa e Cozinha. Chama-se 'Plantman(i)a' e tem estreia marcada para esta quarta-feira, dia 19 de junho, pelas 22 horas.
Durante 10 episódios de 25 minutos, o desafio é apenas um: transformar espaços cinzentos em paraísos verdes. Ao mesmo tempo, Sofia promete variadíssimas dicas para todos os que pretendem aprender a cuidar melhor das suas plantas.
"Foi sempre um trabalho de equipa máximo para mostrar que, com poucos recursos, é possível escolher plantas para qualquer espaço e mudá-lo por completo", disse a Tripeirinha, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto. O resultado final, considera, "ficou mesmo incrível".
Para quem não a conhece, quem é a Sofia Manuel?
Sou uma pessoa completamente apaixonada por plantas. Sempre foi o meu hobbie, porque sou muito ligada às ciências. Daí a minha formação em engenharia civil. Depois, tornei-me programadora de software, mas passava os meus dias em frente a um ecrã preto. O meu escape era chegar a casa e cuidar das minhas plantinhas.
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E as plantas sempre estiveram muito presentes na sua vida.
Sim. E isso deve-se à minha avó, que tinha um quintal e uma horta lindíssimos. Mais tarde, quando tive a minha primeira casa apercebi-me da falta que as plantas me faziam. Vai daí e fui tendo cada vez mais e, ao mesmo tempo, procurei estudar a fundo como funcionavam, até porque um dos meus sonhos era ser professora. Foi algo que ficou pelo caminho.
© Casa e Cozinha
As redes sociais serviram para conciliar estas duas paixões - plantas e ensino?
De certo modo, sim. Pode dizer-se que arranjei uma forma de passar conhecimento, até porque tenho um enorme amor por descomplicar o que é complicado.
Foi assim que surgiu o nome Tripeirinha?
Quando deixei a engenharia civil - na altura, estava em Moçambique - e me tornei programadora de software, comecei a crescer e quis ser formadora do software com que trabalhava. Andava pela Europa a dar formação e a cumprir o meu sonho de ensinar. No Instagram, o meu nome de utilizadora era Sofia Manuel, mas os meus alunos começaram a tornar-se meus seguidores e eu não queria. No meu círculo, toda a gente me tratava por tripeira. Pensei: 'Sou pequenina'... e ficou Tripeirinha. Nessa altura, trabalhava numa empresa holandesa localizada no Fundão e ia partilhando coisas de que gostava, como todas as pessoas. Quando comecei a partilhar plantas, começaram também a surgir perguntas, inicialmente de amigos, que depois partilhavam as minhas respostas. Foi uma 'bola de neve'. A certa altura, já nem conseguia responder a todas as dúvidas. Passado um tempo, decidi que esta era a minha oportunidade e gravei um vídeo. Mal sabia eu que esse vídeo ia ser a origem de tudo o que aconteceu entretanto.
Ainda se recorda da primeira planta que teve?
Lembro-me pois! Uma aloe vera que, neste momento, vive no jardim dos meus avós.
E há alguma de que goste mais?
Fui variando. Neste momento, tenho um carinho especial por uma planta de que, normalmente, ninguém gosta e, neste programa, consegui inclui-la em quase todos os projetos que fiz. É a aspidistra, uma planta que se dá bem em zonas mais costeiras, com um pouco mais de humidade, mas também num jardim sombreado e dentro das nossas casas. Ela sobrevive a tudo, tudo, tudo. Esta planta é uma sobrevivente. Consegue resistir até naquelas entradas escuras dos prédios. Aproveita todos os recursos que tem para continuar a sobreviver e, quando apresenta um problema, é mesmo porque já sofreu imenso. Na verdade, as pessoas passam por ela e não lhe ligam muito, mas foi esta resiliência que me apaixonou. Hoje em dia, já tenho três em casa.
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Além destas três, imagino que tenha muitas mais plantas em casa. Sabe ao certo quantas são?
Tenho mais de duzentas plantas em casa. Mas, em minha defesa, muitas são oferecidas e outras sou eu que as propago. De uma planta consigo gerar outras cinco.
Sempre tive este sonho de ir a casa das pessoas e fazer uma renovação, mas com plantas
Para aquelas pessoas que adoram plantas e que a procuram, mas que percebem pouco do tema, qual é aquela primeira dica que costuma dar?
Começo logo por desmistificar um dos maiores erros. Por vezes, acreditamos que dar amor a uma planta só se consegue regando, o que é errado. Todas as plantas têm reservas de água, pelo que só devemos regá-la quando o substrato está seco. Quando regamos demasiado, o oxigénio deixa de entrar, as raízes apodrecem e a planta não consegue beber água. Muitas vezes, cremos que a planta está a dar sinais de sede, mas é água a mais. Normalmente, as pessoas olham para as etiquetas dos vasos das plantas que compram e regam duas vezes por semana. É o maior erro! Nunca devemos acreditar nestas etiquetas. Para saber com que frequência deve regar as plantas, basta colocar o dedo no substrato ou até um pau de sushi. Toda a gente conhece o truque do palito no bolo. Aqui, funciona da mesma forma. Se o pau de sushi sair seco, está na altura de regar. Caso contrário, deve-se esperar mais uns dias.
É verdade que devemos regar mais ao final do dia?
Isso aplica-se muito nos jardins, porque quando regamos nas horas de maior calor, o que acontece é que 30% da água que entra no substrato é evaporada. Ou seja, está a gastar água e dinheiro. Não é propriamente tanto pela planta em si. O que costuma acontecer é que as pessoas acabam por deixar as plantas demasiado secas. É importante que a rega seja feita ao final do dia ou muito cedo, pelas seis e meia da manhã, para a água penetrar. Por outro lado, devemos sempre regar as nossas plantas de interior que estejam a apanhar sol direto durante todo o dia.
Existem plantas mais fáceis de cuidar?
Há plantas que exigem menos atenção, como a costela-de-adão (Monstera deliciosa) ou a espada de São Jorge (Sansevieria trifasciata). Plantas com o caule mais grosso ficam mais tempo sem necessitar de água e adaptam-se melhor ao clima de Portugal, que é extremamente seco. Quando a humidade é elevada, as plantas perdem água de forma muito lenta. Por cá, no verão, transpiram rapidamente e, por vezes, a água que colocamos no substrato não é suficiente para compensar a perda que têm pelas folhas. Por mais que regue, a planta não consegue absorver a água, começam a surgir as tais pontas castanhas e as pessoas ficam frustradas.
Agora que estamos a entrar no verão, quais é que são as plantas que melhor lidam com o sol?
Todas agradecem um tipo de sol, que é o do início do dia. Basicamente, é aquele sol que confiamos a um bebé. As plantas consideradas de interior, mais tropicais, gostam de estar sem sol direto, mas perto de uma janela.
Na realidade, tudo isto são dicas que, provavelmente, irá abordar no programa. O que é que nos pode adiantar sobre o 'Plantman(i)a' e os bastidores?
Eu nem queria acreditar quando recebi o convite. Já tinha conhecido algumas pessoas do canal, graças à minha amiga Joana Laranjeira, que tinha um programa. Quando fui à apresentação do livro dela, estava lá o diretor do Casa e Cozinha, começámos a falar e chegou-se a esta ideia. Sempre tive este sonho de ir a casa das pessoas e fazer uma renovação, mas com plantas. Agora que moro em Lisboa, uma das coisas que mais me 'choca' é ver varandas sem uma única planta. Digo sempre que se fosse eu a mandar, era obrigatório ter plantas nas varandas e todos tinham de passar por uma formação para mantê-las saudáveis.
Passei o programa todo a sorrir. Era tudo o que sonhava
Há algum episódio que a tenha marcado?
Um dos episódios que gravei no Porto, a minha terra, marcou-me muito. É sobre uma família com um grande amor por plantas. Estavam todos muito aflitos, porque a mãe que, pelos vistos, era uma jardineira inacreditável, tinha falecido e as suas plantas estavam a definhar. Não só renovámos o jardim interior com que os filhos concorreram como recuperámos estas plantas de exterior. Recordo-me que ficaram muito agradecidos. Eram uma família muito unida, de vários irmãos. Via-se que percebiam que a mãe vivia através das plantas e eu adoro isso! Sim, as plantas ajudam a tornar a casa mais bonita, mas não são apenas decoração. A verdade é que podem trazer muitas lembranças. No meu caso, tenho tatuado um antúrio no braço em homenagem ao meu avô. Quando ele faleceu, entrei no quarto dele e dei de caras com esta planta quase a morrer. Nem conseguia perceber o que era, mas trouxe-a para casa e no meu aniversário o antúrio deu uma flor. Gosto muito destas histórias. Acreditemos ou não, trazem sentimentos muito bons.
E houve algum projeto que tenha sido particularmente desafiante?
É um programa sem guião e todos os episódios foram um apocalipse, até porque fiz os primeiros sete/oito episódios muito doente, em que parava para chorar, mas houve um mesmo sofrido. Tratava-se de uma varanda, num quinto andar em Lisboa, sem elevador, que apanhava sol o dia todo. Não só foi um desafio a escolha de plantas em si, porque tinham de ser mais resistentes, como filmar o próprio programa, devido ao calor. Foi sempre um trabalho de equipa máximo para mostrar que, com poucos recursos, é possível escolher plantas para qualquer espaço e mudá-lo por completo. O resultado final ficou mesmo incrível. Passei o programa todo a sorrir. Era tudo o que sonhava.
Então, podemos esperar uma segunda temporada do programa?
Espero que sim!
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