Parvovírus. Falámos com uma médica sobre infeção que pode causar abortos

A propósito do aumento da circulação do parvovírus B19 em Portugal, a médica ginecologista-obstetra Joana Félix esclarece, em entrevista ao Lifestyle ao Minuto, tudo o que deve saber sobre a chamada 'doença da bofetada'. A médica admite que a prevenção é difícil, mas lembra que as grávidas devem ser informadas sobre as medidas a adotar.

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Ana Rita Rebelo
06/08/2024 08:30 ‧ 06/08/2024 por Ana Rita Rebelo

Lifestyle

Entrevista

"Não há motivo para pânico", diz a ginecologista-obstetra Joana Félix ao Lifestyle ao Minuto, sobre o surto em Portugal de parvovírus, o agente que provoca uma condição conhecida por 'doença da bofetada'. Apesar de inofensivo para a maioria dos adultos e de as crianças quase nem apresentarem sintomas, é um risco durante a gravidez, podendo provocar malformações e abortos espontâneos até às 20 semanas de gestação. 

 

Metade das mulheres portuguesas em idade fértil são imunes ao parvovírus. Ainda assim, Joana Félix lembra que a rapidez com que se deteta em grávidas pode fazer a diferença, até porque "há um risco significativo de complicações para o feto, incluindo anemia, hidropsia fetal (acumulação anormal de líquidos em diferentes partes do corpo do feto), aborto e morte fetal".

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Notícias ao Minuto Joana Félix, médica ginecologista-obstetra© Joana Félix

O que é o parvovírus?

Trata-se de agente viral que pode afetar humanos e animais. Em humanos, o parvovírus B19 é conhecido por causar o eritema infecioso, também chamado de 'quinta doença'.

Para a população em geral, a infeção pelo parvovírus é, na maioria das vezes, assintomática ou apresenta sintomas leves. No entanto, em grávidas, há um risco significativo de complicações para o feto

Como ocorre a transmissão?

A transmissão ocorre através de gotículas respiratórias, contato mão-boca, derivados de sangue, transplante de medula óssea ou via transplacentária, isto é, da grávida para o feto.

Que medidas devem ser adotadas para prevenir o contágio? Neste caso, acontece mesmo antes de haver sintomas... É difícil de prevenir?

Pode ser desafiante, mas é importante adotar cuidados como evitar o contato com gotículas respiratórias, manter uma rigorosa higiene das mãos e evitar situações de risco, especialmente em ambientes com possíveis surtos.

Qual o grupo mais vulnerável?

Grávidas, imunossuprimidos e pessoas com doenças hematológicas crónicas.

A infeção pode ser fatal? 

Para a população em geral, a infeção pelo parvovírus é, na maioria das vezes, assintomática ou apresenta sintomas leves. No entanto, em grávidas, há um risco significativo de complicações para o feto, incluindo anemia, hidropsia fetal (acumulação anormal de líquidos em diferentes partes do corpo do feto), aborto e morte fetal.

E qual o impacto para a restante população?

Diria que é relativamente limitado. Segundo a DGS, cerca de dois terços da população são imunes devido a infeções anteriores. As crianças são as mais sintomáticas. Quanto às grávidas, estima-se que 30-40% possam ser suscetíveis à infeção. Embora o parvovírus B19 não represente uma ameaça significativa para a maioria da população, pode ter um impacto negativo nos tais grupos vulneráveis de que lhe falava, como grávidas e imunossuprimidos. Portanto, a consciencialização e medidas de prevenção são importantes para proteger esses grupos específicos.    

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Quer isso dizer que não há motivo para alarme? O Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças alertou, em junho, para um número crescente de infeções. Entretanto, a Direção-Geral da Saúde (DGS) deu conta de um aumento substancial de casos e internamentos

Sim, verifica-se desde março um pico de infeções que tem causado algumas complicações nas grávidas, o que levou a DGS a publicar uma orientação para os clínicos em julho. No entanto, não há motivo para pânico para a população geral.

Em casos raros, a infeção pode levar a complicações como miocardite, hepatite, anemia, trombocitopenia e outras condições

Desde a pandemia de Covid-19, qualquer surto infecioso tende a gerar ansiedade na população. Como evitar que se instale o pânico?

É fundamental transmitir que a divulgação desta informação visa proteger os grupos de risco, permitindo que possam adotar as medidas preventivas necessárias e procurar ajuda médica, se necessário. 

Quais os sintomas mais frequentes em crianças?

Nas crianças, a infeção pelo parvovírus pode causar eritema infecioso. Esta condição caracteriza-se por mialgias (dores no corpo), mal-estar geral, febre, cefaleias e diarreia, seguidos de um exantema malar (erupção nas bochechas) e exantema no tronco e membros.

E nos adultos?

Nos adultos, a infeção é frequentemente assintomática, mas pode causar poliartralgia periférica, que são dores nas articulações das punhos, mãos, tornozelos e pés. Em casos raros, a infeção pode levar a complicações como miocardite, hepatite, anemia, trombocitopenia e outras condições.

Qual o período de incubação do vírus?

Varia entre quatro e 14 dias.

O que devemos fazer perante um diagnóstico de parvovírus?

Para a maioria das pessoas, não são necessários cuidados especiais. No entanto, grupos de risco devem consultar o seu médico assistente, uma vez que podem necessitar de vigilância adicional.

A rapidez com que se deteta é essencial?

Nas grávidas, sim, devido ao risco de anemia grave e morte fetal. Na população geral, não está indicado o teste diagnóstico de rotina.

Uma vez que não existe tratamento específico para o parvovírus, quais as recomendações?

O foco é, essencialmente, no controlo dos sintomas. Por outro lado, se alguém infetado tiver estado em contacto com pessoas dos grupos de risco deve informá-las. Esses grupos devem estar cientes do aumento das infeções para que possam tomar medidas de prevenção e procurar orientação médica em caso de contato de risco.         

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