Cristina Ferreira apanhou todos de surpresa ao apresentar no passado domingo, dia 19 de janeiro, o primeiro produto do seu novo projeto #eusouGIRA. A apresentadora da TVI lançou uma bruma íntima a que chamou PIPY e as reações não tardaram a chegar.
No portal da marca são revelados mais detalhes sobre este lançamento. "Foi desenvolvido com uma fórmula sem álcool, com pH equilibrado compatível com a zona íntima externa que respeita o equilíbrio natural da pele. Contém ácido lático que favorece a hidratação da pele junto da zona íntima." Pode ainda ler-se que a bruma foi "testada dermatologicamente e ginecologicamente", e que "oferece uma sensação de frescura imediata".
O odor vaginal saudável é geralmente suave e ligeiramente ácido, semelhante ao do iogurte natural
Ginecologista-obstetra Joana Félix© Clínica Dra. Fernanda Bragança
Com as redes sociais ao rubro, o produto divide opiniões. Do lado dos especialistas, a ginecologista-obstetra Joana Félix esclarece ao Lifestyle ao Minuto que "este tipo de produtos não é essencial para a higiene íntima". Ainda assim, faz questão de deixar uma mensagem tranquilizadora: "O uso de brumas pode ser seguro desde que o produto seja formulado com ingredientes apropriados e seja utilizado com moderação".
Vamos por partes. O odor vaginal deve ser encarado com normalidade?
Sim, o odor vaginal, dependendo das suas características, pode ser encarado com normalidade. Isto porque resulta da presença natural de bactérias benéficas (lactobacilos) que compõem a flora vaginal e são essenciais para a saúde íntima.
Que características deve apresentar?
O odor vaginal saudável é geralmente suave e ligeiramente ácido, semelhante ao do iogurte natural, devido à produção de ácido lático pelos lactobacilos presentes na vagina. As tais bactérias benéficas de que falava.
E o cheiro é o mesmo para todas as mulheres?
Não. O odor vaginal varia de mulher para mulher.
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Até na mesma mulher?
Exato. A dieta, ciclo menstrual, alterações hormonais - devido a gravidez ou menopausa, por exemplo - a prática de atividade física e outros aspetos podem influenciar o cheiro.
Quando é que o odor vaginal constitui um sinal de alerta?
Um odor intenso, fétido ou semelhante a peixe pode ser indicativo de infeções como vaginose bacteriana ou tricomoníase.
E surge acompanhado de outros sintomas?
Sim. A mulher pode sentir prurido, ou seja, comichão, uma sensação de peso vaginal, corrimento anormal, irritação vulvo-vaginal e dispareunia. Isto é, dor durante a prática de relações sexuais. Caso o odor seja persistente ou acompanhado de outros sintomas, é essencial consultar um ginecologista.
Manter uma higiene íntima adequada é fundamental para lidar com o odor vaginal. Com isso em mente, pergunto: como deve ser feita?
A manutenção da saúde e higiene íntima no dia a dia não é consensual e deve ser individualizada.
Isso quer dizer exatamente o quê?
Que deve ser personalizada, pois cada mulher é única.
O que recomenda a quem a procura?
De modo geral, lavar a região externa (vulva) diariamente com um sabonete íntimo suave e com pH adequado à fase da vida; evitar múltiplas lavagens diárias, uma vez que podem alterar a barreira protetora da pele e o equilíbrio da flora vaginal; hidratar a vulva com produtos seguros; e não realizar lavagens vaginais e evitar o uso de antissépticos, como o Betadine, uma vez que podem eliminar bactérias benéficas, aumentando o risco de infeções. No fundo, adaptar a higiene às necessidades específicas de cada fase da vida, experimentando diferentes abordagens até encontrar a que melhor funciona.
Por falar em produtos seguros e a propósito do lançamento da bruma íntima da apresentadora Cristina Ferreira, que tantas reações e dúvidas tem suscitado... Estes produtos podem ser prejudiciais para a saúde?
Qualquer produto para a área íntima pode apresentar riscos, dependendo da sua composição e frequência de uso. Ingredientes como fragrâncias intensas ou conservantes podem causar irritação, alergias e desequilíbrios da flora vaginal. No entanto, se a bruma for usada com moderação e tiver uma composição adequada, é segura e o seu uso deve ser uma opção da mulher.
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No início da nossa conversa falava sobre ácido lático, que é justamente um dos ingredientes deste produto. O que é e qual a sua função?
Trata-se de uma substância produzida naturalmente pelos lactobacilos da vagina. A sua função é manter o pH vaginal ácido, criando um ambiente que favorece as bactérias benéficas e inibe o crescimento de microrganismos prejudiciais.
Produtos como brumas íntimas podem reforçar a ideia de que o odor vaginal natural é inadequado, podendo levar as mulheres a sentirem-se inseguras sobre algo que é normal
E em produtos íntimos, qual a sua função?
Nestes casos, pode contribuir para proteger e equilibrar a flora vaginal, mas é importante que o produto seja adaptado às diferentes fases da vida da mulher, já que o pH vaginal varia ao longo do tempo.
Concorda com as críticas de que este género de produto perpetua a ideia de que uma vagina não deve apresentar odor?
Produtos como brumas íntimas podem reforçar a ideia de que o odor vaginal natural é inadequado, podendo levar as mulheres a sentirem-se inseguras sobre algo que é normal. Por outro lado, também considero que a popularidade destes produtos ajuda a abrir espaço para debate e maior consciencialização sobre a saúde íntima, ajudando a empoderar as mulheres nas suas decisões sobre a sua higiene íntima.
O uso de uma bruma íntima é necessário?
Não, este tipo de produtos não é essencial para a higiene íntima. A sua principal finalidade é proporcionar uma sensação de frescura e aroma agradável ao longo do dia.
É um produto seguro?
O uso de brumas pode ser seguro, desde que o produto seja formulado com ingredientes apropriados e seja utilizado com moderação. Enquanto ginecologista, defendo que produtos como brumas íntimas são opcionais e não substituem uma higiene adequada nem cuidados médicos. Ainda assim, reconheço que o uso de produtos como perfumes ou desodorizantes, com finalidades semelhantes às das brumas íntimas, possa ser aceite. Por isso, respeito a decisão das minhas pacientes e procuro orientá-las na escolha de produtos mais seguros e adequados, garantindo que estejam devidamente informadas sobre os potenciais riscos e benefícios. Até porque sou defensora de que a saúde íntima deve ser abordada sem tabus, de forma educativa, desmistificando ideias erradas e promovendo práticas seguras e informadas.
O que se deve ter em conta na escolha de uma bruma íntima?
O ideal são produtos com pH adequado, dermatologicamente testados, hipoalergénicos e específicos para a região íntima. Devem ser evitados ingredientes como álcool, fragrâncias intensas, conservantes agressivos, parabenos e corantes artificiais.
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