Desperdício Zero. O estilo de vida de Bea Johnson corre o mundo

O estilo de vida de Bea Johnson já correu o mundo. Porquê? Porque no seu dia a dia não há espaço para o desperdício. É assim o ‘Zero Waste’ e o Lifestyle ao Minuto foi saber mais sobre este estilo de vida.

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© Cortesia Zero Waste

Daniela Costa Teixeira
11/11/2016 07:00 ‧ 11/11/2016 por Daniela Costa Teixeira

Lifestyle

Entrevista

“Usávamos imenso o carro, embalávamos almoços em sacos de plástico descartáveis, bebíamos água engarrafada, distribuíamos (copiosamente) guardanapos e lenços de papel e usávamos incontáveis produtos tóxicos para limpar a casa e cuidar dos nossos corpos. (…) Apercebi-me de que, enquanto desfrutávamos de todas as vantagens do sonho americano, tornámos-nos cidadãos e consumidores insensatos”.

A vida de Bea Johsnon, francesa e agora residente nos Estados Unidos, era como tantas outras: comodista, irracional e materialista. Tal como descreve nas palavras acima.

Bea vivia de acordo com aquilo que lhe tinha sido ensinado, de acordo com aquilo que era mais prático e consoante a azáfama do quotidiano, até que um dia – depois de uma mudança de residência para Mill Valey, na Califórnia – lhe ‘caiu a ficha’ e percebeu que aquilo que fazia diariamente (tal como fazem milhões de pessoas em todo o mundo) estava a matar a saúde do planeta e também a sua.

Em 2006, Bea e o seu marido Scott decidiram começar uma jornada isenta de desperdício à qual deram o nome de ‘Desperdício Zero’ (Zero Waste, em inglês). Bea começou por escolher as garrafas de água e sacos de plástico reutilizáveis, passou para as compras a granel e decidiu ter em casa apenas o básico dos básicos, assegurando sempre o conforto e bem-estar da família. Bea parou ainda de comprar produtos embalados e passou a usar todos os frascos que outrora tinha comprado com alimentos; os guardanapos de papel foram trocados pelos de tecido e os produtos de cosmética e protetores solares passaram a ser criados em casa e sem que a pele e a saúde ficassem a perder. O que é que Bea ganhou com esta mudança? Simplicidade, tempo e, diz, também saúde.

Há quem diga que o estilo de vida de Bea é extremista, há quem diga que é essencial para um planeta mais sustentável e ecológico. Há ainda quem diga que é impossível. De todas estas teorias, o estilo de vida de Bea é tudo menos impossível e a prova está à vista.

O seu livro ‘Zero Desperdício’, editado em português no passado mês de setembro pela Editorial Presença, é uma verdadeira enciclopédia de ecologia e sustentabilidade. Ao longo de mais de 340 páginas, a ‘sacerdotisa do estilo de vida sem desperdício’ - tal como o The New York Times a descreve – revela como passou a zelar mais pelo planeta e pela sua saúde e como simples mudanças no dia-a-dia são capazes de fazer toda uma mudança a nível ambiental e também emocional. Para Bea, se todos fizermos o mínimo que seja, a mudança será global e todo o planeta irá beneficiar. 

Bea Johnson esteve em Portugal a convite da Organii Eco Market e o Lifestyle ao Minuto quis saber mais sobre o 'Zero Waste'.

Este estilo de vida sem desperdício começou há já uns bons anos. Qual foi o primeiro passo nesta nova forma de viver?

A nossa jornada começou em 2006. Decidimos mudar para a baixa para podermos caminhar ou conduzir para qualquer lado (escolas, lojas, cafés, cinemas, teatros). Antes de encontrarmos a casa ideal, arrendamos um pequeno apartamento durante um ano e mudámos-nos apenas com alguns essenciais (guardámos o resto). Percebemos imediatamente os benefícios de viver com menos: Começámos a ter mais tempo para coisas que eram importantes para nós, como passar algum tempo em família ou com amigos e conhecer/explorar o mundo lá fora. Quando comprámos a casa, com metade do tamanho da anterior, deixámos para trás 80% dos nossos pertences (incluindo aqueles que tínhamos guardado). A simplicidade voluntária foi o primeiro passo para uma vida sem desperdício.

Depois, com mais tempo, começámos a ler sobre as questões ambientais (algumas chocaram-me, outras fizeram-me chorar) e foi aí que decidimos mudar a nossa forma de estar para o bem dos nossos miúdos e apontámos para o 'Desperdício Zero'. No meio da recessão, o meu marido deixou o seu trabalho para iniciar uma empresa de consultoria de sustentabilidade. Eu tomei conta da casa e do nosso estilo de vida. Desde então temos vivido sem desperdício e desfrutado de uma vida baseada em experiências em vez de coisas.

Como descreve estes anos sem desperdício?

O ‘Desperdício Zero’ tem sido uma verdadeira epifania. Descobrimos que o ‘Desperdício Zero’ não é nada do que esperávamos que fosse, não é apenas bom para o ambiente, no geral, também nos faz mais saudáveis, poupa-nos uma incrível quantidade de tempo e de dinheiro. O que eu mais adoro neste estilo de vida é a simplicidade e o quão próxima fiquei da minha família.

A simplicidade voluntária veio mudar a nossa rotina diária destas formas: Simplificou imenso a nossa limpeza (dar um jeito à casa agora demora apenas uns minutos cada dia); tornou o nosso trabalho doméstico e profissional muito mais eficiente; permitiu-nos apreciar mais (a vida simples foca-se nas experiências e não nas coisas) e passamos a estar mais tempo todos juntos (jantamos sempre juntos). Até nos permitiu viajar mais por sermos capazes de arrendar a nossa casa quando estamos fora (a nossa roupa minimalista cabe nas malas), o que nos dá fundos para férias e escapadelas em família.

A recompensa maior a nível pessoal vem dos efeitos desta forma de viver, por exemplo, inspiramos as pessoas à nossa volta. Em 2010, depois de ter sido mencionada no The New York Times, tornei-me na “sacerdotisa do estilo de vida sem resíduos”. Desde então, tenho feito mais de 100 apresentações em mais de 20 países em cinco continentes e o meu estilo de vida tem sido falado na imprensa e nas televisões em todo o mundo, mostrando que viver sem desperdício é possível e inspirando milhares a fazerem o mesmo. O meu livro também inspirou a abertura de inúmeras lojas a granel e a implementação de alternativas 'Desperdício Zero' em todos os lugares. A jovem de 18 anos que eu era quando vim para os Estados Unidos não poderia adivinhar que iria lançar um movimento global um dia, ou que iria escrever um livro que iria ser traduzido em 12 línguas!

É fácil convencer as gerações mais jovens a adotar um estilo de vida semelhante ao seu? Como tem sido com os seus filhos?

A transição foi muito fácil para os nosso filhos, eles nem sequer notaram que estávamos a fazer o ‘Desperdício Zero’ até estamos já há meses a fazê-lo e depois disse-lhes o que estava a fazer de diferente. As crianças adaptaram-se muito bem. Para eles o ‘Desperdício Zero’ é normal (eles vivem há mais tempo sem desperdício do que com desperdício). Na mente deles, e corretamente, o 'Desperdício Zero' é maioritariamente da minha responsabilidade porque sou eu quem faz as compras para a família – o ‘Desperdício Zero’ começa mesmo fora de casa, quando decidimos consumir ou não consumir.

Eles apreciam muito viver desta forma minimalista desde o início porque reparam que, com menos, têm menos para escolher e mais tempo para brincar. Mais importante é que estão sempre disponíveis para viver experiências divertidas. Mesmo sendo jovens, já mergulharam entre dois continentes, fizeram escalada em gelo, passaram a noite debaixo do oceano. Para os respetivos 15º aniversários, o meu mais velho fez para-quedismo e o meu mais novo fez bungee-jumping. Não é só 'Desperdício Zero', mas uma vida plena que os torna diferentes dos outros. O que eu espero do Max e do Leo é que sejam conscientes sobre as decisões que fazem também quando estão fora de casa.

Para muitas pessoas, a Bea segue um modo de vida extremista. Como explica e mostra aos outros que é possível viver melhor com base nas experiências e não nos materiais?

As minhas apresentações, as redes sociais e as entrevistas à imprensa falam do tipo de vida que levamos. Mas também o mostro através das fotografias do nosso interior minimalista e de conversas que temos com os outros.

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