Estar ao ar livre pode mudar a forma como o cérebro funciona
Segundo um novo estudo, passear e apanhar ar fresco não altera só o humor, pode também modificar a forma como o cérebro funciona.
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Estar ao ar livre faz com que o cérebro se esforce mais e seja menos eficiente”, diz o professor de psicologia Kyle Mathewson, da Universidade de Alberta, no Canadá, que liderou o projeto de investigação publicado no ‘Jounal Brain Research’.
Para o estudo, Mathewson, juntamente com a aluna de pós-graduação Joanna Scanlon, monitorizou a atividade cerebral de 12 pessoas enquanto estas ouviam vários tipos de sons. Todos os envolvidos foram instruídos para pressionarem um botão quando ouvissem um de dois sons.
O exercício foi repetido duas vezes: primeiro, enquanto os indivíduos estavam sentados dentro de um laboratório, com pouca iluminação; depois, enquanto andavam de bicicleta na rua.
O objetivo era ver como o cérbero opera em dois ambientes diferentes, e se o seu funcionamento é influenciado por uma atividade ao ar livre, como andar de bicicleta.
Surpreendentemente, os investigadores concluiram que quando estavam no exterior, os cérebros dos participantes não respondiam tão eficazmente às tarefas apresentadas, talvez porque a atenção dos indivíduos estivesse a ser influenciada por outros estímulos.
Um tipo de onda cerebral comummente detetada quando o cérebro está a descansar ou a meditar, e que foi identificada enquanto o grupo estava no laboratório, desapareceu quando passaram para a rua, afirma Mathewson.
No exterior, “há o barulho do trânsito, carros e pessoas a circularem, ouvem-se os pássaros, veem-se as árvores e os prédios, para uns está frio, e para outros está calor” explica o professor.
“Todas estas sensações extra estão em competição com as outras tarefas que as pessoas tem em mãos, é normal que os indivíduos acabem por estar menos concentrados”, diz Mathewson. Estar no exterior, força o cérebro a trabalhar mais afincadamente para alcançar os mesmos resultados.
Porém, andar de bicicleta não pareceu afetar muito a atividade cerebral. Enquanto neste estudo, o grupo que estava no laboratório permaneceu sedentário, numa experiência anterior os indivíduos foram convidados a pedalar numa bicicleta estacionária. Contudo, a atividade cerebral não mostrou diferenças significativas, relativamente ao grupo seguinte que simplesmente permaneceu sentado e quieto na mesma sala.
Todavia, a falta de concentração que estar no exterior provocou ao mesmo grupo, não se deve apenas a estar simplesmente ao ar livre. Quando os investigadores, realizaram uma nova experiência, durante a qual fizeram passar uma gravação com sons de trânsito, dentro do laboratório, notaram novamente uma perda significativa de concentração.
O professor universitário salienta que é necessário prosseguir com a investigação para descobrir se estas mudanças que ocorrem ao nível intelectual são positivas ou negativas. Mathewson sublinha ainda que os resultados obtidos até agora poderão não se verificar em todos os ambientes exteriores. Por exemplo, estar ao ar livre, mas num parque ou no campo, poderá não stressar tanto o cérebro como estar num lugar público numa grande cidade.
Aliás, estudos anteriores associaram vários benefícios mentais que advém de se passar tempo ao ar livre e em contacto com a natureza. “ Neste caso estar no exterior pode não ter sido benéfico, porque estávamos num sítio barulhento, com muito trânsito”, diz, “mas se estivéssemos num contexto mais rural, os efeitos poderiam ter sido bem diferentes”.
Apesar do grupo ter conseguido completar na mesma as tarefas dadas enquanto estavam no exterior, ainda que mais lentamente a nível cognitivo, os investigadores estão a repetir a experiência recorrendo a tarefas mais desafiantes.
“Queremos aumentar o grau de dificuldade e ver até que ponto é que o cérebro aguenta”, afirma Mathewson.
De acordo com o professor, os últimos desenvolvimentos tecnológicos – a criação de equipamento pequeno e portátil de monitorização que pode ser transportado para o exterior – não só tornaram esse estudo possível, mas vão permitir outros estudos mais avançados. “Estes avanços vão permitir estudar o ser humano no seu habitat natural e não apenas dentro de um laboratório”, conclui Mathewson.
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