Há muitas expectativas sobre o que pode mudar com a nova ponte Hong Kong-Zhuhai-Macau.
Uns disseram acreditar que a economia desta região vai crescer exponencialmente e que os preços dos produtos vão baixar. Para outros, o sonho é viver em Macau e trabalhar em Hong Kong ou em Zhuhai. Uma coisa é certa: na região acredita-se que nada vai ser como dantes.
"É um dia histórico para Macau", declarou à Lusa João Afonso, enquanto esperava que as portas do edifício abrissem para comprar bilhete para Hong Kong e viajar nos três primeiros autocarros que esta manhã iniciaram a ligação na nova ponte.
"Como vivo em Macau e nasci em Macau acho que vai ser um dia muito importante para mim e para esta área da Ásia", afirmou empolgado João Afonso, confiante que a identidade de Macau não será perdida com a aproximação à China. "A identidade de Macau vai continuar", apontou.
A fazer lembrar a abertura de um festival ou mesmo de uma 'Black Friday' [temporada de compras natalícias com significativas promoções em muitas lojas e armazéns], assim que as portas abriram às 09:00 (02:00 em Lisboa), as pessoas começaram a entrar de forma acelerada e entusiasmada.
Muita gente tirava fotografias para assinalar o momento histórico, esperado há cerca de nove anos.
"Eu sou da China, mas vivo em Macau, e para mim este é um momento muito especial porque a abertura desta ponte vai pôr-me mais em contacto com o interior da China", disse Trang Zhang, de 28 anos, enquanto empunhava o bilhete de ida e volta, de Macau a Hong Kong, pelo qual pagou pouco mais de 13 euros.
Com informações também em português no posto fronteiriço, a viagem de autocarro para a antiga colónia britânica demorou menos de 45 minutos. Durante o percuro, poucos veículos circulavam na mega ponte, numa extensão total de 55 quilómetros.
"Saí da minha casa, na Avenida da Amizade [Macau] às 08:50 e cheguei a Hong Kong às 10:15 (...), a ponte fez-me poupar pelo menos uma hora para chegar ao aeroporto", explicou à Lusa, durante a viagem, Kavi Kchemlani.
A ligação vai ser assegurada por mais de 200 viagens diárias, a partir de Macau para Hong Kong e Zhuhai. Nas horas de maior movimento, o tempo de espera para apanhar o autocarro rondará os cinco minutos. Fora destes períodos, os autocarros sairão com um intervado de entre 10 a 15 minutos e de 15 a 30 minutos durante o horário noturno (00:00 e 06:00).
"Ao encurtar o tempo entre as três cidades isso vai ter um impacto muito positivo na economia e no turismo", argumentou o economista que vive em Macau há cerca de 20 anos, acrescentando que para os empresários e para os trabalhadores "vai ser ainda mais importante".
Contudo, Kavi Kchemlani disse acreditar que Macau "pode perder um pouco do seu charme".
"O que os observadores dizem e pelo que tenho ouvido, a China com esta ponte pode querer ganhar mais controlo e influência tanto em Hong Kong como em Macau", explicou.
Mas, por outro lado, com maior número de turistas "Macau pode ganhar outro tipo de charme", acrescentou.
No regresso a Macau, um estudante de marketing em Hong Kong, que se identificou como Chan, referiu que a mega ponte vai ter um impacto muito significativo na sua vida. "Tenho imensos amigos e alguma família em Macau, vai ser muito mais fácil estar com eles. Agora posso simplesmente ir almoçar a Macau e voltar no mesmo dia".
Chan afirmou que, por enquanto, não tem medo que a China ganhe mais força em Hong Kong, mas admitiu estar "expectante".
Vários observadores consideraram que o objetivo desta ponte, assim como de uma nova linha ferroviária de alta velocidade para o interior da China, inaugurada a 22 de setembro, é aumentar o controlo da China sobre Hong Kong, que tal como Macau, goza de autonomia alargada, liberdade de expressão e poder judicial independente.
A ponte é um marco do projeto de integração regional da Grande Baía, que visa criar uma metrópole mundial a partir dos territórios de Hong Kong, Macau e nove localidades da província chinesa de Guangdong (Cantão, Shenzhen, Zhuhai, Foshan, Huizhou, Dongguan, Zhongshan, Jiangmen e Zhaoqing).
A mega ponte, que não vai ser de livre circulação (sujeita a quotas), custou aos três governos, cerca de 1,9 mil milhões de euros, de acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post.