Água nas barragens em Cabo Verde dá para três a quatro meses

O ministro da Agricultura e Ambiente de Cabo Verde afirmou hoje que o nível da água nas barragens cabo-verdianas dá para três a quatro meses e que a reserva das águas dos lençóis freáticos é um terço do "normal".

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Lusa
16/11/2018 15:33 ‧ 16/11/2018 por Lusa

Mundo

Gilberto Silva

Gilberto Silva falava aos jornalistas no final da sessão de abertura da VIII Reunião Ordinária do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CNSAN), que decorre na cidade da Praia e tem como objetivo analisar as questões relativas à Agenda Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional.

Segundo o governante, os resultados do presente ano agrícola "não são bons", embora sejam "melhores que o ano passado".

"Houve uma má produção de milho e feijões, principais produtos de agricultura de sequeiro, na maior parte dos concelhos agrícolas", disse o ministro, sublinhando que se registou, contudo, melhorias "em termos de produção de pasto".

Exceto em algumas zonas, como as periféricas em Santiago e nas ilhas de Santo Antão e Boavista, é que não se registaram melhorias a esse nível, apesar de uma melhor produção.

No ano passado quase não choveu em Cabo Verde e a precipitação registada este ano ficou aquém das necessidades, pelo que os lençóis freáticos a níveis inferiores aos desejáveis.

"Ainda estamos muito aquém daquilo que é normal. E normal é cerca de 500 metros cúbicos de água por habitante por ano. Melhorámos muito pouco. Estaremos à volta de um terço do que seria normal", lamentou o ministro.

Ao nível das águas superficiais (barragens), a situação também "não é boa".

A água em algumas das barragens nem sequer ultrapassa a reserva técnica e em uma ou duas em que isso acontece o volume apenas garante um consumo de três a quatro meses, disse.

Por esta razão, o Governo está já a preparar medidas para atenuar a situação.

"O Governo vai continuar com medidas atenuadoras, mas vai apostar muito fortemente nas medidas de resiliência. Felizmente estamos a ultimar o acordo com a Hungria para o financiamento de projetos técnicos relacionados com a dessalinização das águas salubres e a reutilização das águas residuais tratadas de forma segura para a agricultura. Tudo isto vai ajudar a mitigar esses efeitos", acrescentou.

Em relação ao investimento que estas medidas exigem, Gilberto Silva disse que uma boa parte dos projetos vai ser direcionada para este tipo de atividades.

Para tal, deverão ser postos à disposição 600 milhões de escudos cabo-verdianos (cerca de 5,4 milhões de euros) para a "atenuação desses efeitos".

"Refiro-me aos projetos que têm que ver com a melhoria da situação alimentar dos animais, gestão da própria escassez da água e a continuar em alguns concelhos com medidas que promovam o trabalho público para as famílias terem alguma fonte de rendimento", prosseguiu.

Questionado sobre eventuais reflexos do mau ano agrícola, causado pela seca, do ano passado no estado nutricional dos cabo-verdianos, Gilberto Silva disse que as medidas mitigadoras aplicadas em 2017 garantiram um nível de fornecimento de produtos no mercado "em boa linha".

"Uma coisa é certa. Aqui depende-se bastante dos hábitos alimentares, das nossas tradições alimentares e é lá que temos de mudar. Não tem a ver com a disponibilidade dos alimentos nos mercados, mas sobretudo com a escolha e o acesso financeiro das famílias aos produtos", sublinhou.

Segundo dados do inquérito nacional sobre a vulnerabilidade alimentar e nutricional das famílias, divulgado hoje na cidade da Praia, apenas um terço da população cabo-verdiana come frutas e legumes, enquanto 6% das crianças menores de cinco anos têm excesso de peso e obesidade.

Presente na apresentação do estudo, o primeiro-ministro de Cabo Verde afirmou que, não obstante os ganhos, são ainda grandes os desafios, como "um quadro múltiplo de malnutrição, nomeadamente o atraso de crescimento de crianças menores de 5 anos e a existência de uma elevada prevalência da anemia".

A "sobrenutrição, especialmente a pré-obesidade nas crianças e na população adulta" e o "aumento das doenças crónicas não transmissíveis, devido a uma insuficiente prática da atividade física e a uma alimentação desequilibrada, com baixo consumo de frutas e vegetais" são outros desafios indicados pelo chefe do Governo.

 

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