"Porque é que devemos manter índios em reservas como se fossem animais?"

O Presidente eleito do Brasil, Jair Bolsonaro, afirmou hoje que manter índios em reservas demarcadas é tratá-los como animais nos jardins zoológicos, considerando que estão em "situação inferior" e temendo que as suas terras possam ser no futuro países.

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Lusa
01/12/2018 06:05 ‧ 01/12/2018 por Lusa

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Bolsonaro

"Ninguém quer maltratar o índio. Na Bolívia, um índio é Presidente [numa referência a Evo Morales, Presidente da Bolívia], porque é que no Brasil devemos mantê-los reclusos em reservas como se fossem animais em zoológicos?", questionou Jair Bolsonaro, acrescentando: "O índio é um ser humano igualzinho a nós".

Em declarações à imprensa, no decurso de uma visita a São Paulo, o futuro chefe de Estado do Brasil considerou que o índio ainda está "em situação inferior" à dos restantes brasileiros, o que não pode ser usado como justificação para a demarcação de uma "enormidade" de terras que poderão, no futuro, ser transformadas em "novos países".

"Não podemos usar o índio, que ainda está em situação inferior a nós, para demarcar essa enormidade de terras que, no meu entender, poderão ser, sim, de acordo com a determinação da ONU [Nações Unidas] novos países no futuro. Justifica, por exemplo, ter a reserva Yanomami duas vezes maior do que o tamanho do estado do Rio de Janeiro para, talvez, nove mil índios? Não se justifica", frisou o político da extrema-direita, em visita a uma comunidade religiosa.

Bolsonaro foi ainda questionado sobre a capacidade do futuro Governo de conseguir reduzir a desmatação e a emissão de gases de efeito estufa, metas que fazem parte do Acordo de Paris, relativo às alterações climáticas.

"Sobre o Acordo de Paris, nos últimos 20 anos, eu sempre notei uma pressão externa, e que foi acolhida no Brasil. Por exemplo, cada vez mais demarcar terra para índios, demarcar terra para reservas ambientais, entre outros acordos que, no meu entender, foram nocivos para o Brasil", exemplifico o antigo capitão do Exército.

O Presidente francês, Emmanuel Macron, avisou na quinta-feira que recusará assinar um acordo de comércio entre a União Europeia e o Mercosul se o Brasil sair do Acordo de Paris.

A posição foi assumida após uma reunião com o Presidente da Argentina, Maurício Macri, em Buenos Aires, onde líderes mundiais estão reunidos para participar na cimeira do G20, das 20 economias mais industrializadas do mundo.

"Não sou a favor de assinar acordos comerciais amplos com poderes que tenham anunciado que não respeitarão o Acordo de Paris", advertiu o chefe de Estado francês.

Na resposta, Jair Bolsonaro disse à imprensa que não pretende assumir compromissos ambientais que causem impacto no agronegócio brasileiro.

"Macron está a defender a França. Esse acordo Mercosul com a União Europeia atinge os interesses da França, um país voltado também para o agronegócio. A partir do momento que querem diminuir a quantidade de [produtos] exportáveis nossos, logicamente que não podem contar com o nosso apoio. Mas não é um não em definitivo, nós vamos negociar", afirmou Bolsonaro, citado pela agência Brasil, após participar numa cerimónia de graduação de sargentos da Força Aérea, em São Paulo.

Na sexta-feira, atual Presidente brasileiro, Michel Temer, mostrou-se a favor da permanência do país sul-americano no Acordo de Paris.

 

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