Plano dos EUA para economia palestiniana está "divorciado da realidade"

A organização de defesa dos direitos humanos Human Rights Watch (HRW) considerou hoje "um espetáculo secundário divorciado da realidade" o plano norte-americano para favorecer a economia palestiniana que é analisado no Bahrein esta semana.

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Lusa
24/06/2019 18:34 ‧ 24/06/2019 por Lusa

Mundo

Human Rights Watch

"O plano não dá resposta à mais significativa barreira ao desenvolvimento económico: os abusos israelitas dos direitos humanos dos palestinianos", declarou o diretor da HRW para Israel e a Palestina, Omar Shakir, num comunicado.

Os Estados Unidos coorganizam na terça-feira e na quarta-feira no Bahrein uma conferência sobre a componente económica do plano norte-americano para resolver o conflito israelo-palestiniano, que os dirigentes palestinianos boicotam.

Washington divulgou no sábado que o plano visa mobilizar 50 mil milhões de dólares (43,8 mil milhões de euros) para investimento e projetos de infraestruturas, e prevê a criação de um milhão de empregos numa década, sendo "o mais ambicioso esforço internacional para o povo palestiniano até à data".

Segundo Shakir, o plano norte-americano pretende desenvolver um "corredor ligando diretamente a Cisjordânia à Faixa de Gaza através de uma via principal e potencialmente uma linha férrea", mas este não será muito útil enquanto Israel continuar a impedir quase todos habitantes de Gaza (cerca de dois milhões) de viajarem.

"O problema não é a falta de estradas, mas as restrições israelitas e egípcias ao movimento que tornaram Gaza numa prisão a céu aberto", adianta aquele diretor da HRW.

Shakir dá um outro exemplo de como o plano não parece ter em conta a realidade no terreno, indicando que ele "fala da importância dos direitos de propriedade privada sem mencionar o roubo metódico das autoridades israelitas de milhares de hectares de terras privadas palestinianas na Cisjordânia para construir colonatos, ilegais segundo o direito internacional".

A HRW assinala ainda que Banco Mundial calculou em 2013 que as restrições discriminatórias israelitas numa área da Cisjordânia (a C, onde o controlo por parte de Israel é total) custavam à economia palestiniana "3,4 mil milhões de dólares (2,9 mil milhões de euros) por ano".

"Levantem essas restrições e em 10 anos será obtido quase o mesmo benefício económico do plano dos EUA sem se gastar um centavo. Com tais restrições em vigor, os projetos propostos estão destinados a fracassar, não importando quanto dinheiro é investido neles", indicou Omar Shakir.

O responsável da HRW lamenta também o facto da componente política do plano norte-americano, que o Presidente Donald Trump designou de "acordo do século", ainda não ter sido divulgada.

Shakir considera que acabar com o boicote israelita a Gaza, com mais de 10 anos, com os colonatos, com as restrições arbitrárias dos movimentos e as discriminações dos palestinianos "devia ser o ponto de partida" para um processo de paz.

 

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