Guerra entre Estados Unidos e Irão "é possibilidade remota"

Uma guerra entre os Estados Unidos e o Irão é considerada uma possibilidade remota pelo especialista em relações internacionais Carlos Branco, que aposta na continuação da ameaça do uso da força por parte de Washington.

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Lusa
27/06/2019 14:08 ‧ 27/06/2019 por Lusa

Mundo

Analistas

"Não partilho das visões alarmistas sobre a possibilidade de um conflito, pelo menos por agora", disse à agência Lusa o major-general na reserva e investigador do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI).

A tensão entre o Irão e os Estados Unidos tem vindo a subir no último ano, desde que Washington se retirou do acordo internacional sobre o nuclear iraniano e restabeleceu sanções à República Islâmica, que arruínam a sua economia.

Na semana passada a tensão voltou a aumentar com o derrube de um 'drone' (nave não tripulada) da Marinha norte-americana pelas forças iranianas. Os Estados Unidos chegaram a preparar um ataque aéreo retaliatório, cancelado à última hora pelo Presidente Donald Trump.

Carlos Branco afirma estar em curso "um exercício de diplomacia coerciva", com "a ameaça do uso da força para persuadir o oponente a abdicar dos seus propósitos".

O investigador admite, no entanto, que "os desenvolvimentos não são lineares", apontando a divisão da administração norte-americana entre o lado de Donald Trump, que diz ser "avesso a intervenções militares" e pretender "alterar o comportamento do Irão" trazendo-o para a mesa de negociações e procurando cedências ao nível do seu programa nuclear, e o do "grupo encabeçado por John Bolton (conselheiro para a Segurança Nacional) e por Mike Pompeo (secretário de Estado) que "advoga uma mudança de regime" em Teerão.

"Resta saber que posição irá prevalecer, porque os desenvolvimentos não são lineares", assinalou, indicando que "os belicistas vão tentar limitar a margem de manobra do Trump e empurrá-lo para uma solução militar criando pretextos para a guerra".

O major-general lembrou as sabotagens e ataques contra petroleiros na região do Golfo, atribuídas por Washington a Teerão, que desmente, e o abate do 'drone', para adiantar: "Poderá haver mais situações, mais provocações que se possam tornar em pretextos para a guerra e a partir daí Trump fica encurralado e sem muitas alternativas, mas para já não vai haver guerra".

Isto apesar de o especialista também não prever grandes cedências por parte do Irão.

"Mesmo algum ataque de objetivo limitado tenho muitas dúvidas que aconteça", disse Carlos Branco, referindo-se à possibilidade de um ataque dos Estados Unidos com mísseis a "instalações militares" iranianas, "precedido de ataques ao sistema de comando e controlo".

O investigador considera que os Estados Unidos iriam enfrentar "um inimigo que, apesar de ser militarmente mais fraco (...), tem uma capacidade de retaliação e de causar dano tremenda".

Aponta que "o sistema de defesa aéreo iraniano é extremamente poderoso", que a resposta da República Islâmica incluiria muito provavelmente o encerramento do estreito de Ormuz com consequências "dramáticas" para a economia mundial.

Um quinto do petróleo consumido no mundo e um terço do que transita por via marítima, bem como um quarto do comércio mundial de gás natural liquefeito passa por aquele estreito, que liga o Golfo ao mar de Omã, situando-se entre o Irão e o sultanato de Omã.

Além disso, segundo Carlos Branco, quando o Irão faz saber que vai "retaliar com todos os meios à sua disposição" a qualquer ataque "está subentendido que bases americanas noutros locais na região seriam igualmente atacadas, as milícias xiitas no Iraque não deveriam ficar inativas ou até o próprio (movimento xiita libanês) Hezbollah".

Quanto à possibilidade de os EUA apoiarem uma guerra contra o Irão lançada por aliados seus na região, como a Arábia Saudita ou Israel, considera-a "mais teórica que prática"

A Arábia Saudita (sunita, rival regional do Irão xiita) está envolvida na guerra do Iémen, "está com grandes dificuldades" e atacar o Irão seria criar "uma segunda frente", explicou, adiantando que do seu ponto de vista Israel "não se quer meter neste conflito".

Por tudo isto, Carlos Branco diz ter "uma razoável confiança e expectativa que não vai haver nenhum ataque" e que se está "no domínio da retórica, no domínio das ameaças e que isto não se vai materializar". "Para a alterar tem de haver alterações significativas que não estão à vista", disse ainda.

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