"Não é uma questão de não responder", mas de "não aceitar essas exigências", disse Carrie Lam em conferência de imprensa no Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong, antes da reunião semanal com o seu conselho executivo.
Na segunda-feira, a Chefe do executivo e os secretários da educação e assuntos internos estiveram reunidos com cerca de 20 pessoas, a maioria entre os 20 e 30 anos, sem ligações partidárias conhecidas, segundo o Jornal South China Morning Post.
Esta reunião, à porta fechada e sem aviso prévio, aconteceu dois meses depois de os sindicatos de estudantes universitários terem rejeitado a oferta de Lam para um diálogo.
De acordo com o mesmo jornal, que cita fontes que estiveram na reunião, alguns participantes disseram a Lam que não era necessário que satisfizesse todas as exigências de uma só vez: a retirada definitiva das emendas à lei da extradição, a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial, a demissão da chefe do Governo, Carrie Lam, e sufrágio universal nas eleições para chefe do Executivo e para o Conselho Legislativo (parlamento local).
De acordo com as mesmas fontes, citadas pelo jornal de Hong Kong, os participantes na reunião disseram a Lam que ela deveria começar por anunciar a retirada definitiva das emendas à lei da extradição e organizar um inquérito independente à violência policial.
A chefe do Executivo terá respondido que seria difícil retirar completamente a lei, mas não chegou a explicar os motivos.
Esta reunião aconteceu um dia depois de violentos confrontos nos subúrbios de Tsuen Wan, em que a polícia de Hong Kong recorreu ao uso de canhões de água e de um disparo com arma de fogo para o ar.
"Cercados, sob ataque e enfrentando perigo de vida, seis polícias retiraram as suas pistolas (...) A fim de proteger a própria segurança e de outros polícias, um agente disparou um tiro de advertência para o céu", lê-se num comunicado da polícia.
De acordo com o mesmo comunicado, pelo menos quinze agentes da polícia ficaram feridos durante os confrontos de domingo e dezenas de manifestantes, incluindo um menor de 12 anos, foram detidos por reunião ilegal, posse de armas e agressão.
Os protestos maciços de rua, que traduzem a maior crise política em décadas na cidade, acontecem desde o início de junho, e alguns deles terminaram em confrontos violentos entre a polícia e manifestantes.
Ainda na conferência de imprensa de hoje, Lam reiterou que quer estabelecer uma plataforma de diálogo com os manifestantes, mas avisou que se os protestos violentos continuarem vai usar todos os meios legais para os enfrentar.
"Devemos estar preparados para comunicar com diferentes pessoas da sociedade", afirmou Carrie Lam em conferência de imprensa no Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
"Temos de dizer não à violência, queremos pôr um fim a esta situação caótica em Hong Kong", afirmou, acrescentando que não vai desistir da construção de uma plataforma de diálogo.
A líder do executivo da antiga colónia britânica reiterou, contudo, que começar um diálogo não significa desculpar a violência. "Se a violência continuar, a única coisa que devemos fazer é estancar a violência através de ações que imponham a lei", sublinhou.
Para sábado está marcado uma nova manifestação, organizada pelo movimento liderado os grandes protestos em Hong Kong, para assinalar os cinco anos do veto de Pequim à possibilidade de sufrágio universal na ex-colónia britânica, apesar da possibilidade do território poder ser atingido por um tufão.
Em declarações hoje à Lusa, a porta-voz da Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), Bonnie Leung, disse que a convocatória da manifestação se mantém, mas admitiu que o tufão pode ter impacto na capacidade de mobilização do protesto.
Numa nota, à qual Lusa teve acesso, a Frente Cívica de Direitos Humanos (FCDH), convocou uma marcha com início em Chater Garden, no centro da cidade, e que termina em frente ao Gabinete de Ligação de Pequim em Hong Kong, que já foi alvo de anteriores protestos.
"Há cinco anos, o Congresso Nacional do Povo bloqueou o nosso caminho para eleições livres. A sua tentativa de nos privar do sufrágio universal (...) desencadeou o movimento Occupy", apontou a FCDH, referindo-se aos protestos em 2014, durante os quais se defendeu um processo eleitoral mais democrático no território, naquela que ficou conhecida como a 'Revolução dos Guarda-Chuvas'.
A transferência de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio "um país, dois sistemas", precisamente o que os opositores às alterações da lei da extradição garantem estar agora em causa.
Para aquela região administrativa especial da China foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judiciário, sendo o Governo central chinês responsável pelas relações externas e defesa.