A poucos dias de início do debate parlamentar sobre a nova lei da imigração, previsto para 30 de setembro e 02 de outubro, o Presidente assegurou na segunda-feira durante uma reunião perante cerca de 200 deputados e senadores da sua formação, A República em Marcha (LREM), e aliados, que a França tem de ser mais firme na aplicação da lei, em particular no acolhimento de refugiados.
"Não podemos desviar o olhar deste assunto", disse Macron, ao considerar que essa atitude, que se prolongou durante anos, forneceu argumentos à extrema-direita.
A poucos meses das eleições municipais em março de 2020, as primeiras que serão disputadas pelo novo partido presidencial, Macron apelou à sua formação para evitar converter-se "num partido burguês" porque a imigração "não afeta dos burgueses", que "não frequentam as ruas", ao contrário das classes populares, "que vivem com ela".
"A esquerda não quis enfrentar o problema durante décadas. As classes populares aderiram à extrema-direita", indicou.
O Governo francês considera que o número de pedidos de asilo disparou em França, enquanto está em recuo no resto da Europa. O país registou um aumento de 23% dos pedidos de asilo em 2018, designadamente com processos albaneses e georgianos, que os poderes públicos consideram largamente infundados.
"Ao pretender-se ser humanista, somos por vezes demasiado laxistas", considerou Macron no início da sua ofensiva sobre a imigração, um tema que não pretende que seja exclusivo da direita mais radical.
O seu discurso, que pode assinalar um endurecimento da política de asilo no país, foi comparado com o emitido pelo seu antecessor conservador, Nicolas Sarkozy.
Marine Le Pen, líder da União Nacional (RN, ultra-direita), recordou hoje que nas vésperas de eleições Sarkozy agitou o fantasma da imigração, mas não atuou de forma firme após se instalar no poder.
No entanto, as críticas mais contundentes vieram da esquerda, que acusou Macron de assumir o discurso da extrema-direita que diz pretender combater.
"Ao adotar o perfil da União Nacional, o Presidente Macron que queria ser um muro converte-se numa passarela desse partido", afirmou o líder do Partido Socialista, Olivier Faure.
A senadora ecologista Esther Benbassa assegurou que "Sarkozy voltou" e criticou a posição de Macron, que pretende combater Le Pen adotando as suas políticas.
O dirigente do Partido Comunista (PCF) susteve que o Presidente pretende relacionar os problemas da classe operária com a imigração num momento em que aumentam os protestos sociais contra algumas das reformas do Executivo.
O ressentimento face a uma imigração "demasiado forte" está mais presente entre as designadas classes populares. Segundo o último barómetro anual Ipsos/Sopra Steria, divulgado segunda-feira, 64% dos franceses têm a impressão de "que já não se sentem em sua casa como antigamente" em França.