"Dissemos que não temos nenhum problema em apresentar a demissão, mas se o Governo renuncia sem que haja um substituto rápido e fácil, o que faríamos? O Governo continuaria, iria converter-se num Governo em funções", afirmou Adel Abdelmahdi à imprensa local após uma reunião com o seu gabinete.
Segundo ele, se o Parlamento não encontrar substituto, o executivo será incapaz de concretizar qualquer projeto, mostrando-se preocupado com a conclusão do Orçamento de Estado para 2020.
Adel Abdelmahdi recordou que a segunda opção é a dissolução do órgão legislativo e a consequente convocação de eleições antecipadas num prazo de 60 dias.
A pressão sobre o primeiro-ministro iraquiano tem aumentado nos últimos dias devido a uma vaga de manifestações que exigem uma revisão do sistema político estabelecido após a invasão liderada pelos EUA em 2003, acusando o Governo e os principais partidos políticos de corrupção e responsabilizando a elite política pelas elevadas taxas de desemprego e pelos fracos serviços públicos.
"Estes protestos resumem todos os erros desde 2003 (invasão dos EUA) e refletem todas as acumulações no corpo económico, legislativo, político e social. As crises anteriores eram sempre tratadas com outras crises maiores, eram soluções temporárias", acrescentou o chefe do Governo.
As forças de segurança têm reprimido as manifestações de forma violenta, com gás lacrimogéneo, balas de borracha, mas também munições reais, o que resultou na morte de pelo menos 267 pessoas, desde outubro, nas duas fases de protestos, concentradas sobretudo na capital, Bagdad, e na maior parte do sul xiita do país.
Apesar das críticas à repressão policial, Abdelmahdi apelou ao respeito daqueles que pedem demandas "legítimas", considerando ainda que alguns estão a aproveitar-se da atual situação do país.
"Isso pode acontecer durante um tempo determinado para exercer pressão e expressar demandas, mas a sua permanência por muito tempo prejudica o país e aumenta os preços", afirmou o dirigente político.
Estava previsto que o chefe do Governo fosse ao Parlamento na passada quinta-feira, mas Abdelmahdi não compareceu e o presidente da Câmara dos Representantes, Mohamed al-Halbousi, anunciou no sábado que os deputados irão reunir-se em sessão permanente para abordar a situação e responder às solicitações do povo.
No mesmo dia em que o primeiro-ministro deveria ter comparecido no parlamento, o Presidente iraquiano, Barham Saleh, manifestou-se favorável à convocação de eleições antecipadas e confirmou que Abdelmahdi estava disposto a apresentar a sua demissão.
O Iraque é governado por um sistema político sectário que distribui poder e altos cargos entre a maioria xiita, sunitas e curdos. Realiza eleições regulares, mas são basicamente dominadas por partidos religiosos sectários, muitos dos quais com relações próximas com o Irão.
Os partidos políticos dividem ministérios e distribuem empregos aos seus apoiantes, contribuindo para um setor público incapaz de providenciar serviços de qualidade.