EUA/Irão: Entre o ataque que já devia ter acontecido e a calma na tensão

O ataque aéreo das forças norte-americanas que culminou na morte do principal general iraniano gerou uma escalada de tensão entre Washington e Teerão. Os Estados Unidos justificam o ataque, Israel elogia e os governos de Reino Unido, Alemanha, França e China pedem “calma” e mostram-se preocupados.

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Fábio Nunes
03/01/2020 16:22 ‧ 03/01/2020 por Fábio Nunes

Mundo

EUA/Irão

O mundo acordou esta sexta-feira para um xadrez geopolítico ainda mais tenso no Médio Oriente. As forças norte-americanas realizaram um ataque com um drone em Bagdade, no Iraque, que teve como alvo o general Qasem Soleimani, o principal general iraniano e o comandante da força de elite iraniana Al-Quds. Para além de Soleimani, o ataque causou a morte a mais sete pessoas.

O Irão não perdeu tempo a prometer uma “vingança implacável” por esta ação dos Estados Unidos. A já tensa relação entre Washington e Teerão escalou sobremaneira e deixa no ar a possibilidade de um conflito.

Pouco depois do ataque, Donald Trump publicou no seu Twitter a imagem da bandeira dos Estados Unidos. Passaram várias horas até que Trump voltasse ao seu meio de comunicação preferencial para proferir as primeiras palavras sobre a operação militar norte-americana. O tom não podia ser mais provocatório.

“O Irão nunca ganhou uma guerra, mas nunca perdeu uma negociação!”, escreveu o presidente, que aproveitou para dar uma alfinetada em Barack Obama por causa do acordo nuclear com o Irão, o mesmo que Trump sempre criticou e que acabou por rasgar.

“O general Qasem Soleimani matou ou feriu gravemente milhares de americanos durante um longo período de tempo e planeava matar muitos mais... mas foi apanhado! (…) Ele já deveria ter sido abatido há muitos anos!”, frisou Trump.

Mike Pompeo, Secretário de Estado norte-americano, afirmou em declaração à CNN que os iranianos e os iraquianos deviam encarar esta ação dos Estados Unidos como uma ação que “lhes dá liberdade”. “O mundo é um lugar mais seguro hoje”, enfatizou.

Um aliado habitual, Israel, elogiou a operação que matou Soleimani. “Tal como Israel tem direito à autodefesa, os Estados Unidos tem exatamente o mesmo direito”, disse o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que referiu que “Trump merece todo o crédito” por esta operação.

Potências mundiais querem redução na escalada de tensão

Outros países tiveram uma posição diferente. A Alemanha mostrou-se preocupada com as possíveis consequências que podem ser espoletadas com a morte do general iraniano. “Nós estamos num nível perigoso da escalada de tensão e agora é importante contribuir para uma redução desta com cautela e contenção", declarou Ulrike Demmer, porta-voz da Chancelaria alemã.

Dominic Raab, o ministro dos Negócios Estrangeiros britânico, falou em nome do governo do Reino Unido e pediu “a todas as partes envolvidas que diminuam a tensão”. A França quer “estabilidade” no Médio Oriente. “Estamos a acordar num mundo mais perigoso. A escalada militar é sempre perigosa”, reforçou Amélie de Montchalin, a secretária de Estado francesa para os Assuntos Europeus.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia considerou o “o assassínio de Soleimani (…) um passo arriscado”, enquanto que o Ministério da Defesa russo descreveu o ataque aéreo como sendo mau a “curto prazo” e alertou para as “graves consequências” que pode ter para o “sistema de segurança internacional”.

De Pequim veio um pedido de “calma”. “A China há muito tempo que se opõe ao uso da força nas relações internacionais", assentiu Geng Shuang, porta-voz da diplomacia chinesa.

António Guterres, secretário-geral da ONU, foi perentório. “O mundo não pode permitir outra guerra no Golfo”, realçou. Por sua vez, Charles Michel, presidente do Conselho Euroepeu, apelou ao fim do “ciclo de violência, provocações e retaliações no Iraque”.

As consequências imediatas do ataque norte-americano

Nas ruas de Teerão, a morte do general Soleimani gerou protestos. Milhares de pessoas manifestaram-se contra os “crimes” dos Estados Unidos.

Notícias ao Minutonticos de "Morte à América" foram ouvidos nas ruas da capital iraniana© Reuters

Com receio de represálias, a embaixada dos Estados Unidos no Iraque pediu aos seus cidadãos para deixarem o país e as unidades diplomáticas norte-americanas no Paquistão, no Bahrain e no Kuwait emitiram alertas aos seus funcionários, pedindo-lhes para “serem discretos” e “evitarem multidões”.

Os próximos dias (ou até as próximas horas) dirão se este ataque dos Estados Unidos foi o xeque-mate nas relações com o Irão. 

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