Mais de cem crianças acusadas de práticas de feitiçaria nas províncias de Cabinda, Zaire, Malanje e Bengo, em Angola, nos últimos três anos, foram atiradas aos rios pelos familiares, escreve o Jornal de Angola, citando informações de uma equipa do Centro de Estudos e Investigação em População (CEIP) do país.
Em declarações ao jornal, o director do CEIP, Ndonga Mfuwa, disse ter constatado no terreno que muitos pais e encarregados de educação lançam os filhos aos rios para serem depois devorados pelos jacarés, alegando serem feiticeiros.
Alguns destes pais, de acordo com o investigador, acusam os filhos de feiticeiros e expulsam-nos do seio familiar.
Ndonga Mfuwa explicou que os dados foram obtidos mediante um trabalho realizado em vários município do país, com destaque para as províncias do Norte, como Cabinda, Zaire, Uíge, Bengo e Malanje, onde considerou endémico o fenómeno da 'feitiçaria'.
O responsável frisou que o fenómeno 'feitiço' deve ser combatido para evitar que as crianças se desenvolvam na sociedade de forma desequilibrada. "Como investigadores, vamos trabalhar com as autoridades civis e do Estado para pôr termo a este fenómeno", garantiu Ndonga Mfuwa.
Há cerca de um ano, aquando da aprovação da nova lei sobre Liberdade de Religião, Crença e Culto em Angola, foi referido um estudo sobre o crescente fenómeno de acusação de crianças de práticas de feitiçaria, que atingiu o auge na sequência do primeiro grande fluxo de informações e notícias sobre a questão em 2000, quando foi publicado um relatório sobre a situação em três províncias angolanas - Luanda, Uíge e Zaire.
"Constatou-se que as crianças acusadas de feitiçaria são, de uma forma geral, as pessoas mais frágeis e marginalizadas dentro das famílias vulneráveis. Os casos observados demonstram que existem grupos de crianças expostas a um maior risco de serem acusadas, tanto no contexto familiar como comunitário", lê-se no documento.
O impacto social do fenómeno, prossegue-se no texto, levou à desagregação familiar, ao abandono familiar, à fuga de crianças dos lares para a rua, "supostamente em busca de sossego, tornando-as propensas à instrumentalização para a prática do crime e vulneráveis à prostituição infantil e ao uso de drogas".