A primeira vez que um médico colocou a possibilidade da cidade de Wuhan, na China, estar na presença de um possível surto viral foi Li Wenliang, no dia 30 de dezembro do ano passado, através de uma mensagem que deixou num grupo de antigos colegas de faculdade, na aplicação de conversação WeChat.
O médico de 34 anos escreveu aos colegas, também médicos, que sete pessoas que ficaram doentes num mercado local tinham sido diagnosticados com um vírus semelhante ao SARS (síndrome respiratória aguda grave) e que estavam de quarentena no hospital onde trabalhava.
Wenliang ainda disse mais. Disse que, de acordo com as análises que tinha visto, o vírus era um coronavírus - a extensa família de vírus que podem causar doença no ser humano, muitos deles já conhecidos e identificados, como o SARS, que causou uma pandemia na China em 2003 - resultando em 774 mortes, depois de uma tentativa de ocultação de informação por parte do governo chinês.
"Eu só queria lembrar os meus colegas de universidade para terem cuidado", justificou à CNN o profissional de saúde, que trabalha em Wuhan, capital da província de Hubei e epicentro do surto viral, que já ceifou 426 vidas e deixou mais de 20.400 infetados.
Li Wenliang quando ainda estava a tratar doentes infetados com o coronavírus© Reprodução
Porém, numa questão de horas, conforme explica a CNN, capturas de ecrã das mensagens do médico já estavam a circular nas redes sociais chinesas e tornaram-se virais, sem o seu nome ser apagado. Wenliang foi um dos oito médicos detidos em janeiro pela polícia de Wuhan, que os acusava de espalhar rumores, e foram aconselhados a manter silêncio sobre o caso.
Li Wenliang está agora nos cuidados intensivos num hospital, em Hubei, tendo confirmado no sábado que contraiu o vírus. O diagnóstico criou uma onda de indignação na China, com muitas críticas à censura estatal em torno da doença e à demora inicial em avisar o público.
Sublinhe-se que as autoridades chinesas deram o vírus como identificado no dia 7 de janeiro e só decretaram o isolamento total de Wuhan a 23 de janeiro, medida que depois se estendeu a mais de 15 cidades da mesma região. Estando o país em plena celebração do Ano Novo Chinês, milhares de pessoas entraram e saíram da província (e do país) desde o começo da infeção até ao final de janeiro.
A OMS declarou uma situação de emergência de saúde pública de âmbito internacional por causa do surto do novo coronavírus (2019-nCoV) no dia 30 de janeiro, deixando agradecimento e elogios às autoridades chinesas por terem colaborado com as entidades internacionais.