"Cada atraso no transporte de suprimentos, devido ao bloqueio das fronteiras, põe os profissionais de saúde em perigo e os doentes em risco acrescido. Um mercado europeu unificado deve facilitar a luta europeia conjunta contra a pandemia de COVID-19", refere em comunicado a Sociedade Respiratória Europeia (ERS, na sigla em inglês).
A ERS junta-se ao apelo dos que têm feito soar o alarme a propósito do controlo das fronteiras e das proibições de exportação, que considera ter um grande impacto na livre circulação de dispositivos médicos essenciais em toda a Europa.
"As fronteiras não devem ser barreiras nesta luta", adianta a sociedade europeia que congrega médicos, profissionais de saúde, cientistas e outros especialistas que trabalham em medicina respiratória representando mais de 160 países.
Este apelo surge na sequência de alguns relatórios que constatam o facto de as exportações de dispositivos médicos - incluindo máscaras e outros equipamentos de proteção individual, respiradores, ventiladores, kits de teste e consumíveis - estarem a ser interrompidas devido às proibições de exportação dentro da União Europeia e que foram aplicadas por vários Estados-membros
O presidente da ERS, Thierry Troosters, afirmou que "as restrições nas fronteiras representam um fardo desnecessário e perigoso para os sistemas de cuidados intensivos que já estão a enfrentar desafios sem precedentes".
"Os esforços incansáveis dos nossos médicos e intensivistas da área respiratória deixarão de ser eficazes se não puderem confiar nos princípios do mercado interno, na solidariedade entre os Estados-membros e na cadeia transfronteiriça de suprimentos médicos essenciais", frisou Thierry Troosters em comunicado.
Segundo a Sociedade Respiratória Europeia apesar da introdução do regime de autorização de exportação em toda a Europa, alguns Estados-membros mantiveram as suas proibições de exportação.
Além disso, alguns Estados-membros introduziram controlos ou começaram a impedir a passagem de camiões nas suas fronteiras, o que coloca em risco o fluxo livre de suprimentos e medicamentos essenciais.
Tais ações, alerta a ERS, "violam, não apenas os princípios do mercado interno, mas também colocam em risco a população europeia, atrasam a batalha efetiva contra o vírus SARS Cov2 e, principalmente, impõem uma pressão desnecessária aos profissionais de saúde".
"O impacto da proibição das exportações vai ser sentido pelos sistemas de saúde de todo o mundo, uma vez que as cadeias de suprimentos globais estão interligadas. Isto vai colocar desnecessariamente inúmeras vidas em risco. As instituições da UE e os governos devem agir rapidamente, apoiando o comércio livre e transporte de mercadorias, para permitir a livre circulação de suprimentos médicos em todas as regiões", alertou o presidente da sociedade.
A ERS apela ainda a todos os Estados-membros para agirem no melhor interesse da saúde pública europeia, respeitando sempre os princípios do mercado interno, em particular para os suprimentos que salvam vidas em outros Estados-membros em todas as linhas de assistência à saúde.
"Apelamos à Comissão Europeia para promover plenamente as diretrizes recentemente adotadas sobre as fronteiras, de forma a garantir o mais possível o fluxo livre e facilitado dos dispositivos médicos essenciais e aplaudimos o sucesso muito recente no estabelecimento de corredores para o transporte de suprimentos médicos através das chamadas Green Lanes", advoga Thierry Troosters.
"Esperamos que os países respeitem as diretrizes da Green Lane e que garantam que esses corredores permaneçam intactos durante a pandemia", frisou.
O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou perto de 450 mil pessoas em todo o mundo, das quais morreram mais de 20.000.
Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.
O continente europeu, com cerca de 240.000 infetados, é aquele onde está a surgir atualmente o maior número de casos, e a Itália é o país do mundo com mais vítimas mortais, com 7.503 mortos em 74.386 casos registados até hoje.
Em Portugal, de acordo com o balanço feito na quarta-feira pela Direção-Geral da Saúde (DGS), registam-se 43 mortes, mais 10 do que na véspera (+30,3%), e 2.995 infeções confirmadas.
Dos infetados, 276 estão internados, 61 dos quais em unidades de cuidados intensivos, e há 22 doentes que já recuperaram.
Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, encontra-se em estado de emergência desde as 00:00 de 19 de março e até às 23:59 de 02 de abril.