O Governo do Afeganistão e os talibãs procuram um entendimento para restabelecer a paz no país, que passa pela troca de 5.000 prisioneiros dos talibãs por 1.000 prisioneiros das forças afegãs, no âmbito de um acordo de paz iniciado com os Estados Unidos.
Na última semana, e pela primeira vez em 18 anos, talibãs e governantes afegãos negociaram o processo de troca de prisioneiros, mas sem chegarem a uma conclusão.
"Enviámos uma equipa técnica à Comissão de Prisioneiros de Cabul para identificar os nossos detidos. (...) Infelizmente, a sua libertação foi adiada por um motivo ou por outro até agora", escreveu na sua conta da rede social Twitter Suhail Shaheen, porta-voz talibã, para justificar o abandono das negociações.
"Como resultado, a nossa equipa técnica não participará em mais reuniões estéreis" a partir de hoje, disse Shaheen.
Os rebeldes talibãs sempre se recusaram a reconhecer oficialmente o Governo afegão, que descrevem como sendo um "fantoche" de Washington, referindo-se à forte influência norte-americana.
Apesar disso, os talibãs aceitaram negociar uma troca de prisioneiros, permitindo que essa condição ficasse inscrita no acordo de paz assinado com os Estados Unidos, em 29 de fevereiro, em Doha.
Nesse acordo, Washington prometeu retirar as suas forças do Afeganistão, nos 14 meses seguintes, desde que os talibãs respeitem os compromissos de segurança e iniciem um diálogo inter-afegão.
Matin Bek, membro da equipa de negociação nomeada pelo Governo para manter conversas com os insurgentes, disse segunda-feira que a troca de prisioneiros fora adiada porque os talibãs exigem a libertação de 15 dos seus "comandantes de alta patente".
"Não podemos libertar os assassinos do nosso povo", disse Bek, acrescentando que não aceitará que esses prisioneiros regressem aos campos de batalha.
O Governo afegão disse estar pronto para libertar até 400 prisioneiros "inofensivos" dos talibãs, em troca de uma redução "dramática" da violência na região, mas a proposta foi recusada pelos talibãs.
David Faisan, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional do Afeganistão, escreveu na sua conta da rede social Twitter que "o abandono da mesa de conversações indica falta de seriedade nas negociações de paz", assegurando ao mesmo tempo que as autoridades de Cabul estão determinadas a prosseguir o esforço de paz.
No domingo, os talibãs acusaram Cabul de violar o acordo de Doha e de ser "irresponsável", assinalando a mesma posição que têm mantido desde a assinatura do tratado de Doha, após a qual realizaram centenas de ataques contra forças de segurança afegãs.