Covid-19 não deteve os protestos sociais na Venezuela

A pandemia de coronavírus não deteve os protestos sociais na Venezuela, país que está em quarentena preventiva desde março, mês em que os venezuelanos realizaram 580 manifestações, segundo o Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais (OVCS).

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Lusa
10/04/2020 21:30 ‧ 10/04/2020 por Lusa

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"A crise no sistema de saúde, o colapso dos serviços básicos, a inflação nos preços dos alimentos e os salários baixos agravaram-se com a chegada da covid-19", explica um relatório divulgado em Caracas.

Segundo o OVCS, os venezuelanos, "hoje mais do que nunca querem ser ouvidos" e por isso realizaram "580 protestos em março de 2020", em média "19 por dia", mas 74% menos que os 2.038 registados no mesmo período do ano passado.

O documento explica que "133 (23%) protestos registaram-se durante a quarentena coletiva contra o coronavírus, entre 13 e 31 de março".

Segundo o OVCS, apesar dos riscos da pandemia "a emergência humanitária complexa que afeta a Venezuela compromete direitos fundamentais, como alimentação e os serviços básicos, levando os cidadãos a expressarem-se para chamar a atenção das autoridades e para encontrar uma solução para as suas necessidades".

"Esta situação converte-se num motivo de preocupação perante uma eventual extensão da medida de isolamento social, uma vez que, para as famílias, é difícil enfrentar a covid-19 com um sistema de saúde deficiente, alimentos e produtos de higiene a altos preços, salários com baixo poder aquisitivo, serviços públicos colapsados e escassez de gasolina", lê-se.

Os estados venezuelanos que registaram um maior número de protestos foram Anzoátegui e Mérida, com 53 manifestações, cada um. Seguem-se o distrito Capital (46), Miranda (43) e Monágas (39).

Por outro lado, os protestos caraterizaram-se por ações de ativistas sociais e políticos da oposição, para apresentar a "Declaração Nacional de Conflitos", e a mobilização de afetos ao regime de Nicolás Maduro contra as sanções emitidas pelo governo dos Estados Unidos contra as autoridades venezuelanas.

Entre outros motivos estão a escassez e o controle na distribuição de gasolina que gerou longas filas no país e a discricionariedade dos funcionários da Guarda Nacional Bolivariana (polícia militar) encarregada de supervisionar a venda de combustível, que ameaçou a prestação de serviços médicos, comerciais e o transporte de alimentos.

"A quarentena social obrigatória, a demanda da restituição urgente de serviços básicos como a água potável, o gás doméstico e a eletricidade para evitar a covid-19", foram outros motivos.

Os trabalhadores dos sindicatos da saúde, educação e de reformados protestaram para exigir melhores salários, assim como infraestruturas hospitalares adequadas e materiais de segurança para lidar com a pandemia.

"A falta de resposta motivou os manifestantes a manterem-se em protesto, mesmo estando em vigor o decreto de confinamento obrigatório. Apresentaram-se com máscaras improvisadas, mantendo uma distância prudente, mas todos unidos em uma só voz para demandar os seus direitos", concluiu.

A Venezuela tem oficialmente 171 casos e nove mortes associadas à infeção pelo novo coronavírus.

O país está desde 13 de março em estado de alerta, o que permite ao executivo decretar "decisões drásticas" para combater a pandemia. O estado de alerta foi decretado por 30 dias, que podem ser prolongados por igual período.

Os voos nacionais e internacionais estão restringidos no país.

Desde 16 de março que os venezuelanos estão em quarentena, estando impedidos de circular livremente entre os 24 estados do país.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já provocou a morte a mais de 100 mil pessoas e infetou mais de 1,6 milhões em 193 países e territórios.

Dos casos de infeção, mais de 330 mil são considerados curados.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

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