Foi no dia 14 de março que os espanhóis foram obrigados a permanecer em casa. Por esta altura, lembra o El Pais, a Covid-19 era já uma ameaça mortal, tendo contagiado já 6.200 pessoas e matado 191 em território espanhol.
Nessa noite, às 22h00 em ponto, e com as ruas desertas, milhares por todo o país saíram até as suas varandas ou janelas e aplaudiram os profissionais de saúde.
A convocatória tinha sido feita sobretudo através de grupos de WhatsApp e à hora certa lá estava, quase todo o país, pronto a responder ao apelo. Desde então, já se passaram 51 dias, e em todos estes dias a homenagem repetiu-se. E alastrou-se um pouco por todo o mundo.
O gesto foi notícia na imprensa internacional e desde então repetiu-se da Índia a Nova Iorque, e com passagem também por Portugal. "Foi emocionante. E continua a sê-lo", refere um enfermeiro do hospital Gregorio Marañón de Madrid. Os enfermeiros espanhóis, saliente-se, são os mais afetados pelo novo coronavírus, sendo que 20% destes profissionais foram infetados.
Os aplausos deram início a uma espécie de novo convívio social em que vizinhos se conheceram e passaram a coabitar de uma forma diferente. Deu-se azo a espectáculos ao vivo através das varandas, festejaram-se aniversários à janela, tudo isto proporcionado pela nova realidade em que se vive.
"Os doentes não estão sozinhos nem, tampouco, estão os enfermeiros. Esses aplausos, com a sua pontualidade, respeito e gratidão recordam-nos aquilo que somos e o que fazemos", afirma a chefe de Medicina Intensiva do hospital de Torrejón, para quem estes aplausos foram uma forma de todos poderem partilhar a mesma situação complicada em que viviam.
Hoje, em Espanha, e também em Portugal, dá-se início a uma nova fase da vida pós-vírus e em que, calmamente, se tenta retomar a normalidade. Contudo, para sempre na memória de todos permanecerão também os momentos bons desta fase difícil, e a homenagem em aplausos será por certo um desses momentos que jamais serão esquecidos.